A concessão e o saldo de crédito para o financiamento de veículos aceleraram ao longo do último ano, com a retomada na produção das montadoras e uma melhora no perfil de crédito dos clientes. Os efeitos foram vistos na carteira de crédito dos bancos no segundo trimestre, em um marco da retomada do apetite das instituições por linhas de maior risco.
Em junho deste ano, a concessão de financiamentos automotivos no País somou R$ 16,8 bilhões, de acordo com o Banco Central. O número foi 32,5% maior que o do mesmo mês do ano passado, em que apareciam os primeiros sinais de recuperação das concessões após um 2022 de crédito restrito. A inadimplência caiu de 5,5% para 4,5% no espaço de um ano.
A liberação de crédito acompanha o crescimento dos emplacamentos de veículos novos, de 15,6% no primeiro semestre deste ano, de acordo com dados da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave). As vendas de seminovos e usados subiram 9,6% no mesmo período.
"Passamos 2022 desacelerando o transatlântico, e da mesma forma que fomos o primeiro banco a tirar um pouco o pé, começamos a perceber no começo de 2023 uma situação melhor", afirma Cezar Janikian, diretor da Santander Financiamentos, líder em financiamento automotivo no País. "As montadoras começaram a ter uma maior agressividade comercial, e a aceleração efetivamente começou no final de 2023."
O impulso comercial produziu um fenômeno incomum: um primeiro semestre de vendas fortes, sendo que a sazonalidade do mercado de automóveis é mais positiva na segunda metade do ano. "Isso geralmente não acontecia, em janeiro geralmente acontecia uma queda em relação a dezembro", diz o diretor da Bradesco Financiamentos, Henrique Fernandes.
Este desvio à regra produziu recordes nos bancos. No Santander, foram R$ 26,5 bilhões liberados no primeiro semestre; no BV, que lidera o financiamento a veículos leves usados, foram R$ 13,6 bilhões.
"Tem fatores macroeconômicos que ajudaram o mercado a ser maior, mas nós estávamos preparados em termos de capacidade de crédito e preço para fazer valer a nossa presença e liderança", diz Jamil Ganan, superintendente de Auto Finance, Solar e Empréstimo do BV. O banco tem cerca de 1.000 agentes comerciais espalhados pelo País, e mais de 50 filiais.
No primeiro semestre, a cada carro novo emplacado no Brasil, cinco usados foram vendidos. Os bancos acreditam que esse número deve convergir para uma relação de um para quatro, diante da normalização da produção das montadoras. Entre 2021 e 2022, a pandemia da covid-19 afetou as cadeias de suprimento, reduziu a produção e fez o preço, tanto dos novos quanto dos seminovos, disparar.
"A base de ativos potenciais deve ter um aumento de cerca de 15%", diz o presidente da Associação Nacional das Empresas Financeiras de Montadoras (Anef), Paulo Noman. De acordo com ele, o giro aquecido no mercado de usados ajuda os bancos de montadoras e também as financeiras a recuperarem valores quando retomam carros cujo financiamento não foi pago.
Ainda assim, a relação não deve voltar à paridade que, segundo Noman, se via em 2014. Além de a produção das montadoras estar menor, o preço médio do carro novo subiu, com a alta dos custos, em especial os atrelados ao dólar. "No passado, as montadoras vendiam também os carros populares, que eram a tração desse mercado", afirma Rodrigo Paulino Duarte, superintendente executivo da Bradesco Financiamentos.
Outro impulso para os bancos foi o fato de que o brasileiro está financiando mais a compra do carro, e pagando menos à vista. O número de veículos financiados chegou a 49% do total no primeiro semestre, de acordo com a Anef, a maior fatia em quatro anos. Dados da B3, que faz o registro dos veículos dados em garantia, apontam um crescimento de 26% em um ano na quantidade de compras que foram financiadas, para 1,773 milhão no segundo trimestre deste ano.
A retomada dos financiamentos se dá com planos diferentes dos vistos no começo da década passada, que foi o auge da indústria automotiva nacional em produção e vendas. O prazo médio das operações, por exemplo, caiu para 48 meses, praticamente extinguindo os parcelamentos longos, de até 96 meses, vistos no começo dos anos 2010. Além disso, a entrada passou a ser mais representativa.
De acordo com o BC, em junho, a taxa média anual dos financiamentos estava em 25,5%, uma queda de 1,3 ponto porcentual em um ano. Embora mais barato que linhas de crédito pessoal, já que o próprio automóvel é a garantia, o financiamento automotivo não teve um barateamento maior porque os juros futuros não arrefeceram.
"Em um financiamento de 48 meses, a taxa futura base para a captação é a de 48 meses", afirma Janikian, do Santander. A partir do piso, definido com os juros futuros como balizador, os bancos atribuem a cada cliente uma taxa diferente, a depender do tamanho da entrada, da idade do veículo e do perfil de risco do tomador.
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