Imagine pedir um carro por aplicativo e quando o motorista chegar tratar-se de um medalhista olímpico e dono do cinturão latino do Conselho Mundial de Boxe. Acredite se quiser, mas isso pode acontecer se você solicitar o serviço na Grande Vitória. Isso porque Yamaguchi Falcão, que conquistou a medalha de bronze na categoria até 81 kg, no boxe, nas Olimpíadas de Londres, em 2012, passou a trabalhar como motorista para complementar sua rende.
Aos 36 anos, o pugilista capixaba, que é uma das referências do boxe brasileiro, tomou essa atitude que fala muito alto sobre o descaso com o esporte brasileiro. A dificuldade financeira é o adversário fora do ringue que o lutador agora precisa enfrentar. Atuando como motorista de aplicativo há seis meses, Yamaguchi disse que faz o que for preciso para pagar as contas e sustentar sua família.
“Eu preciso botar comida dentro de casa. As contas não esperam, e eu tenho conta para pagar. Eu só ganho dinheiro se eu lutar, e as lutas, infelizmente, hoje em dia, não acontecem em todos os finais de semana. É uma luta cada, de quatro a seis meses”, declarou o pugilista.
Além do trabalho como motorista, Yamaguchi também dá aulas de boxe em uma academia na Serra. “Como motorista mesmo eu trabalho em dois horários, primeiro de 7h às 9h. Aí venho para casa, descanso um pouquinho, depois dou aula de boxe, e só aí retorno para o carro, de 16h até 0h”, afirmou o atleta.
Para se dedicar ao esporte, Yamaguchi relata que abriu mão dos estudos e de passar tempo com a família, mas não encontrou o suporte necessário de patrocinadores para se manter. “Hoje eu sou um atleta de alto nível e estou parado. Eu poderia sim estar treinando, focado, sem me preocupar com as contas, sem me preocupar com a alimentação ali dentro de casa, para eu poder levantar a bandeira do Brasil lá fora. Infelizmente eu não tenho esse apoio para me segurar fazendo isso”.
Por conta desta situação, o atleta não descarta a possibilidade de vender sua medalha olímpica. “Quando falo isso, até me dói, né? Infelizmente eu tô pensando seriamente nisso, porque a situação aperta, aí é a única coisa que você tem, né? Que pode alguém entender que tem muito valor”. O preço estipulado pelo atleta em uma eventual venda gira em torno de R$ 100 mil.
Apesar das dificuldades enfrentadas, o capixaba tem expectativa de voltar a competir e realizar o sonho de ser campeão mundial. “É muito difícil para um atleta sair daqui trabalhando de motorista de aplicativo, trabalhando de outras coisas, dando aula, e ir lá pegar um americano que só vive disso, só vive de boxe, não se preocupa com nada, e ser campeão em cima dele. Eu acredito muito que eu terei outra oportunidade. Mas eu quero ter essa oportunidade quando eu estiver bem preparado, sem preocupação, sabendo que minhas contas pagam, sabendo que minha família está bem dentro de casa”.
*ANDRÉ BORGHI é aluno do 27º Curso de Residência em Jornalismo da Rede Gazeta. Este conteúdo teve edição do editor de esportes, Filipe Souza.
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