Investimentos de R$ 3 milhões vão ser utilizados a partir do próximo ano para a recuperação dos manguezais capixabas. E ainda este ano será lançado um programa de logística reversa, para estimular a reciclagem. As duas ações foram anunciadas pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Seama) após reportagem de A Gazeta denunciar a situação de abandono do manguezal do Parque da Manteigueira, em Vila Velha.
O anúncio foi feito pelo titular da pasta, Felipe Rigoni, em suas redes sociais, onde compartilha imagens da reportagem. "No início do ano que vem vamos lançar um edital de R$ 3 milhões para ONGs, empresas e organizações fazerem a restauração de mangues, para limpar e restaurar os mangues capixabas, porque eles recebem algo muito deletério, que é o lixo que vocês viram no vídeo, e prestam serviço ambiental muito importante, por isto nós vamos protegê-los”, informou.
Em paralelo, informou Rigoni, a secretaria pretende lançar ainda este ano o programa de logística reversa. "É um programa que vai estimular e muito a reciclagem de materiais em todo o Estado, o que vai diminuir a quantidade de lixo que chega aos mangues", explicou.
O secretário destacou ainda, em seu post, que os manguezais capixabas vivenciam uma realidade complicada. "De fato é uma situação séria que tem acontecido com os mangues capixabas. Temos no Espírito Santo o maior mangue urbano da América Latina, que fica em Vitória, e ele presta um serviço ambiental importante, tanto para a cidade quanto para o mar, e por isso precisamos protegê-lo”, assinalou.
O secretário informou que até o final deste ano será lançado o decreto com a regulamentação que vai permitir viabilizar a chamada logística reversa. De acordo com a Política Nacional de Resíduos Sólidos, “trata-se de um instrumento de desenvolvimento econômico e social, caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, onde podem ser reaproveitados em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos”.
As medidas a serem adotadas, acrescenta Rigoni, também vão contemplar o segmento de embalagens. A aposta, segundo ele, é na geração dos Créditos de Logística Reversa e que eles vão ajudar a alavancar o mercado de reciclagem.
Os créditos são certificados que comprovam um serviço de logística reversa e a destinação adequada de uma certa quantidade de resíduos. Podem ser emitidos e vendidos por cooperativas de catadores e comprados por empresas.
Em paralelo, explica o secretário, haverá ainda no primeiro semestre de 2024, o lançamento de edital de R$ 12 milhões para investimentos em diversas ações ambientais, dos quais R$ 3 milhões serão destinados à recuperação dos mangues. “Empresas e associações vão poder inscrever seus projetos para fazer a ações de recuperação deste bioma”, explica.
Reportagem de A Gazeta publicada no último dia 9 revela a situação do manguezal do Parque Municipal da Manteigueira, em Vila Velha. A área está tomada pelo lixo. São garrafas pets, brinquedos, sacolas plásticas, restos de equipamentos eletrônicos, entre outros objetos.
São restos do consumo humano que viajam pelos canais e rio, sendo arrastados pela força das marés e que vêm se acumulando nas raízes da vegetação. “Eu fiquei abismado com a quantidade de lixo que vi ali”, relata o biólogo Marco Bravo.
Ele avalia que a camada de lixo enterrada no local, sob a lama do manguezal, é expressiva. “Provavelmente, há uma grande camada ali de mais de metro de lixo enterrado.”
Lançado às margens dos canais em Vila Velha, como é o caso do Canal de Aribiri — como é conhecido o Rio Aribiri —, o lixo é levado para o mar nos momentos de elevação da maré ou de chuvas fortes. No caminho, ele encontra o manguezal do Parque Municipal da Manteigueira. E quando as águas baixam, com a redução da maré, o lixo fica por lá. Ao longo do tempo, vão sendo formadas camadas sucessivas de resíduos.
O lixo acumulado na área vai se decompondo e contaminando, com metais pesados e corantes, o solo e a água, matando as árvores e a fauna, pondera o biólogo. Ao ver as imagens, ele observa que uma das características do manguezal é ter uma vegetação densa, fechada e entrelaçada.
"O solo é lodoso, e uma árvore ajuda a proteger a outra contra o vento e, de certa forma, contra o solo, que é instável. Mas o que se vê ali são clareiras abertas, grande espaçamento entre a vegetação, o que indica que morreram muitas árvores do manguezal”, explica o biólogo.
Outra afetada pela poluição é a fauna, com os animais morrendo, não só pela contaminação, mas pela falta de oxigenação e de alimentos. "Praticamente não tem mais fauna ali. Os caranguejos acabam morrendo contaminados pelo lixo, os peixes acabam consumindo os fragmentos de plástico", observa Bravo.
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