SÃO PAULO, SP - A montadora sul-coreana Hyundai vai assumir as vendas e a fabricação de todos os seus modelos no Brasil, além das importações. Até agora, metade do portfólio de carros ficava sob a tutela da brasileira Caoa, que fabricava e vendia o SUV Tucson, por exemplo.
As empresas entraram em disputa judicial pelo direito sobre os carros nos últimos anos, mas chegaram a um acordo, já aprovado pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica). O novo formato da parceria foi divulgado na última semana.
A partir de agora, a Hyundai vai gerenciar todo o seu portfólio, mas em contrapartida continuará a encomendar a fabricação da Caoa. A ideia é trazer novas opções de carros para o mercado brasileiro e aproveitar a capacidade da fábrica de Anápolis (GO). Até 2029, a Caoa pretende investir R$ 3 bilhões na expansão da unidade. Além da garantia das encomendas, a empresa brasileira terá participação nos lucros das vendas.
Com os carros sob responsabilidade da própria Hyundai, o consumidor deve notar as mudanças principalmente nas concessionárias. Agora, o grupo Caoa poderá vender todo o portfólio, incluindo o HB20 e o Creta, que antes só eram encontrados nas revendas autorizadas da HMB (Hyundai Motors Brasil). A rede de concessionárias ficará unificada, alcançando 250 lojas.
"A partir de 2012, com a chegada direta da Hyundai, tivemos um grande problema. A marca ficou partida em duas", diz Airton Cousseau, CEO da Hyundai para as Américas Central e do Sul.
Segundo o executivo, os ganhos com o acordo devem fazer a Hyundai subir de posição no ranking de vendas no Brasil. O motivo é a alta nas entregas de carros a partir das encomendas à Caoa, já que a fábrica própria de Piracicaba (interior de São Paulo) está no limite de produção de 200 mil veículos por ano.
Hoje, a montadora sul-coreana ocupa o quinto lugar em vendas no país. Ganhos na exportação para a América Latina também devem ser percebidos
Com a presença unificada no Brasil, o presidente da Hyundai afirma que o aumento do portfólio está sendo considerado com modelos de todos os segmentos, já que a fábrica de Anápolis é flexível. No entanto, Airton afirma que é preciso escolher o modelo "certo".
A nacionalização de automóveis híbridos e elétricos deve ganhar destaque no novo cenário, já que ocorre a retomada gradativa do Imposto de Importação.
O CEO da Hyundai afirma ainda que não é possível garantir redução de preços, mas que o novo acordo deixará a empresa mais competitiva no mercado.
Antes da decisão, a Caoa já tinha se pronunciado sobre o futuro da marca no Brasil. Durante a apresentação do SUV Tiggo7 Sport, na última segunda-feira (26), Carlos Alberto de Oliveira Andrade Filho, presidente do grupo Caoa, disse que a empresa estuda abrir o capital na bolsa por meio de IPO (oferta inicial de ações).
Além da Hyundai, a Caoa tem parceria com a chinesa Chery, com a qual também tem negociações em andamento. Atualmente, a sua produção se concentra em Anápolis. O foco os investimentos de R$ 3 bilhões está no aumento de 150% da capacidade de produção do SUV Tiggo 5X, além de manutenção das ações de marketing e de pós-vendas realizadas pela montadora. Foram contratados 1.300 funcionários, que hoje trabalham em dois turnos.
E mais um aporte foi confirmado nesta semana. A empresa diz ter investido R$ 50 milhões em um novo centro de distribuição, localizado em Franco da Rocha (Grande São Paulo). O espaço de 26,8 mil metros quadrados substitui o antigo - que também ficava na região metropolitana de São Paulo, em Barueri.
Há, contudo, uma fábrica fechada. Em maio de 2022, a montadora interrompeu a produção em Jacareí (interior de São Paulo). A princípio seria uma paralisação temporária, mas não houve nenhuma previsão de retorno. Essa unidade está sendo negociada com o próprio grupo Chery, que vai trazer as marcas Omoda e Jaecoo ao Brasil - e já pensa em nacionalizar esses veículos híbridos. São modelos posicionados acima dos Caoa Chery vendidos atualmente.
Embora pense em ter sua linha própria de veículos, a empresa brasileira vai manter a montagem dos modelos de origem chinesa em Goiás. Um dos planos é a nacionalização do híbrido Tiggo8 PHEV, que pode rodar com gasolina e eletricidade.
A ideia é lançar modelos próprios nos próximos anos, mas os planos ainda são embrionários, de acordo com o presidente da Caoa, Carlos Alberto de Oliveira Andrade Filho. De acordo com o executivo, o custo será decisivo na escolha de um modelo próprio. "Acredito que o mercado brasileiro tem espaço para novas marcas e modelos, mas para o lançamento de uma marca nossa precisamos pensar numa calibragem específica para o país."
A Hyundai chegou ao Brasil no início dos anos 1990, logo após a reabertura do mercado às importações. Em 1999, Carlos Alberto de Oliveira Andrade (1943-2021), conhecido como "Dr. Carlos" e criador do grupo Caoa, assumiu a operação da montadora no Brasil. O empresário também foi responsável pela primeira fase de importações e venda da Renault e, hoje, tem 50,7% de participação nas operações da chinesa Chery no Brasil.
Para o herdeiro e presidente da empresa, Carlos Alberto de Oliveira Andrade Filho, os ganhos para a companhia devem ser principalmente na redução do custo de produção por unidade fabricada, graças a um esperado aumento das encomendas pela Hyundai -e consequente melhora no poder de barganha junto a fornecedores.
Nas concessionárias, também deve haver ganho de sinergia com redução do custo da operação por unidade vendida. Segundo Carlos Alberto de Oliveira Andrade Filho, a economia em todas as frentes deve chegar a R$ 1 bilhão.
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