Em janeiro de 2021, quando a Ford fechou as fábricas de Taubaté (SP) e Camaçari (BA), encerrou a produção dos compactos nacionais Ka, EcoSport e passou a comercializar só importados, o recém-lançado Territory ganhou um súbito protagonismo nas concessionárias da marca.
O utilitário esportivo médio importado da China, que havia sido apresentado no Brasil cinco meses antes, passou a dividir as vitrines da Ford apenas com a picape argentina Ranger e com o cupê esportivo norte-americano Mustang.
Criticada pela decisão de fechar suas fábricas no Brasil depois de mais de um século produzindo no país, a subsidiária brasileira da Ford voltou a dar lucro em 2022, algo que já não conseguia desde o século passado. É nesse ambiente mais tranquilo e com um line-up mais amplo – agora inclui ainda o utilitário esportivo médio Bronco Sport (lançado em 2021) e a picape intermediária Maverick (em 2022), ambos importados do México, e o furgão Transit, vindo do Uruguai desde 2021 –, que a Ford traz ao Brasil o novo Territory.
Um dos destaques do SUV médio, que continua a ser importado da China e é comercializado em mais de 60 mercados globais, é o preço de R$ 209.990 – o modelo vem somente na versão “top” Titanium, sem opcionais. Uma faixa abaixo dos principais concorrentes apontados pela Ford – os Jeep Compass Série S, que parte de R$ 237.190, e Commander Limited, de R$ 249.190.
O preço é inclusive inferior ao da geração anterior do Territory, recentemente oferecida por R$ 219.390 – com o lançamento da nova geração, os exemplares remanescentes da antiga merecerão descontos expressivos.
E o otimismo da marca norte-americana encontra motivações no produto. Comercializado na China como Equator Sport e desenvolvido junto com a chinesa JMC, o novo Territory é, literalmente, outro veículo – o modelo anterior era uma adaptação do Yusheng S330, também de origem JMC. Na linha Ford, o Territory fica posicionado abaixo do Bronco Sport, que parte de R$ 272.790.
O modelo cresceu em relação ao anterior – está com 4,63 metros de comprimento (cinco centímetros a mais), 1,70 metro de altura (três centímetros a mais) e com um entre-eixos de 2,72 metros (um centímetro maior), mantendo a largura de 1,93 metro.
Em termos de comprimento e entre-eixos, o Territory já posiciona-se entre os maiores do segmento. O Compass, SUV médio mais vendido do país, com seus 4,40 metros de comprimento, é 23 centímetros mais curto que o SUV chinês, e o Commander, com seus 4,77 metros, é 14 centímetros mais longo.
Já na altura e na largura, o novato é maior que Compass e Commander. O porta-malas do Territory também cresceu em relação ao modelo antigo, de 420 para 448 litros, com abertura e fechamento elétricos.
Esteticamente, o novo Territory se aproxima mais da atual identidade global da marca. A grade é larga e o esquema de faróis é dividido em dois, com daylight com uma nova assinatura em leds, assim como o conjunto óptico. A traseira tem lanternas horizontais finas na horizontal.
A quantidade de cromados foi reduzida, algo que ajuda a reforçar a elegância do conjunto. As rodas aro 19 calçam pneus 235/50. O modelo é oferecido nas cores Azul Metálico, Cinza Catar, Branco Bariloche, Marrom Roma, Preto Toronto e Vermelho Vermont (a do modelo testado), sem interferência no preço.
No interior, o painel de instrumentos digital tem 12,3 polegadas, com o multimídia do mesmo tamanho. Há Android Auto e Apple CarPlay sem fio, seis airbags, controle de cruzeiro adaptativo com Stop & Go, monitor de ponto cego, freio de estacionamento eletrônico, controles de estabilidade e tração AdvanceTrac, assistente de partida em rampa e de permanência em faixa, câmera 360 graus, sensores de estacionamento e frenagem autônoma de emergência com alerta de iminente colisão frontal.
Se na aparência e nos equipamentos o novo Territory impressiona, a motorização também evoluiu. O motor do Territory 2024 permanece sendo o 1.5 turbo a gasolina EcoBoost, mas passou a trabalhar com ciclo Otto em lugar do ciclo Miller do modelo anterior e foi totalmente recalibrado.
Devido ao preço mais baixo e à evolução do produto em todos os aspectos, o custo/benefício é a base para que a Ford tenha boas expectativas em relação ao novo Territory.
Nem nos tempos em que dividia as vitrines da marca apenas com a Ranger e o Mustang a geração anterior do Territory chegou a vender muito. Foram 1.512 emplacamentos nos cinco meses de oferta em 2020, 2.232 em 2021, 976 em 2022 e apenas 635 nos sete primeiros meses de 2023.
Agora, como de hábito, a Ford não adianta suas projeções de vendas para o novo Territory. Obviamente, não imagina chegar à média mensal atual de 5 mil emplacamentos do líder do segmento, o Compass – mas, com justificável convicção, pretende ir muito além das 148 unidades mensais obtidas pela geração anterior.
Dentro do Territory 2024, as boas tradições dos interiores da Ford estão dignamente representadas. Além de bonito, o utilitário esportivo médio tem um ambiente tecnológico e revela um padrão de acabamento e montagem aprimorado em relação ao modelo anterior, que já era bom. A marca afirma que o novo utilitário esportivo é líder em espaço interno e em conforto para os passageiros.
De fato, a percepção de espaço é boa em qualquer dos assentos, notadamente nos traseiros. Os bancos dianteiros são ventilados e têm ajustes elétricos (dez posições para o motorista e quatro para o carona). O teto solar panorâmico elétrico de série aumenta a sensação de amplitude a bordo.
Conectividade é um tema valorizado pelos consumidores de SUVs médios –, e o Territory não poderia fazer feio nesse aspecto. Sua central multimídia Sync tem tela de 12,3 polegadas, modos de exibição personalizados e conexão sem fio com Apple CarPlay e Android Auto. Há carregador sem fio para celular no console.
O painel de instrumentos digital personalizável também tem 12,3 polegadas e está reunido em uma moldura única com o multimídia, dando a impressão de formarem uma tela só.
Impressionar o consumidor brasileiro e fazê-lo esquecer dos antigos preconceitos contra os automóveis “made in China” é o desafio do Territory. Tal prevenção parece anacrônica em tempos em que a China tornou-se a principal referência no segmento mais dinâmico e tecnológico da indústria automotiva mundial – o dos carros elétricos.
Na produção de automóveis, os chineses seguem a mesma lógica de aprimoramento contínuo e importação de talentos e ideias de outros lugares, aplicada há décadas nos setores de eletroeletrônicos e de telecomunicações – onde o país asiático assumiu a liderança dos mercados.
Desenvolvido em parceria global, que incluiu a Engenharia da Ford América do Sul, o novo Territory se revela um belo produto automotivo, que nada fica a dever aos concorrentes, tanto os fabricados no Brasil quanto os importados.
Para “acordar” o motor turbinado 1.5 EcoBoost a gasolina do Territory, basta acionar o botão de partida, que felizmente agora fica à direita do motorista. Enquanto o motor da geração anterior – com potência de 150 cavalos e torque de 22,9 kgfm – era mais focado na eficiência energética do que na esportividade, no modelo novo a conversa é outra.
Os atuais 169 cavalos a 5.500 rpm e 25,5 kgfm de 1.500 a 3.500 rpm dão conta de mover os 2.025 quilos do SUV médio com performances mais dinâmicas e instigantes. A aceleração de zero a 100 km/h, conforme a Ford, pode ser feita em 10,3 segundos.
O “turbo lag” que caracterizava o modelo anterior praticamente sumiu. As respostas ao acelerador estão bem mais espertas, com o “auxílio luxuoso” da transmissão automática DCT de 7 velocidades, com dupla embreagem banhada a óleo, que substituiu a automática CVT com 8 marchas simuladas do modelo anterior.
O comando do câmbio é rotativo, as trocas automáticas são extremamente suaves e as mudanças sequenciais no volante e os modos de direção “Normal”, “Eco”, “Serra/Colina” e “Sport” podem adequar as respostas às diferentes demandas.
O conjunto suspensivo oferece boa absorção das imperfeições do asfalto. Segundo a Ford, o consumo fica em 9,5 km/l na cidade e 11,8 km/l na estrada. O silêncio a bordo, que já era um ponto forte do Territory, foi aprimorado. Se no asfalto o comportamento agrada, arriscar nas trilhas pode não ser tão recomendável, pois o Territory não tem opção 4x4 – a tração é apenas dianteira.
Ficha Técnica Ford Territory Titanium
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