Entre os “harleyros” brasileiros, a Fat Boy tornou-se o modelo mais vendido da Harley-Davidson desde que a lendária marca norte-americana desembarcou oficialmente no Brasil (em 2011) e também o mais cultuado pelos vários aficionados pela célebre moto e os muitos clubes da HD espalhados pelo país.
A motocicleta lançada em 1990 – uma crusier V-Twin, de rodas sólidas de alumínio fundido – é envolta em várias histórias paralelas. Umas verdadeiras, outras tratadas como “lendas urbanas” – inclusive uma participação histórica no filme “O Exterminador do Futuro – O Julgamento Final”, o segundo da série “Terminator”, nas mãos do ator Arnold Schwarzenegger, o exterminador “bonzinho” daquela sequência.
A própria origem do nome da motocicleta projetada pelos norte-americanos Willie G. Davidson e Louie Netz é controversa. Embora popularmente a versão mais aceita seja que o nome vem da união dos apelidos das bombas atômicas jogadas sobre as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, em 1945 – “Fat Man” e “Little Boy” –, a história foi “desmascarada” em 2015 por Scott Miller, vice-presidente de Estilo e Desenvolvimento de Produto da Harley-Davidson.
Para ele, o nome é simplesmente descritivo e vem da observação de que a Fat Boy (“garoto gordo”) é mais larga em comparação aos modelos mais antigos da Harley-Davidson quando vista de frente. A alusão às duas bombas atômicas foi enaltecida também porque a Fat Boy era rival das motos “estradeiras” produzidas pela Honda no Japão.
A Fat Boy de 1991 tinha o motor tipo V-twin de 1.340 cc, com 64 cavalos de potência a 5 mil rotações por minuto e 10,5 kgfm de torque a 3 mil giros, acoplado a uma transmissão de 4 marchas. O quadro era tipo softail, com suspensão dianteira com garfo telescópico e traseira de balança com amortecedores.
O freio na frente tinha disco duplo e atrás, simples. A motocicleta media 2,54 metros de comprimento, 89 centímetros de largura, 1,02 metro de atura, 1,71 metro de distância de entre-eixos, altura em relação ao solo de 24 centímetros, pesava 302 quilos sem o piloto e contava com um tanque de 17,8 litros.
Em meados da década de 70, o engenheiro-mecânico Bill Davis projetou e construiu uma antecessora com quadro softail, registrando o projeto em 1976 e vendendo as patentes, o protótipo e as ferramentas para a Harley-Davidson em janeiro de 1982. A Fat Boy foi um dos vários modelos da centenária marca norte-americana construídos sobre o quadro softail.
Na linha do tempo da Fat Boy, o cilindro-mestre e o mecanismo de distribuição foram revisados em 1996. Três anos depois, foi utilizado um novo motor Twin Cam de 1.450 cc para o modelo 2000, exigindo uma variante do propulsor sob medida e mudanças no quadro.
Em 2002, foram adicionados indicadores tipo bala, alarme e imobilizador. Uma versão do décimo quinto aniversário da Fat Boy foi vendida com motor Screamin Eagle, pintura especial e rodas personalizadas. Já em 2007, o deslocamento foi aumentado para 1.584 cc e a transmissão mudou para 6 velocidades.
O quadro do modelo 2018 teve um braço oscilante modificado com uma suspensão traseira mono-amortecedora Showa montada abaixo do assento, substituindo os amortecedores duplos anteriores. Para proporcionar uma pilotagem mais confortável e melhor controle da moto, os garfos dianteiros ganharam o Dual Bending Valve Showa, um simulador de cartucho com duas válvulas para controlar a compressão e um amortecimento de recuperação, proporcional à velocidade do curso do garfo.
A Harley-Davidson afirma que o quadro de 2018 era mais rígido e leve em comparação ao usado desde o lançamento da Fat Boy. Outras atualizações incluíam farol de leds e rodas Lakester de 18 polegadas com pneus dianteiros mais largos, de 160 milímetros, e traseiros de 240 milímetros. Para seu trigésimo aniversário, a motocicleta começou a ser equipada apenas com motor o Milwaukee-Eight 114.
Em 1991, a Fat Boy se misturou à saga da franquia do cinema “Terminator”, com o lançamento do segundo filme da série – novamente dirigido pelo canadense James Cameron -, “O Exterminador do Futuro 2 – O Julgamento Final”, mais uma vez estrelado por Schwarzenegger, já consagrado na pele do androide que vinha do futuro para mudar o curso da história. O filme se tornou símbolo da cultura popular e foi um marco do cinema de ação e aventura dos anos 90.
Com efeitos especiais mais avançados em relação aos precários do primeiro filme, de 1984, Schwarzenegger e seu dublê fizeram “misérias” em cima de uma Fat Boy na perseguição inicial do enredo, no famoso canal de escoamento pluvial de Los Angeles, atrás e na frente de um caminhão dirigido pelo exterminador-vilão, que queria matar o jovem John Connor para ele não liderar a revolta contra as máquinas no futuro.
Como a Fat Boy pesava mais de 300 quilos na época, a produção do filme foi obrigada a utilizar um guindaste e cabos de aço de três centímetros de diâmetro para suportar o peso da motocicleta e do ator austríaco, ainda cheio de músculos resultantes de sua época de Mister Universo. Com isso, ao tocar no solo, a moto e o piloto pesavam menos de cem quilos.
Os cabos de aço foram eliminados na pós-produção, com a sequência se tornando apoteótica para as plateias e os fãs da Fat Boy e de Schwarzenegger. A Fat Boy voltaria no “Exterminador do Futuro – Gênesis”, de 2015, em uma continuação não autorizada por Cameron – o idealizador e dono dos direitos da franquia – mas com Schwarzenegger novamente no seu principal papel no cinema. No segundo filme da série – o “quente” -, foram usadas duas Fat Boy.
Uma delas foi comprada pelo Museu Harley-Davidson, localizado em Milwaukee, onde está em exposição permanente, com todos os arranhões e amassados sofridos nas filmagens. A outra foi arrematada em um leilão em 2018 por quase meio milhão de dólares por um comprador não revelado. Esse exemplar tinha percorrido apenas 628 quilômetros.
Inicialmente, a matéria informava que as rodas da motocicleta são de aço fundido. O correto é alumínio fundido. O texto foi corrigido.
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