A Federação Internacional de Automobilismo conseguiu desagradar a todos com as medidas que anunciou no fim de semana do GP do Canadá para diminuir os saltos dos carros da F1. Mesmo que nenhuma medida tenha entrado em vigor ainda, já foi o suficiente para discussões acaloradas e suspeitas nos bastidores em Montreal.
Toto Wolff chegou a se exaltar na reunião entre os chefes de equipe do sábado, em uma discussão que começou mais generalizada e depois se focou em Christian Horner e Mattia Binotto. A bronca do austríaco era com as insinuações de que seus pilotos estavam reclamando tanto de dores e do perigo gerado pelos saltos dos carros por instrução da própria equipe, para tentar forçar a FIA a mudar as regras. A Mercedes é o carro que mais sofreu com estes pulos no Azerbaijão, antes da reação da entidade, algo que não se repetiu na mesma intensidade neste fim de semana. Para os rivais, isso comprova que se tratava só de uma questão de configurar o carro de maneira mais segura.
A discussão só evidenciou o momento da F1: algumas equipes têm colocado os pilotos em uma posição difícil de aceitar correr com dores para terem um carro mais rápido.
A intervenção da FIA veio por conta disso, mas feita às pressas, sem comprovação médica e sem parâmetros determinados, só causou mais polêmica.
Se, por um lado, a Mercedes inicialmente foi vista como a grande prejudicada pela diretiva técnica anunciada na quinta-feira, os rivais não gostaram nada quando viram, já no dia seguinte, os carros do time com uma segunda haste para diminuir o movimento do assoalho, algo que só tinha sido permitido no dia anterior.
Essa haste permite deixar o assoalho mais estável mesmo se ele estiver andando bem próximo do solo, o que, pelo menos em teoria, resolveria dois problemas de uma vez: o carro tenderia a saltar menos sem perder performance.
A haste em si não é algo difícil de instalar no carro, mas o que gerou a desconfiança foi a sofisticação da solução da Mercedes, algo que não seria factível de um dia para o outro, segundo os rivais. A polêmica só não se estendeu para a classificação e a corrida porque o time decidiu não correr com a novidade, alegando que ela não tinha surtido o efeito esperado.
De qualquer maneira, os rivais estão de olho desde que Shaila-Ann Rao assumiu o cargo de Peter Bayer na FIA como secretária geral de esporte. A advogada trabalhava na entidade entre 2016 e 2018, quando foi justamente para a Mercedes. Na equipe, era conselheira de Toto Wolff até recentemente, quando retornou à federação.
Mas a polêmica sobre a tentativa da FIA de intervir na questão dos saltos não para por aí e é algo que une a Mercedes às outras equipes. A ideia da entidade era determinar junto das equipes uma métrica que estabeleceria um limite de movimento do assoalho e, se um carro estivesse acima deste limite no sábado durante o terceiro treino livre, o carro teria de ser levantado em 10mm. Apesar de parecer pouco, já é algo que traz prejuízo de performance significativo.
Da Mercedes, que sofre bastante com esse movimento de assoalho, à Red Bull, que lidera ambos os campeonatos e sofre muito pouco, todo mundo reclamou. Tanto, que haverá uma reunião na semana que vem na busca de um denominador comum.
O que a diretiva técnica da FIA mostrou é que a entidade quer frear esses saltos alegando que isso é uma questão de segurança, o que significa que não é necessária uma votação entre as equipes. Mas é importante para a lisura do campeonato que a maneira como isso será controlado seja transparente.
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