As configurações com estética off-road de modelos iminentemente urbanos são uma estratégia usada e abusada nas últimas décadas por praticamente todas as fabricantes de automóveis instaladas no Brasil – e não param de ganhar força. Tais versões contemplam o que os profissionais de marketing das fabricantes chamam de “aspecto aspiracional”.
Mesmo quem compra veículos para uso nas cidades gosta de imaginar que seu veículo ofereça possibilidade de encarar trilhas radicais. Não por acaso, na linha 2022 do subcompacto Mobi, apresentada em maio de 2021, a Fiat lançou a versão Trekking – com a indisfarçável proposta de repetir o sucesso do Argo Trekking, que em 2019 incorporou elementos de estética lameira e tornou-se uma das versões mais procuradas do compacto.
Na linha 2023, apresentada em março do ano passado, o Mobi não teve mudanças – o controle de estabilidade e de tração e o assistente de partida em rampa passaram a ser oferecidos opcionalmente no Pack Safety. Na configuração “top” Trekking, novos desenhos em preto com detalhes em laranja foram adicionados no capô e lateral do hatch.
Aparentemente, a estratégia de lançar a versão Trekking foi correta e o Mobi tem ganhado posições no ranking nacional de vendas – era o 15º automóvel mais emplacado do Brasil em 2020 e saltou para o nono lugar em 2021, quando surgiu a tal variante com adereços off-road.
Em 2022, foram vendidas cerca de 73 mil unidades do Mobi, que colocaram o subcompacto da Fiat na posição de quinto automóvel mais emplacado do país – superado somente pela picape Fiat Strada, pelo hatch Hyundai HB20, pelo hatch Chevrolet Onix e pelo sedã Onix Plus.
O Mobi tem 3,56 metros de comprimento, 1,66 metro de largura, 1,55 metro de altura e 2,30 metros de distância de entre-eixos. Com somente 969 quilos (na Trekking), é um dos carros mais leves do Brasil. Apesar de estar há seis anos no mercado e sem grandes mudanças no visual, suas linhas e silhueta se mantêm atuais.
A frente traz faróis protuberantes que se ligam à grade em preto brilhante. A tampa do bagageiro continua a ser em vidro preto – característica que confere à traseira do subcompacto produzido na cidade mineira de Betim um aspecto de eletrodoméstico.
O porta-malas é pequeno (215 litros) e o banco traseiro não é bipartido, o que limita as possibilidades de rebatimento. Para reforçar a jovialidade do Mobi na versão Trekking, as barras longitudinais de teto ampliam a altura e tornam o carro mais imponente. A configuração vem com capota bicolor, calotas escurecidas, retrovisores com pintura black piano, adesivo preto na coluna do meio do carro e maçanetas na cor da carroceria.
Adesivos com grafismos que remetem a tatuagens tribais enfeitam o centro do capô e a parte inferior do porta-malas. As rodas são de aço estampado com medidas 5.5 x 14 polegadas com calotas integrais, calçadas com pneus com baixa resistência à rolagem 175/65 R14. O subcompacto tem 19 centímetros de altura livre em relação ao solo.
Na parte interna, o Mobi Trekking traz volante multifuncional, console de teto com porta-objetos, espelho auxiliar e central multimídia UConnect com tela sensível ao toque de 7 polegadas, espelhamento de smartphones com Android Auto e Apple CarPlay com projeção sem fio, que pode parear até dois celulares ao mesmo tempo.
A tela personalizável exibe controle de todas as funções do veículo, com o sistema dando suporte a múltiplas conexões via Bluetooth e computador de bordo. A configuração conta ainda com sensor de pressão dos pneus e porta-malas com tapete em carpete. Traz somente os airbags obrigatórios frontais, para motorista e passageiro.
As duas opções da linha Mobi – além da Trekking, há também a básica Like – são movidas pelo mesmo motor, o veterano 1.0 Fire Evo Flex aspirado com 74 cavalos de potência com etanol a 6.250 rotações por minuto e 9,7 kgfm de torque a 3.850 rpm, sempre associado ao câmbio manual de 5 velocidades.
Segundo a Fiat, o subcompacto acelera de zero a 100 km/h em 13,8 segundos e pode chegar a 152 km/h com o mesmo combustível. Para o Inmetro, o Mobi tem consumo urbano de 13 km/l com gasolina e de 8,9 km/l com etanol e rodoviário de 14,1 km/l e de 10,1 km/l, respectivamente – números que se traduzem em um conceito A em termos de consumo.
O preço do Mobi Trekking começa em R$ 70.990 (no Estado de São Paulo, onde as tributações são mais elevadas, parte de R$ 72.901), exatos R$ 3,5 mil a mais que a versão de entrada Like. Todavia, o preço inicial só vale para a carroceria na cor Preto Vulcano.
Nas sólidas Branco Banchisa e Vermelho Montecarlo (a do modelo testado), ambas com teto preto, o preço inicial sobe R$ 850. Na perolizada Cinza Strato, também com teto preto, o aumento é de R$ 1.200. E na metálica Cinza Silverstone, sempre com teto preto, a fatura aumenta em R$ 1.750.
A Trekking ainda pode ser incrementada com três pacotes de opcionais. O Pack Safety acrescenta controle de estabilidade e de tração e Hill Holder (assistente de partida em aclive) e custa R$ 700. No Pack Style II, por R$ 2.200, são incluídos retrovisores externos elétricos com Tilt Down e luzes indicadoras de direção e rodas de liga leve.
O Pack Top (presente no modelo avaliado) agrega faróis de neblina, volante com regulagem de altura, cintos dianteiros com regulagem de altura, comando interno de abertura do porta-malas e do tanque de combustível, alarme antifurto e rodas de liga leve escurecidas, por R$ 3.800.
Em um subcompacto, os espaços a bordo previsivelmente são limitados. No Mobi, os ocupantes dos bancos dianteiros até se acomodam bem, mas, no traseiro, o espaço é bastante comedido. Pelo menos há facilidade no acesso, devido ao bom ângulo de abertura das portas traseiras (75 graus).
Há nichos para armazenar pequenos objetos no console central, nas portas dianteiras e no console de teto – de série na versão Trekking. A decoração dos bancos de tecido com pespontos em branco é outro detalhe que diferencia a versão. Há plásticos rígidos por toda parte no habitáculo, porém, são de textura agradável.
A central multimídia UConnect de 7 polegadas adotada no Mobi Trekking é a mesma que equipa as picapes Toro e Strada. A interatividade do usuário com o veículo é aprimorada por meio das funções de navegação via Waze e Google Maps, música (streaming/MP3), reconhecimento de voz (Siri/Google Voice), leitura e resposta de mensagem “handsfree” para SMS e WhatsApp e integração com calendário. Como o habitáculo é pequeno, o ar-condicionado refrigera rapidamente o ambiente. O porta-malas de 215 litros é proporcional ao porte do carro.
Com seu veterano motor aspirado 1.0 Fire Evo Flex com 74 cavalos e 9,7 kgfm com etanol, o “carrinho” não chega a empolgar em termos de esportividade. No entanto, mostra-se ágil na maioria das situações no trânsito urbano. Pesar somente 969 quilos certamente traz vantagens tanto no desempenho quanto na economia de combustível.
Nas subidas íngremes, principalmente se o carro estiver cheio, é necessário reduzir marchas e acelerar forte para manter o embalo. O Mobi era bem mais instigante de 2017 a 2020, quando usava o motor Firefly, com 5% a mais de potência e 15% a mais de torque – e ainda era mais econômico. Na linha 2023, o motor Fire recebeu evoluções tecnológicas para melhorar sua eficiência
Os 3,56 metros de comprimento e 1,68 metros de largura do Mobi fazem que o carro caiba em qualquer vaga ruim. Apesar de a direção ser hidráulica e não contar com assistência elétrica, o baixo peso do Mobi permite que o volante seja movimentado sem grande esforço nas manobras. Em um país onde muitas cidades têm condições de tráfego semelhante às das trilhas – com buracos, valetas e lombadas –, os 19 centímetros de altura em relação ao solo e o ângulo de entrada de 24 graus representam alguma vantagem.
Mas situações de off-road real devem ser evitadas – os finos pneus de 14 polegadas não colaboram para isso. No uso rodoviário, a trepidação e o ruído do motor desestimulam velocidades de cruzeiro elevadas. Às vezes, falta fôlego ao “powertrain” quando é preciso esticar as marchas, o que exige atenção nas ultrapassagens. O câmbio manual de 5 marchas é pouco preciso e o curso é um tanto longo, mas pelo menos os engates são macios.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta