A falta de chuva no Espírito Santo já tem mostrado reflexos negativos na vazão dos principais rios do Estado. O longo período de estiagem, que chega a 90 dias sem volume significativo de precipitações, fez com que o governo decretasse estado de alerta por falta de água.
Segundo levantamento feito pela Agência Estadual de Recursos Hídricos (Agerh), rios como Santa Maria, Jucu e São Mateus têm níveis críticos em relação ao mesmo período do último ano.
De acordo com o órgão, a vazão média do Rio Santa Maria, um dos principais mananciais utilizados para abastecimento da Grande Vitória, está em 3,75 metros cúbicos por segundo (m³/s), enquanto que, no último ano, a média foi de 18,09 m³/s. Ou seja, uma queda de 79% na vazão da água que corta e abastece cidades como Santa Maria de Jetibá, Cariacica, Santa Leopoldina, Serra e Vitória.
Já o Rio Jucu, que corta seis cidades capixabas (Domingos Martins, Marechal Floriano, Viana, Cariacica, Guarapari e Vila Velha), está com média de 8,49 m³/s, 41,8% abaixo dos 14,60 m³/s de setembro de 2023. Enquanto isso, o Rio Itapemirim, na Região Sul, está com média de vazão em 19,95 m³/2, sendo que em 2023, a vazão era calculada em 37,08 m³/s.
Por sua vez, o Rio Doce, um dos maiores recursos hídricos do Estado, tem média de vazão calculada em 171,66 m³/2, sendo que, em 2023, a vazão era de 296,32 m³/s.
De acordo com o governador Renato Casagrande (PSB), o cenário mostra que os rios que cortam o Espírito Santo estão em níveis mínimos, e as propostas para economia são voltadas para evitar maiores problemas com a falta de água.
Segundo o Executivo estadual, as medidas restritivas voltadas para os setores industriais e agrícolas são preliminares, sem indicação para racionamento de água para a população, ou seja, não há ordem para que as pessoas deixem de usar água em algum horário do dia.
José Marques Porto, socioambientalista e especialista em planejamento e administração pública, pontua que as medidas aplicadas aos chamados grandes setores são cruciais para evitar que a população seja prejudicada nos períodos de seca.
“As pessoas são o fim da linha na esteira do consumo. Aqui no Estado, temos empresas que consomem o equivalente ao uso de água de três milhões de habitantes por dia, sendo que temos cerca de quatro milhões de habitantes. Esses recursos devem estar à disposição dos moradores, mas são utilizados em processos industriais”, explica.
Segundo Porto, é ideal que o Estado tenha análises de risco climático das bacias dos rios para que os impactos não sejam tão fortes para a população.
“Quanto ao consumo, a população é responsável por apenas cerca de 10% do total, enquanto a agricultura consome em torno de 60% a 70% e a indústria, cerca de 30% [...] É importante incluir na legislação a obrigação de que novas construções ou reformas tenham sistemas de reservação de água da chuva, para reduzir o uso de água tratada em atividades cotidianas, como lavar jardins ou calçadas”, pondera.
“A população pode fazer sua parte evitando o desperdício, mas o essencial é que haja uma mudança nas políticas públicas e na legislação, exigindo, por exemplo, que novas construções incluam sistemas de captação de água da chuva. Desde 2022, o Espírito Santo já está oficialmente dentro da região semiárida do Brasil, e essa nova realidade exige um planejamento que priorize a conservação e reservação de água”, finaliza José.
Se não bastasse a falta de chuva, o Estado tem convivido com o aumento das queimadas. De acordo com números do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), foram registrados, até terça-feira (17), 526 focos de incêndio. O número é maior que o dobro (169%) do registrado no mesmo período do ano passado.
O governador Renato Casagrande já havia decretado situação de emergência devido ao aumento do número de queimadas. Segundo ele, ações de combate às chamas têm sido intensificadas e há ainda um apelo para a colaboração da população para que evitem queimadas irregulares e para que denunciem focos de incêndio.
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