Homens e mulheres negros são os que mais sofrem com a falta de abastecimento de água e de esgotamento sanitário no Espírito Santo. Dados divulgados pelo Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN) revelam que, a cada mil pessoas sem acesso à rede de esgoto, 25,5 são mulheres brancas e 41,8, mulheres negras.
Segundo o pesquisador, essa desigualdade — observada em diferentes localidades do Brasil e do mundo —, não é uma coincidência e, sim, um dos exemplos do que estudiosos definem como racismo ambiental. "Números estão historicamente mostrando isso. Condições que são mais desfavoráveis para grupos que são marginalizados", pontua Victor de Jesus.
Conforme o levantamento do IJSN, baseado em números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2018, a cada mil pessoas que vivem sem acesso ao abastecimento de água no Espírito Santo, 12,4 são homens brancos e 18,8 são homens pretos ou pardos. Já entre mulheres brancas, a proporção é de 10,7, enquanto entre mulheres negras o índice sobe para 17,0.
A diferença também pode ser vista quando se trata do acesso ao esgotamento sanitário por rede coletora, pluvial ou fossa ligada à rede. Enquanto a proporção de pessoas sem acesso aos serviços é de 27,5 para homens brancos, para homens pretos e pardos o índice sobe para 43,9.
Mulheres negras também sofrem mais com a falta de acesso à rede de esgoto. De cada mil pessoas sem acesso aos serviços, 25,5 são mulheres brancas, e 41,8 são negras.
O termo, criado na década de 1980 pelo químico e ativista americano Benjamin Franklin Chavis Jr, se refere à forma desproporcional que problemas ambientais atingem minorias étnicas, como pessoas negras, povos originários e a população de regiões periféricas. O conceito surgiu durante protestos contra depósitos de resíduos tóxicos no condado de Warren, Carolina do Norte, Estados Unidos, onde a maioria da população era negra.
Além da dificuldade de acesso ao saneamento básico, o sociólogo Victor de Jesus diz que outros exemplos de racismo ambiental podem ser vistos na localização de lixões e aterros sanitários próximos a comunidades periféricas — compostos em sua maioria por pessoas negras —; a poluição do ar em bairros mais pobres, o impacto ambiental de grandes empresas em comunidades carentes, o impacto de enchentes em comunidades de baixa renda, entre outros casos.
Victor explica que, quando se trata especificamente do saneamento básico, a falta de acesso que recai sobre a população negra é histórica, sendo vista desde o período escravocrata. “Quando a população negra foi traficada, no rapto colonial, eles já eram submetidos a condições ambientais degradantes, com fezes, urina [...] Uma grande parcela dessa população morreu por conta desse saneamento inadequado e, até hoje, quando a gente olha para as favelas, onde a população negra é maioria, esse acesso ao saneamento é precário”, aponta.
O pesquisador acredita que, para resolução ou diminuição do problema, é preciso voltar alguns passos: reconhecer pessoas negras, de fato, como sujeitos de direitos.
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