Os capixabas, Mauro e Daniel Corrêa, pais e filho, e ambos bicampeões nacionais de skate freestyle, estão inscritos no Mundial da modalidade. Eles sonham em conseguir disputar o campeonato que vai acontecer em Brandenburg, na Alemanha, entre os dias 27 e 30 de junho deste ano fizeram uma vaquinha para tentar conseguir somar os R$ 20 mil necessários para a viagem. Até agora o financiamento coletivo juntou R$ 2.314,01.
“Seremos os primeiros representantes brasileiros nas categorias Legend e Hooks. E na história do skate, nunca teve, em nenhum campeonato, pai e filho disputando juntos”, diz Mauro Corrêa, 63 anos, que foi campeão na década de 80. Já Daniel, 13 anos, foi campeão nacional de freestyle pela CBSK 2022 e pela STU 2023.
Mauro relata que os treinamentos feitos pela dupla são diários e intensos. “Fazemos todo os dias, das 6h às 9h, ou às 19h, treinando intensamente, focando em manobras e alto nível e com pontuação e, especialmente, aquelas que se conectem, afinal o freestyle conta a beleza e a ligação das manobras, a fluidez entre elas. Nosso objetivo é conseguir a precisão na execução”.
Ainda de acordo com Mauro, a dupla já objetivava participação do mundial. Porém, quando foram proceder com inscrição viram que cada atleta deveria pagar 40 euros. No caso deles, só a inscrição ficaria em 80 euros (cerca de R$ 443,00), o que já era muito caro, fora a viagem para a Alemanha e estadia.
“Isso que motivou a criação a vaquinha. Poderíamos fazer antes, mas não havia definição de datas. Demos a entrada nos passaportes e só depois a data foi fechada, o que encareceu ainda mais a viagem. Quanto mais perto do evento, mais cara a passagem. Antes estava prevista em R$ 12 mil e agora está cotada em R$ 20 mil. Mas ainda assim creio que vá dar certo e vamos conseguir", diz Mauro, que trabalha como lanterneiro.
Para o veterano, a importância não está restrita à participação deles, mas ao ineditismo para o País. “O Brasil nunca esteve nesse mundial e menos ainda na minha categoria e na de Daniel. Somos pioneiros, também, diante do fato de não ter tido pai e filho disputando o mesmo evento nessa modalidade. Nossa intenção é, sobretudo, fazer uma boa apresentação e representar bem o Brasil".
Daniel, o jovem skatista, está animado também por fazer sua primeira viagem internacional e praticar o esporte lá fora, porém sem descuidar dos estudos. “Minhas notas na escola estão boas sempre”, disse ele, que está no 7º ano do Fundamental e treina na Prainha, em Guarapari, com o pai. Suas referências, além do seu próprio pai, é o romeno Marius Constantin, que inclusive já conversou com pai e filho no Instagram.
Muito possivelmente, Mauro é um dos atletas mais veteranos a participar do Mundial. Em contrapartida, Daniel um dos mais jovens. Para o atleta mais maduro, sua participação também é valiosa por promover o combate ao etarismo. “Quando comecei a praticar o esporte o pessoal via e achava estranho. Hoje respeitam. Além de mim, outros coroas voltaram a andar de skate".
Mauro lamenta haver tão poucos incentivos à prática esportiva através da esfera pública. “Não há. É sempre uma peleja, uma dificuldade. O atleta nunca tem dinheiro, depende de patrocínios e apoios a todo tempo e só somos lembrados em época de eleição. Depois disso, começa o jogo de empurra e assim o Estado perde seus atletas”.
Mauro pratica skate desde os Anos 1970. "Em 1973 eu vi um cara passar com skate e, pouco tempo depois vi alguém jogou um patins fora. Peguei aquele patins, aproveitei as rodinhas colocando-as em uma madeira que achei no lixo e assim fiz o meu primeiro skate. Só fui comprar meu primeiro skate anos depois, quando vendi uns jornais e juntei um dinheiro para esse fim”. Prossegue ele dizendo que o acesso às manobras completas era muito difícil antigamente, o que exigia dos skatistas de então, criatividade. “Tínhamos acesso apenas às revistas com fotos, de modo que não sabíamos como começava ou terminava as manobras, o que nos permitia maior criatividade para executá-las”.
O primeiro campeonato que Mauro disputou já como skatista freestyle foi em 1980 e foi campeão. Ele disputou até 1985. Em 2021 retomou à prática do esporte por influência do filho, Daniel e venceu duas etapas do Big Rio Freestyle. Ele conta sobre seu retorno. “Teve uma empresa de material de surfe e skate de Vitória que fez uma campanha determinando que quem conseguisse ganhar mais likes numa foto ganharia um prêmio. O brinde era um skate. Foi assim que o Daniel começou a se interessar pro skate. Além disso, houve a construção de uma pista aqui na região, o que despertou ainda mais o interesse dele, e que acabou me trazendo de volta ao esporte”, diz Mauro.
Inicialmente, Daniel era da categoria street, mas mudou para a freestyle, por inspiração no pai. Agora ambos seguem juntos uma jornada rumo ao futuro.
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