Em janeiro deste ano, a Ford surpreendeu o mercado ao anunciar a decisão de encerrar a fabricação de automóveis no Brasil, após cento e dois anos de atuação, alegando que a produção local causava prejuízo. Após fechar as fábricas de Taubaté (SP) e Camaçari (BA) e tirar de linha os compactos nacionais Ka e EcoSport, concentrou suas atividades no Brasil na importação da picape média Ranger (Argentina), do “pony car” Mustang (Estados Unidos) e do utilitário esportivo Territory (China).
Agora, chega às concessionárias o Bronco Sport, um utilitário esportivo importado do México. Com ele, além de aproveitar a sempre aquecida demanda por SUVs, a Ford quer reafirmar seu novo posicionamento no mercado local, no qual pretende oferecer veículos importados de elevado valor agregado – e que proporcionam margens de lucros generosas.
Para a missão de colocar sua imagem no Brasil em um novo patamar, a Ford escolheu a sexta geração do Bronco, lançada no ano passado nos Estados Unidos, para resgatar um modelo tradicional no mercado norte-americano – teve cinco gerações produzidas de 1966 a 1996.
Como o Bronco anterior era praticamente desconhecido no Brasil, por aqui, a aposta no novo modelo se concentra mais nas habilidades off-road com versatilidade para o uso urbano, em um estilo que poderia ser definido como “rústico chique” – ou seja, rural e abrutalhado na estética e refinado no acabamento e na tecnologia. O Bronco Sport chega em versão única, a Wildtrak, com motor 2.0 EcoBoost a gasolina.
O perfil quadrado e os faróis redondos são uma inequívoca releitura do Bronco dos anos 60. Na frente alta, um elemento gráfico escurecido engloba faróis de leds e grade. Dentro dele, a assinatura luminosa redonda se conecta com uma barra iluminada com o nome “Bronco” em destaque. As lanternas de leds são verticais e posicionadas fora da tampa do porta-malas, em um desenho que remete ao antigo Land Rover Freelander. A marca da Ford aparece apenas no canto direito da tampa do porta-malas, de forma discreta.
Como é usual nos SUVs, volumes esculpidos no capô, nas portas e nas caixas de rodas ajudam a transmitir robustez. A carroceria é em dois tons – com teto, colunas, para-choques e molduras laterais em preto. Nos faróis, lanternas, vidro traseiro e bocal de abastecimento encontram-se os chamados “easter eggs”, discretos grafismos com referências ao veículo – uma firula de design já popularizada em modelos da Jeep, como o Renegade e o Compass.
No interior do Bronco, o acabamento é em dois tons, preto e marrom. Os bancos de formas esculpidas têm revestimento em couro e camurça na parte superior e dispõem de aquecimento. O painel de instrumentos digital tem tela de 6,5 polegadas e há tomadas elétricas de 110V e 12V, além de nove airbags (frontais, laterais dianteiros, laterais traseiros, cortinas e joelhos do motorista).
O SUV traz tecnologias semiautônomas como piloto automático adaptativo com Stop & Go, assistente de frenagem com detecção de pedestre, faróis com luz alta automática, alerta de ponto cego, sistema de alerta e centralização na faixa, assistente de manobras evasivas, farol alto automático, câmera traseira de visão 180 graus e reconhecimento de placas de velocidade. A central multimídia Sync 3 com tela de 8 polegadas inclui som Bang & Olufsen e carregador sem fio para celular. Também estão disponíveis os recursos de conectividade do aplicativo FordPass.
Sob o capô, o Bronco Sport abriga um motor 2.0 EcoBoost a gasolina com turbo e injeção direta, que gera 240 cavalos e 38 kgfm de torque. A transmissão automática SelectShift de 8 velocidades tem teclas para trocas manuais no volante. O Bronco Sport é oferecido no Brasil por R$ 256.900. Um valor elevado, porém abaixo dos R$ 322.950 cobrados pelo Land Rover Discovery Sport SE, que a Ford imagina ser o principal concorrente do seu novo SUV no Brasil. O Audi Q3, o BMW X1, o Mercedes GLA e o Jaguar E-Pace são outros rivais previstos – e a escolha dos adversários explicita as ambições de ser premium da marca do oval azul.
A Ford evita a comparação com o líder do segmento de SUVs médios, o Jeep Compass (que parte de R$ 224 mil em sua versão “top” Trailhawk), alegando que seu modelo é bem mais equipado e potente. Para o segundo semestre, a investida da Ford será o furgão Transit, importado do Uruguai. Estão cotados ainda para o mercado brasileiro o crossover híbrido plug-in Escape e uma picape monobloco baseada no Bronco, a Maverick, igualmente produzida no México.
No interior do Bronco, a primeira coisa que atrai o olhar é o emblema cromado do cavalo escoiceando, bem no centro do volante – “Bronco” é o nome de uma raça de cavalos selvagens norte-americanos. A maioria dos revestimentos aparenta qualidade, e a montagem é de bom padrão. Os bancos são ergonômicos e, nos traseiros, o teto elevado aumenta a percepção de espaço. Os porta-objetos são bem concebidos.
A central multimídia Sync 3 com tela sensível ao toque de 8 polegadas tem comando de voz para telefone, ar-condicionado, áudio e navegação, com Apple CarPlay e Android Auto. É bastante intuitiva e facilita o uso. O poderoso sistema de áudio da Bang & Olufsen tem mil watts de potência, dez alto-falantes e subwoofer. E o aplicativo FordPass permite usar o celular para travar e abrir as portas, dar partida e ligar o ar-condicionado e checar o odômetro, entre outros atributos.
O porta-malas com 580 litros tem um sistema de gerenciamento de carga que permite montar uma prateleira completa ou parcial, uma divisória e até uma mesa. Conta ainda com alças e ganchos para fixação de objetos e equipamentos. O acesso pelo vidro traseiro, com abertura independente, facilita o manuseio de bagagens.
A parte interna da tampa do porta-malas traz um sistema de iluminação externa para atividades à noite ao ar livre com o bagageiro aberto (como se fosse uma varanda com toldo). Há até um inusitado abridor de garrafas na coluna do bagageiro. O assoalho emborrachado de polipropileno facilita a limpeza depois das trilhas.
O motor a gasolina 2.0 EcoBoost do Bronco Sport é da mesma família que era usada no sedã mexicano Fusion, com aprimoramentos. Com turbo e injeção direta, gera 240 cavalos a 5.500 giros e 38 kgfm de torque e 3 mil rpm. Combinado ao peso de 1.718 quilos do veículo, entrega uma relação peso/potência de 7,16 kg por cavalo. A curva de torque plana, com boa parte da força já disponível a partir de 1.500 rotações, explica o vigor do modelo que, segundo os dados da Ford, acelera de zero a 100 km/h em 8 segundos.
A transmissão automática SelectShift de 8 velocidades tem teclas para trocas manuais no volante. Os pneus todo-terreno Pirelli Scorpion AT 225/65 R17 dão bom suporte ao desempenho, tanto no asfalto quanto no off-road. A capacidade de fazer curvas em alta e andar forte é incomum para um veículo de carroceria tão elevada. Também surpreendente é o bom diâmetro de giro e a precisão na direção.
No off-road, surgem as vantagens do entre-eixos relativamente curto, de 2,67 metros, e dos generosos ângulos de entrada (30,4 graus), de saída (33,1 graus) e de transposição de rampa (24,4 graus) e da distância livre do solo de 22,3 centímetros. A capacidade de imersão é de 60 centímetros. Os sete modos de gerenciamento de terreno – “Normal”, “Eco”, “Esportivo”, “Escorregadio”, “Areia”, “Rocha” e “Lama/Terra” – ajustam direção, controle eletrônico de estabilidade e tração, transmissão e resposta do motor.
Contudo, o seletor não é tão intuitivo e eventualmente um motorista pouco habituado (ou um manobrista) pode acionar o modo off-road sem querer. O módulo do controle de estabilidade inclui um sensor de inclinação lateral e longitudinal, que pode ser visualizado na opção off-road – uma das onze telas disponíveis no painel. Dois ganchos frontais facilitam o reboque em caso de atoleiro.
O piloto automático off-road é um parceiro efetivo em subidas, descidas e terrenos escorregadios. Em velocidade de até 32 km/h, ou abaixo de 10 km/h em ré, ele comanda o acelerador e os freios para que o motorista possa se concentrar na direção. A tração traseira com dupla embreagem controla as rodas de forma independente, variando o torque, e ainda pode desconectar a tração 4x4 para economizar combustível.
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