Para quem cresceu em um ambiente de música, como Brenda Rangel, seguir a carreira musical não chega a ser uma surpresa. O que ela não esperava era se tornar Budah, uma das mulheres mais conhecidas da nova geração do rap nacional na atualidade e uma capixaba de valor na categoria “Cultura”.
“A minha relação com a música existe desde sempre. Meu pai tinha um grupo de samba antes de eu nascer e meu avô cantava muito. As festas da família contavam com um karaokê e foi aí que vi que eu sabia cantar. Mas o rap surgiu para mim na adolescência. Cone Crew estava muito em alta e meu pai já escutava Racionais. Eu conheci o rap nacional e o universo do grafite e do picho, passei a conhecer a cena daqui do Espírito Santo. Foi quando eu comecei a frequentar as batalhas de rap”, relembra.
Grata e feliz pelo crescimento da sua carreira no cenário nacional, Budah não deixa de refletir sobre o tamanho do reconhecimento destinado às mulheres nesse gênero, quando comparado ao dos homens rappers.
“A minha carreira é muito bonita, mas eu vejo os caras trocando de carro todo ano. Eu acho que nós, mulheres, não perdemos em talento, em lírica, em voz, a gente entrega tudo tão bem quanto os homens, mas não chegamos no patamar que eles têm no rap. A Flora Matos conseguiu ter a música mais ouvida no Spotify este ano, mas isso não mudou o status da carreira dela. Que carreira eu poderia ter no rap se fosse homem?”, questiona.
Ao ingressar no mundo das rimas e do grafite capixaba, Brenda Rangel virou Budah. O visual urbano, com coque e alargador, rendeu o apelido que virou nome artístico quando a menina das batalhas começou a demonstrar que, além de rimar, sabia cantar.
“Um dia eu falei com a galera que eu sabia cantar e todo mundo pediu para ver. Eu gravei um vídeo cantando “Billionaire”, do Travie McCoy e do Bruno Mars, postei no Facebook e teve milhares de compartilhamentos. E eu comecei a entender que a música poderia ser meu caminho”, recorda a cantora.
Daí para a primeira composição, não demorou muito. “Neguin” é uma declaração para um amor da época, e que já revelava os relacionamentos amorosos como uma das principais temáticas de Budah como compositora, sem deixar de falar de questões sociais com muitas referências de R&B.
A partir daí, convites como o do portal RND - um dos principais sobre rap no Brasil - que chamou Budah para lançar uma música e apresentar um perfil da artista, foram chegando, assim co-mo as parcerias musicais com outros artistas da cena rap, o que fez a cantora perceber que sua carreira estava em crescimento. Nomes como MC Cabelinho, Djonga, Pelé MilFlows e Poesia Acústica estão entre os que já cantaram com Budah.
Para alcançar a posição consolidada que tem hoje na cena do rap nacional, Budah contou com o apoio fundamental dos pais, que, desde o começo, acreditaram na sua carreira artística.
“Minha família sempre teve vontade de me ver fazendo música, foram no meu primeiro show, ficaram emocionados. Minha mãe, que é muito católica, queria que eu cantasse no coro da igreja. Eu cheguei a tocar percussão por lá. Aos 15 anos, meu pai me deu um violão de presente, mas o que queria mesmo era cantar”, diz.
É da família que a rapper traz algumas referências musicais importantes, que servem de inspiração para a forma como Budah faz música. Entre os artistas que a influenciaram estão Pepê e Neném e o grupo Fat Family.
“MPB rolava forte nos encontros lá em casa. Jorge Vercilo, Jorge Aragão. Meu avô me inspirou a ouvir músicas que eu escuto até hoje. O Fat Family, por exemplo, eu amo o jeito que eles cantavam. Pepê e Neném também era outra coisa que ele escutava muito e esses artistas acabam sendo uma referência de voz para mim, pela forma como eles cantavam. Eles faziam R&B também, mas a gente não sabia. Hoje eu observo o canto desses artistas, as letras, as melodias, e isso é algo que me inspira”, analisa.
E o próximo ano promete ser também de muito trabalho. Em 2024, o primeiro álbum de cantora vai chegar às plataformas digitais, consolidando ainda mais a trajetória dessa capixaba de valor na cultura.
“Receber um prêmio como esse é meio surreal. A gente nunca sabe onde está chegando, até onde está alcançando com o nosso trabalho. Quando eu abro o Spotify e vejo que tenho muitos ouvintes em Portugal e em países da África, em peso…E é muito importante ter o reconhecimento vindo do Espírito Santo, do lugar onde eu cresci e chamar atenção para a necessidade de maiores investimentos em cultura no nosso Estado”, finaliza.
Budah é cantora e rapper
Tem 26 anos e nasceu em Vila Velha.
Foi criada em Cariacica, onde a música começou a estar presente em sua vida por influência do pai e do avô.
Na adolescência, conheceu a cena do rap e do grafite capixaba.
Em 2014, com a repercussão positiva de um cover de Bruno Mars, começou a perceber que tinha potencial para a música.
Em 2017, lançou “Neguin”, uma composição própria falando de amor. Desde então, Budah é um nome ascendente na cena do rap nacional e já cantou com nomes como MC Cabelinho e Djonga.
Em 2023, assinou com a Universal Music. Para 2024, está previsto o lançamento do seu primeiro álbum.
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