Andar de carro novo está pesando mais no bolso, e não é só pela alta dos combustíveis. O Monitor de Variação de Preços da KBB Brasil, empresa especializada em pesquisa de preços de veículos novos e usados, mostrou que a inflação no setor automotivo, em 2021, foi uma das mais altas, chegando a 9% para carros zero km no acumulado até o final de dezembro. Considerando apenas os modelos 2022 de carro zero quilômetro, o aumento de preços chegou a 18,4%.
Os seminovos também não ficaram muito diferentes disso, atingindo um índice levemente maior, de 22% no mesmo período, para veículos que têm entre quatro e 10 anos de uso. Para o consultor automotivo Gabriel de Oliveira, essa alta de preços é uma consequência direta da pandemia do coronavírus, que causou paradas na produção da indústria automotiva, que mesmo depois de ter retomado as atividades, ainda enfrenta a escassez de matéria-prima.
“E se não tem carro zero quilômetro, as pessoas buscam um usado ou seminovo. Porém, quem abastece o mercado com esses modelos é a venda dos carros zero. Se não tem entrega, não tem venda. Se não tem venda, não entra carro usado na troca. Se não entra carro usado na troca, não tem abastecimento dos estoques dos usados e seminovos. Se não tem o abastecimento, aumenta a procura e a oferta diminui, provocando, com isso, o aumento dos preços”, explica.
Ainda segundo o levantamento da KBB Brasil, quando comparado o comportamento dos preços durante 2020, no ano passado, os veículos novos acumularam mais do que o dobro do aumento visto há dois anos. Apesar de estar em plena crise sanitária, nessa época, as dificuldades de produção ainda não representavam grande problema para a indústria. Naquele ano, os modelos 2021 (que eram os mais recentes ao final de 2020) subiram 7,79%. Já os 2022 fecharam os últimos 12 meses com 18,39% de inflação.
Com relação aos carros usados, o Monitor de Variação de Preços da KBB Brasil aponta um cenário ainda mais acentuado entre 2020 e 2021. Entre os seminovos, com até três anos de uso, houve aumento de 2,15%, em média, nos preços de dezembro, totalizando alta de 17,22% no acumulado do ano para esse grupo.
Em 2020, os veículos seminovos terminaram o ano com preços praticamente estáveis, uma vez que a variação, ainda que já tenha sido positiva, ficou limitada a mero 0,93%. Contudo, vale ressaltar que os modelos com um ano de uso já apontavam para um movimento inflacionário mais forte naquela época.
Mas a maior diferença entre 2020 e 2021 fica a cargo dos carros usados, que têm entre quatro e 10 anos de uso. Em média, esses veículos subiram 22,46% entre janeiro e dezembro do ano passado, enquanto em 2020 o comportamento de preço acumulado desta categoria, por mais que tenha dado indícios de elevação atípica na época, encerrou o período com viés de queda de -0,85% em média.
Isso faz com que o mercado de usados fique mais vantajoso para quem vai vender, avalia Gabriel de Oliveira, já que o proprietário pode conseguir vender o veículo a um preço até maior do que quando o comprou. “É um ótimo momento. Os carros ainda estão valorizados no mercado, apesar de eu estar sentindo uma leve queda. Os modelos já estão sendo vendidos com o valor da Fipe, às vezes até abaixo, mas continuam valorizados”, diz.
No entanto, essa leve queda, segundo Gabriel, não serve como parâmetro para fazer qualquer previsão de preços, ainda mais que, nas últimas semanas, o país tem registrado altos índices de infecção pela variante Ômicron do coronavírus, em um movimento semelhante ao que tem acontecido no resto do mundo. Isso pode afetar novamente o mercado que já está em crise de abastecimento, mas na expectativa de retomar uma normalidade.
“Na minha expectativa, seguindo uma normalidade e um controle da pandemia, é que a partir do quarto mês do ano os preços se estabilizem e a partir do segundo semestre os preços comecem a cair. Mas isso, a partir do preço atual. Essa é a minha expectativa, mas depende muito do que a gente tem para receber em relação à pandemia. Se a indústria fechar novamente, os preços vão continuar subindo”, diz.
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