Bruno Carra se divide entre as competições de halterofilismo e o mestrado em tecnologia da computação, mas as distintas caminhadas tiveram uma interseção. O atleta utiliza a experiência no esporte paralímpico nos estudos para o desenvolvimento de um dispositivo que detecta a queda de pessoas cadeirantes.
"Minha pesquisa utiliza dados de cadeirantes para tentar desenvolver modelo de IA (inteligência artificial) para impacto na vida deles. Pensei em como unir o meu amor pelo esporte paralímpico e pessoas com deficiência em geral, com a minha tese", afirma Bruno.
Com acondroplasia, a forma mais comum de nanismo, Bruno conheceu o halterofilismo em 2009 e passou a participar de competições no ano seguinte. "Convivo muito com pessoas com deficiência. Na minha modalidade em si tem um número muito alto de cadeirantes. Tudo isso teve um peso grande".
O atleta integra uma parceria de pesquisa e desenvolvimento entre a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e a Samsung, que visa projetos para a melhoria da saúde e bem-estar. "A ideia é que seja um modelo de IA, em um smartwatch, que qualquer pessoa possa usar, e vai detectar que houve alguma anomalia. A partir daí podemos implementar a função que preferir, como ligar para emergência, um telefone de contato, coisas do tipo".
O halterofilista se formou em engenharia da computação em 2014, mas em 2016 se afastou da carreira para focar na participação nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. De lá para cá, a agenda de treinos e torneios o deixou longe das salas de aula, o que foi retomado em 2021.
Bruno começou a praticar esportes em uma busca por melhoria de vida. Na infância, as dores, principalmente nos membros inferiores, eram constantes. Pequenas caminhadas se tornavam um grande desafio.
Ele começou com a natação, seguindo orientação médica, mas começou a frequentar uma academia, e escondido dos pais.
"Segundo os médicos, não era aconselhável fazer exercícios de carga devido a alguns riscos inerentes à minha síndrome. Indicaram a natação, mas meu primo montou uma academia perto da minha casa e comecei a frequentar escondido. Ele e os professores me orientavam para fazer da melhor forma, e comecei a ver que as dores e problemas de articulação estavam diminuindo", conta.
Bruno tinha 14 anos, e a cada nova avaliação ouvia que o quadro sinalizava melhoras. Nas consultas, ao lado dos pais e médicos, mantinha segredo. "Não falava que estava treinando na academia", lembra, aos risos.
Pouco depois, além da academia, começou a frequentar também aulas de jiu-jítsu. "Eu não tinha tanta força no supino e algumas pessoas incentivaram a levar em um 'pessoal forte de verdade', e conheci meu treinador. Comecei a treinar, e competir com pessoa sem deficiência, e comecei a me achar ótimo", diz.
O esporte paralímpico apareceu para Bruno através das redes sociais. "Conheci uma pessoa que competia no paralímpico, e eu não fazia ideia de como as coisas funcionavam, que existiam essas possibilidades".
Os pais logo descobriram as peripécias às escondidas do filho, mas a preocupação inicial deu lugar ao apoio. "Mostrei o quanto estava me fazendo bem".
Bruno tem na galeria particular conquistas como as medalhas de ouro no Parapan de Santiago-2023 e Lima-2019, além das pratas na Copa do Mundo de Dubai-2022 e Nigéria-2020, Parapan de Toronto-2015 e Guadalajara-2011.
Ele participou das Paralimpíadas de Londres, Rio e Tóquio, e não esconde o desejo de voltar ao torneio após ausência em Paris. "Hoje, minha meta é estar em Los Angeles-2028. As pessoas, às vezes, não têm noção do que é o caminho para os Jogos. Na minha modalidade tem um ranqueamento que já começa ano que vem, quando tem o Mundial e, a princípio, mais uma competição internacional".
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