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Como resgate de filhote de jubarte no ES virou sucesso científico

Como resgate de filhote de jubarte no ES virou sucesso científico

Decisão de equipe de resgate em praia da Serra colaborou com a mudança de um protocolo nacional que decide sobre a vida de animais marinhos encalhados

Publicado em 5 de agosto de 2024 às 17:01

Ícone - Tempo de Leitura 4min de leitura
Um filhote recém-nascido de baleia-jubarte encalhou na Praia de Manguinhos, na Serra, Grande Vitória, na manhã de domingo (17)
Filhote recém-nascido de baleia-jubarte encalhado na Praia de Manguinhos, na Serra, em setembro de 2023. (Amigos da Jubarte)
João Barbosa
Repórter / [email protected]

O resgate de um filhote de baleia-jubarte no Espírito Santo pode ajudar a mudar o rumo da longevidade dos animais dessa espécie no país. Em setembro de 2023, por dois dias consecutivos, um filhote recém-nascido, que ainda estava com o cordão umbilical, encalhou na Praia de Manguinhos, na Serra, e a atitude da equipe que participou do resgate colaborou com a mudança para a tomada de decisões em situações parecidas.

Pelo protocolo utilizado na época, animais encalhados e em sofrimento aparente deveriam passar pelo processo de eutanásia. Entretanto, após a identificação de boas condições de saúde no filhote — mesmo com variados ferimentos — e a presença da mãe na costa, fez com que os especialistas contrariassem o procedimento padrão, devolvendo o animal ao mar após um trabalho de salvamento que ultrapassou seis horas.

Presente na operação, João Marcelo Nogueira, diretor-executivo do Instituto Orca, que realiza o monitoramento de praias no litoral capixaba, contou à reportagem de A Gazeta que, a decisão, naquele momento controversa, salvou a vida do animal e pode salvar ainda mais ao redor do Brasil.

“Estávamos com o protocolo na mão. Mas foi um atendimento atípico de um filhote que perdia muito sangue e tudo apontava para a eutanásia. Porém, a mãe apareceu e ele começou a reagir, o que é extremamente raro”, lembra João.

Aspas de citação

Mesmo ciente da quebra do protocolo, vimos que ali existia uma chance de arriscarmos tudo para salvar a vida do animal

João Marcelo Nogueira
Diretor-executivo do Instituto Orca
Aspas de citação

Segundo o gestor do instituto, além de reagir aos estímulos da equipe de resgate, o animal ferido vocalizava ao ouvir o contato da mãe, que ficou na região durante todo o processo. Dias depois, o “pequeno gigante”, batizado de Jurema por uma criança moradora da região, apareceu nadando com a mamãe jubarte. Um caso raro na espécie que surpreendeu os responsáveis pela iniciativa.

A atitude do grupo, que contou com a análise de sangue do filhote em laboratório, comprovando a boa saúde, mostrou que a decisão de devolver o recém-nascido ao mar foi acertada. O resultado positivo do litoral capixaba foi somado a casos parecidos no país, alterando o protocolo da Rede de Encalhe e Informação de Mamíferos Aquáticos do Brasil (REMAB), documento que não esclarecia quem deveria tomar a decisão sobre a vida do animal.

“Com a definição daquele dia, o protocolo foi alterado nacionalmente. Hoje, a decisão sobre a eutanásia deve partir do veterinário que estiver presente no local de resgate. Ele deve fazer a avaliação e tomar a decisão. A gente entende isso como uma nova oportunidade de vida aos animais”, pontua João Marcelo.

Dias felizes após o resgate

Por meio de um vídeo feito pelo grupo Amigos da Jubarte, o animal do sexo masculino resgatado foi visto nadando — com saúde — ao lado da mãe. Muitos 'bebês' baleias acabam morrendo após o desencalhe por não encontrarem mais a figura materna, o que não aconteceu com o 'Jurema'.

“Infelizmente, em casos como esse [de desencalhe], já é esperado que o animal vá morrer ou que encalhe novamente. Esse foi um verdadeiro momento especial onde sentíamos que o filhote estava querendo viver, e foi o que aconteceu”, contou Thiago Ferrari, coordenador do projeto Amigos da Jubarte.

A identificação do animal três dias depois do resgate foi possível graças a imagens feitas por um drone de monitoramento que, por meio dos vídeos captados, facilitou o reconhecimento de uma cicatriz em formato de meia-lua na nadadeira caudal do animal.

Cicatriz na cauda do animal facilitou o reconhecimento após o resgate
Cicatriz na cauda do animal facilitou o reconhecimento após o resgate. (Amigos da Jubarte)

O sistema, segundo Thiago, faz parte de um projeto de pesquisas desenvolvidas para a captação de imagens para avaliação comportamental, composição social e de saúde dos animais marinhos, com apoio da pesquisadora Sâmia Alpoim, responsável por identificar a cicatriz no filhote.

“Vivemos o começo, meio e fim de uma história feliz mesmo diante de pouquíssimas chances. Agora, realizamos um trabalho de procura para que possamos capturar esse filhote, verificando o estado de saúde dele quase um ano depois do resgate”, explica Thiago. 

A expectativa do grupo é voltada para que o animal esteja vivo e acompanhado da mãe, já que filhotes dessa espécie só alcançam aos três anos a independência.

O que fazer em situações parecidas?

Casos de encalhe de animais no litoral do Espírito Santo, infelizmente, não são raros. A orientação dada por especialistas é que as pessoas não tentem resgatar os animais nesta situação, mas, que se possível, isolem a área. Filhotes como o resgatado na Serra podem pesar até uma tonelada e podem machucar alguém, mesmo que a pessoa esteja tentando ajudar.

O ideal é informar ao Ibama pelo telefone 0800 039 5005, responsável por acionar o Projeto de Monitoramento de Praias (PMP).

Errata Correção
7 de agosto de 2024 às 17:48

A versão inicial desta matéria informava que o protocolo alterado após o resgate do filhote na Praia de Manguinhos fazia parte da Rede de Desencalhe de Mamíferos do Nordeste (Remane), o que estava incorreto. O documento de fato alterado faz parte da Rede de Encalhe e Informação de Mamíferos Aquáticos do Brasil (REMAB). Com a informação recebida pela reportagem de A Gazeta, o texto foi corrigido.

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