"Lugar de toda Pobreza". Assim ficou conhecida da orla de São Pedro há 40 anos, quando as casas de palafitas compunham a região e o lixo, amontoado, fazia dela um grande depósito de descarte a céu aberto. Neste sábado (11), a área se dispôs a uma nova fase de sua história e da leitura de sua própria gente, ao sediar a Regata Show Snipe Match Race, um campeonato de vela, organizado pela Prefeitura de Vitória, em parceria com o Iate Clube do Espírito Santo (ICES), a Federação Capixaba de Iatismo (FECAI). Os vencedores foramTarcísio Bruno — morador de São Pedro — e Rodrigo Stephan.
O presidente da Associação dos Pescadores de São Pedro, Júnior Silva, diz que, "quando a orla chega até nós, e esse é um projeto bem antigo, faz com que nossa gente usufrua da sensação de pertencimento para comunidade da Ilha das Caieiras". Junior estava acompanhado de sua família, que costuma sair daquele bairro e ir à Curva da Jurema par ver as competições.
O objetivo principal da regata é popularizar o esporte náutico no Espírito Santo, segundo o prefeito da Capital, Lorenzo Pazolini (Republicanos). "É um sonho que estamos tornando realidade junto com a comunidade, trazendo os esportes náuticos, e compartilhando daqui a cultura, o divertimento, a geração de emprego e oportunidade de renda. Assim apresentamos São Pedro para o mundo. A iniciativa também é desmistificar a ideia de que os esportes náuticos são restritos às pessoas de maior renda ou de elite. A ideia é criar escolinhas gratuitas para que a comunidade possa ser integrada".
Fala reforçada pelo secretário municipal de Esportes, Rodrigo Ronchi: "Trata-se de um movimento de inclusão da cidade, que parte por dois vetores: o próprio esportivo, já que Vitória tem vocação para o mar, uma baía abrigada, muito boa de se navegar e que seria um desperdício não usar. Nossa ideia também é promover integração social e levantar a autoestima dos moradores". Questionado se o projeto se sustentará na região e se terá sobrevida em caso de mudança na prefeitura, Ronchi, tal como o prefeito, garantiu que sim. E, mesmo durante a atual gestão, a viabilidade passará não só por verba disponível para a atividade, mas através de parcerias público-privadas.
Para Fabiano Alves Pereira, comodoro do Iate Clube, é possível promover a sinergia da cidade através da instituição. "A reurbanização permite aos atletas ter novos calendários de competição, promover a integração de turismo, cultura e culinária. Além disso, abriremos no Tancredão, uma escola de vela, mostrando que o esporte pode ser acessível a todos."
Alessandra da Silva Soares, técnica de enfermagem, e Wesley Santos, técnico de fibra ótica, levaram o filho Téo, 4 anos, para conhecer a nova orla. "Em nosso bairro, a gente precisa de isso, de esporte, poder botar essa molecada aí para praticar." Alessandra celebrou o fato de poder levar o filho para fazer o primeiro passeio não só de vela, mas de barco.
A professora Luísa Silva levou a família inteira para ver as competições e comemorou o fato de haver um olhar mais amigável para com a sua região "A gente traz a família para a beira-mar, que tem esse deque maravilhoso, a gente traz as crianças... E sou de uma família de pescadores, a gente gosta muito de estar conectado com o mar. A gente ama o mar, e só chegamos onde chegamos por causa dele. [Ainda que o bairro tivesse problemas antigamente], a gente era muito feliz. A gente vivia do manguezal", contou ela, que é mãe de Júnior, presidente da Associação dos Pescadores.
Doze velejadores, divididos em duplas, competiram. Trata-se de um confronto de um barco contra o outro, sendo dois por vez. A competição atrasou, inclusive, por conta de uma condição climática desfavorável. Havia maré baixa e vento pouco intenso, porém contou com narração ao vivo, que explicou as manobras e o desenrolar da regata. E terminou com a vitória da dupla Tarcísio e Rodrigo.
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