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Motor flex faz 20 anos: entenda por que ele continua em alta

Motor flex faz 20 anos: entenda por que ele continua em alta

Tecnologia desenvolvida no Brasil dá a possibilidade de escolha do tipo de combustível para abastecer o veículo de acordo as necessidades do motorista

Publicado em 24 de março de 2023 às 18:04

Ícone - Tempo de Leitura 4min de leitura
O VW Gol Total Flex de 2003 foi o primeiro modelo biocombustível a ser lançado no Brasil
O VW Gol Total Flex de 2003 foi o primeiro modelo bicombustível a ser lançado no Brasil. (Volkswagen/Divulgação)

Há 20 anos, a Volkswagen lançava no Brasil o Gol Total Flex 1.6, primeiro modelo a ter um motor flex fuel. Isso significava que, a partir daquele momento, era possível escolher usar etanol ou gasolina, de forma alternada ou simultânea, no carro.

Até então, era preciso comprar um carro movido a gasolina ou um a álcool, e a sorte estava lançada para os reajustes de preços em cada combustível. Com essa novidade, os motoristas poderiam abastecer com o que ficava mais em conta do momento ou até rodar com ambos juntos.

Em março de 2003, a VW deu o pontapé inicial para oficializar a transição dos veículos a combustão para automóveis que propiciavam uma mobilidade urbana mais limpa e sem abrir mão do desempenho. Por conta da competitividade que essa tecnologia ganhou, as outras montadoras seguiram a mesma tendência. Hoje, a tecnologia está presente, em praticamente todos os modelos produzidos no Brasil.

Entretanto, duas décadas depois, muitas pessoas continuam sem entender como essa tecnologia funciona e por que ainda continua em alta no mercado.

Como funciona?

Um motor flex é capaz de funcionar à base de combustíveis diferentes. No entanto, indo contra o senso comum, o técnico em injeção eletrônica, Henriques Caldas, explica como esse mecanismo se comporta. “O motor flex está preparado para trabalhar com álcool, mas possui uma flexibilização eletrônica para aceitar a gasolina, ao contrário do que muita gente acredita”, aponta.

Os motores flex são calibrados para rodar com os dois combustíveis em qualquer proporção
Os motores flex são calibrados para rodar com os dois combustíveis em qualquer proporção. (Shutterstock)

Para o especialista, por conta dessa confusão, até mesmo os profissionais automotivos ainda não estão 100% preparados para fazer a manutenção nesses motores. “Embora o carro com motor flex tenha a mesma composição do que o tradicional, ele possui um software específico para funcionar com essa modalidade, e isso pode ser um impedimento para alguns mecânicos que trabalham com o flex como se ele fosse originalmente a gasolina”, observa.

Portanto, o motor é flexível (daí o nome) para queimar tanto a gasolina quanto o etanol. No escapamento, um componente chamado sonda lambda reconhece qual é o combustível utilizado e "informa" a central eletrônica do carro, que ajusta o motor para que ele desenvolva o desempenho ideal para aquele tipo de abastecimento presente no tanque.

Nem sempre foi assim

No início, os carros flex tinham tanquinho de partida a frio. Em 2009, esse item começou a ser abolido, com a entrada de tecnologias de pré-aquecimento do motor. A evolução incluiu um melhor aproveitamento calorífico de ambos os combustíveis e a introdução de tecnologias como o turbo e injeção direta em motores compactos e até a adaptação do flex a veículos híbridos.

Caldas avalia que, apesar de sua popularidade, o motor flex ainda é incompreendido, já que o seu funcionamento técnico não é de amplo conhecimento. “Esses tipos de automóveis recebem álcool, gasolina e até os dois juntos, mas é preciso andá-lo por 15 minutos para que ele ‘entenda’ qual tipo de combustível ele recebeu”, destaca. 

Já quem ainda tem um carro com o tanquinho de partida a frio, o automóvel pode ter dificuldades em funcionar caso o motorista tenha completado o tanque com etanol em baixas temperaturas e esqueceu de colocar a gasolina no compartimento. Isso, porque o veículo começa a rodar com o restante do combustível antigo, que já estava no sistema, pois ainda não teve tempo suficiente para diferenciar a gasolina do etanol.

De onde veio essa ideia?

A invenção da tecnologia foi dos norte-americanos, mas a viabilização comercial só ocorreu após o trabalho da engenharia brasileira, que criou um modelo matemático de pós-combustão que eliminou uma série de sensores, barateou a tecnologia e permitiu a produção em larga escala.

Contudo, os motores flex já eram estudados e desenvolvidos havia quase 10 anos. A base eram os propulsores dos carros a álcool, que já tinham peças adequadas. O problema era: como o sistema iria entender qual mistura estava sendo queimada a cada momento?

O modelo total flex da montadora podia receber tanto gasolina quanto etanol
O modelo total flex da montadora podia receber tanto gasolina quanto etanol. (Volkswagen/Divulgação)

Daí surgiu a sonda lambda nos carros bicombustíveis, que consegue prever qual é o conteúdo de etanol que está sendo queimado naquele momento.

Aceitação do público

Depois de uma resistência inicial, o flex teve tanta aceitação entre os consumidores brasileiros que se tornou o “queridinho” em toda a produção nacional.  Em fevereiro deste ano, o país atingiu a marca de 40 milhões de automóveis flex produzidos e comercializados no país. É o que aponta a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Hoje, eles representam 85% da frota de veículos leves circulante em território nacional.

“A evolução tecnológica do motor flex em 20 anos foi muito rápida, em função da concorrência entre marcas e as demandas regulatórias por melhor eficiência energética e redução das emissões”, explica o diretor técnico da Anfavea, Henry Joseph Jr. De acordo com a associação, o sucesso foi tanto que, em apenas cinco anos, os flex já tinham superado a marca de mais de 90% das vendas totais de automóveis por ano ano, patamar em que permanecem há 15 anos.

Aspas de citação

Se há 20 anos eles surgiram com uma lógica de oferecer ao consumidor uma opção do combustível mais econômico na bomba, hoje eles agregam uma importante função ambiental, dado o reconhecimento do etanol como um combustível que elimina a pegada de carbono. Por isso, são mais importantes e estratégicos hoje do que no próprio lançamento.

Henry Joseph Jr
Diretor técnico da Anfavea
Aspas de citação

A evolução do próprio etanol pode proporcionar um novo salto na qualidade dos veículos flex. Mesmo com apenas 30% de uso médio de combustível, ele tem o impacto de redução de emissão de CO2 equivalente a se tivéssemos 8 milhões de carros elétricos rodando. Se o patamar de 92% da frota nacional rodasse com a álcool, a Anfavea prevê que esse efeito triplicaria.

“Os próximos 20 anos do flex são muito promissores no sentido de propiciar mais eficiência, redução de emissões e uma importante ferramenta de transição para uma frota mais eletrificada”, finaliza o representante da associação.

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