A possibilidade do retorno de um modelo mais acessível de carro para o mercado tem tomado conta das pautas sobre o setor automotivo. Desde rumores sobre montadoras de já estarem preparando o novo “carro popular” até mesmo ações do governo federal, uma vez que há a expectativa para que nesta quinta-feira, 25, seja feito algum anúncio a respeito, aproveitando que a data celebra o Dia da Indústria.
Item praticamente extinto das concessionárias, o carro zero km popular ficou para trás e hoje, o que existe são apenas os modelos de entrada, com valores começando em R$ 68.990 para a versão Zen do Renault Kwid ou a versão Like 1.0 do Fiat Mobi.
Por conta disso, muitas pessoas têm buscado modelos usados e seminovos, para preços mais em conta, conforme confirma a Análise Setorial do Data OLX Autos, que aponta que 52% das pessoas que utilizam a plataforma estão atrás de um modelo que custe até R$ 40 mil. Por conta disso, os carros mais antigos têm sido os mais procurados, principalmente os com mais de 14 anos, que representam 34,5% das buscas.
Isso também tem feito com que a busca por manutenções automotivas aumente, conforme apontou um levantamento realizado pela plataforma de contratação de serviços GetNinjas, que registrou um crescimento médio de 37% nos pedidos por serviços de reparos automotivos em abril, com relação ao mesmo período no ano passado.
Para o CEO da InstaCarro, Luca Cafici, o crédito cada vez mais inacessível por conta dos juros altos, tem sido um dos principais entraves. “O juros do cartão de crédito rotativo aumentaram 51% no início deste ano. Os juros para compra de veículos 7,1% comparando com o ano passado, mas ainda assim, para quem deseja comprar um veículo, pode pesar. Para o mercado voltar a crescer seria importante ter uma queda”, avalia.
Enquanto essa queda não chega, as discussões a respeito do que precisa ter esse carro popular também são acaloradas, principalmente porque os veículos estão cada vez mais tecnológicos, não só no quesito entretenimento, como também nos itens de segurança. E, segundo a indústria, um carro popular com esses itens, invariavelmente sairia no mesmo valor do que já existe hoje no mercado.
Portanto, veja em seguida, o que tem sido falado sobre a volta do carro popular:
Uma das apostas principais apostas é a redução de impostos, principalmente o ICMS, que incide sobre o veículo em âmbito estadual, uma vez que o IPI já é reduzido para carros populares. No entanto, essa é uma conversa que o governo federal teria de fazer com os governadores para dar certo.
Outra opção é utilizar o FGTS para dar entrada em um financiamento automotivo ou mesmo pagar o veículo em sua totalidade, bem como hoje é feito na compra de um imóvel. Essa medida depende do governo federal para liberar o uso do fundo para isso.
Um dos entraves para o novo carro popular é o preço, já que as novas tecnologias são caras e as montadoras alegam que para ter um carro de até R$ 60 mil, por exemplo, é preciso tirar alguns equipamentos, que podem deixar o veículo “depenado”, apenas com os itens básicos exigidos pela atual legislação. O que pode causar o desinteresse do consumidor e fazer com que a ideia fracasse.
Já alardeada pela indústria, a redução da taxa de juros para o financiamento de carros é uma das alternativas. Atualmente, a taxa básica de juros da economia fixada pelo Banco Central está em 13,75%, mas os juros de financiamento automotivo têm ficado em torno de 26,6% ao ano.
Outra alternativa com relação à fabricação de um carro popular é de que ele funcione apenas movido a etanol e tenha sua potência reduzida, cortando custos relacionados à tecnologia.
A crise de insumos da pandemia ainda está longe de terminar, principalmente quando se fala de componentes eletrônicos. Como o fornecimento desse material ainda não se regularizou, isso contribui para a elevação dos custos por conta da alta demanda e da baixa produção. Existe uma proposta da indústria para que o governo viabilize uma fábrica de chips no Brasil para que reduza esses custos.
Algumas montadoras demonstraram interessem na investida do carro popular, como a Renault, que poderá adequar o compacto Kwid (que no período de seu lançamento começava em torno de R$ 30 mil) para satisfazer às exigências desse novo carro popular. Outra montadora que recentemente lançou um veículo popular foi a Toyota, o Vitz, mas fora do Brasil. Na África do Sul ele custa US$ 9,9 mil (cerca de R$ 49 mil), mas não há sinalização de que venha para o Brasil.
Os interesses do consumidor têm se voltado para modelos mais robustos, como SUVs, que estão dominando a linha de produção da maioria das montadoras, e as picapes, que vêm se tornando uma forte tendência. Por serem modelos de maior valor agregado, com a venda de menos unidades, o mercado de carro popular, onde se ganha na quantidade, pode não ser atraente para algumas fabricantes.
Com a extinção do carro popular, algumas montadoras decidiram se reposicionar no mercado. Modelos que antes eram considerados populares, subiram de nível, a exemplo da nova versão do Hyundai HB20, que hoje compete com o Honda City e o Toyota Yaris. Por outro lado, com o lançamento do novo C3, a Citroën sinalizou uma mudança para o segmento dos populares, assim como a Peugeot com a versão 1.0 do hatch 208.
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