A decisão de fechar suas fábricas no Brasil, no início de 2021, rendeu muitas críticas à Ford. Contudo, a proposta de atender ao mercado brasileiro com a importação de produtos de maior valor agregado fez a marca norte-americana recuperar uma lucratividade que parecia inatingível de seu tempo de produção dos compactos Ka e EcoSport em Camaçari, na Bahia.
Em 2023, a Ford vendeu 28.711 carros, o que lhe rendeu o 13º lugar no ranking de marcas com maior número de vendas. Em relação a 2022, foi a quarta marca com maior crescimento – de 37,9% – e sua participação no mercado nacional aumentou de 1,06% para 1,32%.
Puxados pela picape média Ranger argentina, que no ano passado recebeu uma importante renovação e responde por dois em cada três Ford vendidos no Brasil, os negócios são também embalados pelas picapes Maverick mexicana e Raptor tailandesa, pelos utilitários esportivos Territory chinês e Bronco Sport mexicano, pelo SUV-cupê elétrico Mustang Mach-E mexicano, pelo cupê Mustang norte-americano e pela van Transit montada no Uruguai, com uma versão elétrica E-Transit importada da Turquia.
Mas a aposta – literalmente – mais vistosa da Ford foi no apetitoso segmento das picapes “full size” – até então dominado solitariamente pela Ram, marca do grupo Stellantis. E começou quando as primeiras unidades da F-150 chegaram no Brasil há um ano, no final de abril e no início de maio de 2023, importadas dos Estados Unidos.
Focada no topo da pirâmide do agronegócio brasileiro, a F-150 rendeu bons negócios para a Ford – mais de 1.100 unidades já foram emplacadas desde o lançamento, o que representa cerca de R$ 550 milhões em vendas. Contudo, mais do que gerar faturamento, a F-150 é um produto estratégico na trajetória de resgate da imagem da Ford no Brasil.
Há 47 anos, é a picape mais vendida do mercado norte-americano e, nos últimos 42 anos, lidera também o ranking geral de vendas de veículos automotivos nos Estados Unidos.
É comercializada no Brasil em duas versões: a Lariat, com estilo mais aventureiro e muitos detalhes em preto, por R$ 479.990, e a Platinum, que ostenta mais requinte e mais cromados, por R$ 519.990. Em ambas, a F-150 tem o porte de um caminhão. São 5,88 metros de comprimento – 53 centímetros a mais que a Ranger –, 2,09 metros de largura (2,43 metros com os espelhos), 1,96 metro de altura e 3,68 metros de entre-eixos, com 23,8 centímetros de vão livre em relação ao solo.
A caçamba tem 1,70 metro de comprimento e 1,52 metro de largura, com 53 centímetros de profundidade – permite levar até 1.370 litros e 681 quilos na versão Platinum. A suspensão é independente “double wishbone” na dianteira e com eixo rígido com feixes de molas na traseira.
O motor 5.0 V8 Coyote a gasolina gera 405 cavalos a 6 mil giros e 56,7 kgfm de torque a 4.250 rpm e move as duas versões da F-150, sempre associado a uma transmissão automática de 10 marchas com opção de trocas manuais – o mesmo “powertrain” do cupê Mustang.
O sistema start-stop desliga o motor nas paradas durante o trânsito e religa automaticamente quando o motorista solta o freio. O modelo oferece oito modos de condução e trações 4x2, 4x4 Low, 4x4 High e 4x4 automática. Além dos sistemas de assistência ao motorista do Co-Pilot 360 Assistant, a segurança é reforçada pelos oito airbags – frontais, laterais, de cortina e de joelhos para motorista e carona –, pelo ABS nas quatro rodas e pelos controles de rolagem, de estabilidade, de tração e de descida.
A Platinum é a versão mais chamativa da F-150. Nela, a imensa grade aerodinamicamente ativa é cromada, cercada pelos faróis full LED quadráticos, com conversão dinâmica e farol alto automático. A assinatura de LED dos faróis se estende aos auxiliares de neblina instalados no para-choque “musculoso”.
Rodas de aro 20, retrovisores, maçanetas e estribos retráteis são igualmente cromados. A inscrição “FX4” decora as laterais da caçamba, próxima às lanternas. Na traseira, um grande aplique aluminizado com o nome da versão Platinum atravessa toda a tampa da caçamba, que conta com abertura e fechamento elétrico na chave e um degrau para facilitar o acesso.
A caçamba é revestida com o protetor emborrachado Spray-In e conta com iluminação em LED, tomada de 110V e nichos com trava. A versão “top” da F-150 é oferecida nas cores Preto Vesúvio, Prata Orvalho, Vermelho Zadar, Cinza Avalanche, Cinza Torres, Azul Mônaco, Cinza Glasgow e Branco Nur (a do modelo testado).
Como a visão externa já indica, por dentro, a cabine da F-150 Platinum é imensa. Os estribos retráteis e as alças são providenciais para ajudar na tarefa de embarcar em um modelo tão alto. O ambiente oferece amplos espaços e conforto de sobra para motorista e quatro passageiros, com tudo muito bem posicionado e funcional.
Os bancos em couro são tão grandes e confortáveis que mais parecem poltronas. Na traseira, o assoalho reto otimiza a área para as pernas. O teto é tão alto que dá até para entrar na cabine sem tirar o chapéu – e a sensação de amplitude é potencializada pelo teto solar panorâmico, de série.
No console central, a manopla de câmbio retrátil permite criar uma mesa de apoio para equipamentos, como laptops. O cluster digital tem tela multicolorida de 12 polegadas configurável e o multimídia Sync 4 com tela “touchscreen” de 12 polegadas tem conectividade sem fio para Apple CarPlay e Android Auto e reconhecimento de comandos de voz.
O som Bang & Olufsen inclui 18 alto-falantes (inclusive nos encostos de cabeça dianteiros) e amplificador, aparato suficiente para permitir performances impressionantes.
É fácil ajeitar-se a bordo da F-150. Há ajustes elétricos para a altura dos pedais, para altura e profundidade do volante e para os bancos elétricos, com dez posições para o motorista (com memória) e oito para o carona.
Não faltam nichos para guardar coisas – o espaço que fica entre os bancos frontais é enorme. Sob o banco traseiro, há outro espaço de 55 litros (com chave). O aplicativo Fordpass Connect disponibiliza funções como fechamento e destravamento remoto, partida também remota com climatização, pressão dos pneus e sistema de localização.
A F-150, uma típica representante do “american way of life”, parece um pouco hiperdimensionada em relação ao trânsito caótico e dominado pelos compactos das grandes cidades brasileiras. O tamanho e os ângulos necessários para se fazer as curvas evidentemente prejudicam a circulação da picape da Ford em meio aos engarrafamentos cotidianos.
Achar uma vaga, então, requer paciência, mas o sistema de câmeras e sensores de estacionamento ajuda a não esbarrar em nada. Com o auxílio da eletrônica, a “picapona” se revela dócil – e o fato de os outros carros tenderem a abrir espaço para algo do porte da F-150 também colabora.
Nas estradas, a F-150 fica bem mais à vontade e se comporta como um carro de luxo com caçamba. As respostas do conjunto motor/câmbio são tão elegantes que nem parecem de uma picape. Nas ultrapassagens, a potência de 405 cavalos e o torque de 56,7 kgfm mostram serviço – basta pisar que o V8 faz a F-150 ignorar seu tamanho e acelerar como se fosse um kart, apesar dos seus 2.517 quilos.
De acordo com a Ford, a picape faz de zero a 100 km/h em 7,1 segundos. O ronco do motor V8, alto e grave, reforça a vontade de se andar rápido. Mesmo com a caçamba vazia, a F-150 se comporta com surpreendente agilidade e muita estabilidade nos trechos sinuosos.
O consumo fica em 6,3 km/l na cidade e em 8,6 km/l na estrada. No entanto, como a capacidade do tanque de combustível é de absurdos 136 litros, a F-150 tem uma autonomia de mais de mil quilômetros. Com a gasolina beirando os R$ 6, encher totalmente um tanque vazio pode bater os R$ 800.
Além dos modos de condução mais funcionais no asfalto – “Normal”, “Eco”, “Esportivo” e “Escorregadio” – e dos sistemas de assistência ao motorista (que incluem piloto automático adaptativo, assistente de faixas, monitor de ponto-cego, alerta de colisão com frenagem automática e assistente de cruzamentos), a segurança é reforçada pelos controles de rolagem, de estabilidade, de tração e de descida.
Os freios respondem com eficiência. Contudo, apesar de todas as tecnologias, é sempre recomendável reservar um espaço adicional para as frenagens em um veículo desse porte.
No off-road, quem “mostra serviço” são os modos de condução “Neve Intensa/Areia”, “Lama/Terra” e “Rocha/Avanço Lento”, que podem ser associados às trações 4x2, 4x4 Low, 4x4 High e 4x4 automática.
Mas o melhor nos lamaçais da vida é que o torque brutal da F-150 já aparece em boa parte nas rotações baixas – ou seja, nunca falta força. O bloqueio do diferencial traseiro, as rodas de aro 20 e os pneus Hankook 275/65 A/T, para todo tipo de terreno, também dão sua contribuição para o bom desempenho nas trilhas.
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