A Vale e o consórcio Águas de Reúso de Vitória, subconcessionária da Companhia Espírito-Santense de Saneamento (Cesan), firmaram uma parceria para a empresa utilizar água reciclada nas operações da Unidade Tubarão, na Capital. A mineradora poderá usufruir de parte da produção de uma estação que vai transformar o esgoto em água, cuja finalidade é justamente o uso na atividade industrial.
Os parceiros assinaram, na tarde desta quarta-feira (9), um documento que, entre outros pontos, prevê a aquisição de pelo menos 50 litros de água por segundo pela Vale, a partir do momento em que a Estação de Produção de Água de Reúso (Epar) estiver em operação, na Serra. A estimativa é que isso ocorra no início de 2027.
O diretor de Pelotização da Vale, Rodrigo Ruggiero, aponta que, atualmente, 79% da água utilizada nas operações é de reúso e, com a nova parceria, a intenção é que possa chegar a 100%. "A parceria visa aos estudos para a gente realmente não utilizar água nova na produção industrial. Deixaríamos a água da Cesan apenas para o consumo humano."
O estudo ao qual Ruggiero se refere é uma avaliação que a GS Inima, empresa que opera a Águas de Reúso de Vitória, deverá fazer sobre a possibilidade de oferecer um volume maior de água de reúso para a mineradora com a implementação da Epar.
O esgoto que será transformado em água de reúso é o que, atualmente, chega à estação de tratamento de Camburi — o famoso "penicão". Essa unidade será desativada e os efluentes serão transportados por uma tubulação para a Epar, que vai ser construída no bairro São Geraldo, na Serra, em uma área cedida pela ArcelorMittal Tubarão.
O CEO da GS Inima, Paulo Roberto de Oliveira, conta que, pelo edital para a implantação da Epar, a previsão é que sejam destinados para a estação 300 litros de esgoto por segundo que chegam hoje por Camburi. "Nós temos uma taxa de conversão de 80 a 85%, isto é, a gente pode produzir em torno de 85% desses 300 litros em água", projeta.
Dessa produção, já existe um contrato para fornecimento de 200 litros/s de água de reúso para a ArcelorMittal e foi assinado um protocolo para garantir mais 50 litros para a Vale.
"Mas estamos num processo de avaliação porque a nossa estação está dimensionada para receber até 450 litros de esgoto por segundo e podemos ter, então, em torno de 360 litros de água de reúso para fornecer. A Vale, para chegar no ciclo industrial todo, precisaria de 90 a 100 litros de água. Se eu tenho 360, ainda tenho uma folga, se for o caso, para atender até outras plantas industriais", observa Paulo Roberto.
O início da construção da Epar está estimado para julho deste ano e as obras devem durar cerca de 18 meses, com a operação começando em 2027. A fase atual é de finalização de projetos e licenciamento ambiental.
A instalação da Epar permitirá a desativação da ETE Camburi, que hoje trata metade do esgoto produzido em Vitória. No local, haverá apenas uma estação elevatória para bombear os efluentes até a nova unidade, na Serra, conforme explica Munir Abud, presidente da Cesan. Ele assegura que o problema do mau cheiro, que afeta moradores da Capital, não vai mudar de lugar.
A Epar, afirma Munir, terá uma etapa em seus processos que vai além do que é realizado na ETE, tratando o esgoto de tal modo que fique apropriado ao uso industrial e, consequentemente, eliminando o odor.
Para o presidente da Cesan, esse é um dos impactos positivos do projeto: melhorar a qualidade de vida das pessoas que moram nos arredores da ETE Camburi e convivem com o desconforto do cheiro de esgoto. E, mais que isso, ele aponta ganho na qualidade do abastecimento, uma vez que as grandes plantas industriais deixam de usar água própria para o consumo em suas operações.
Durante o evento, o governador Renato Casagrande lembrou da escassez hídrica vivenciada no Espírito Santo e as repercussões da transformação de parte do esgoto produzido em Vitória. "É um fechamento de ciclo que protege os mananciais porque a indústria vai utilizar a água de reúso e, protege, naturalmente, o meio ambiente. Consegue também, de forma muito objetiva, dar segurança à produção industrial e ao abastecimento humano."
"É mais um passo que damos dentro da Vale no sentido de sustentabilidade, das operações sustentadas da mineração do futuro. Não dá para a gente utilizar os recursos de qualquer jeito. Como o governador falou, já tivemos estresses hídricos no Estado. Então, a gente tem que achar soluções, garantindo o abastecimento da população e, se as operações industriais podem utilizar água de reúso, que resolve o problema ambiental, para nós é o ideal", complementa Rodrigo Ruggiero.
A nova estação vai beneficiar cerca de 165 mil moradores da zona norte de Vitória, além de seis bairros da Serra: Hélio Ferraz, Manoel Plaza, Rosário de Fátima, Eurico Salles, Carapina I e Bairro de Fátima. O investimento nas obras e tecnologia para o funcionamento da Epar é de R$ 250 milhões, segundo Paulo Roberto de Oliveira.
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