A Petrobras aplicou um reajuste de 6,3% ao preço da gasolina no sexto aumento deste ano. Como alternativa para economizar na hora de encher o tanque, alguns motoristas têm apostado no etanol por ser mais barato e menos poluente. A famosa regra dos 70% – em que o etanol só é vantajoso se custar até 70% do litro da gasolina – costuma ser considerada na hora de avaliar qual vale mais a pena. Mas, com os avanços tecnológicos e com a eletrônica embarcada nos carros com motores flex, o consumo do etanol e da gasolina foi se aproximando e essa proporção pode ser menor ou chegar até 75%. Atualmente, esses casos variam e uma nova conta mais precisa pode ser utilizada, considerando o consumo de cada veículo com etanol e gasolina.
O instrutor de mecânica automotiva do Senai-ES Anderson Gonçalves Pardinho explica que, para saber esse percentual e descobrir qual dos dois combustíveis é mais vantajoso, basta dividir a quilometragem do consumo médio de etanol pelo da gasolina. Ele observa que esse cálculo é o mais recomendado porque, em alguns casos, o consumo médio do veículo com os dois combustíveis pode ser muito próximo.
Para ajudar nas contas, consultamos o valor médio da gasolina comum e do etanol hidratado em Vitória, de acordo com dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). O primeiro, portanto, equivale a R$ 5,787, e o segundo, por sua vez, custa R$ 5,074. Ou seja, em média, o litro do etanol está custando 87% do valor do litro da gasolina. Mas, geralmente, esse percentual é informado em avisos nas bombas de combustível.
Agora, vamos a um exemplo hipotético: se nas cidades o veículo consome 10 km/l com etanol e 13,5 km/l com gasolina, a divisão entre esses valores daria 0,74 (ou seja, 74%). Isso significa que o etanol, para ser vantajoso, tem que custar até 74% do preço da gasolina.
Para ajudar na compreensão, fizemos as contas em mais um exemplo, agora com base no consumo médio do Novo Onix Plus 1.0 MT6, um dos carros mais econômicos do país. De acordo com informações da Chevrolet, o consumo desse modelo é de 10,1 km/l com etanol e 14,3 km/l de gasolina na cidade. Quando dividido o primeiro pelo segundo valor, o resultado é 0,70, ou seja, 70%. Isso significa que só vale a pena usar etanol se o litro custar até 70% do valor da gasolina.
Considerando esses exemplos e o preço médio dos combustíveis no Estado, mesmo com o aumento dos valores, hoje está mais vantajoso abastecer com gasolina, principalmente em modelos mais econômicos.
Mas é preciso ter atenção nas contas! O valor do consumo médio pode ser consultado no manual do proprietário, na ficha técnica do veículo ou calculado pelo próprio motorista. Já o preço do litro do etanol e da gasolina varia de acordo com o posto de combustível (nos exemplos usamos o valor médio no ES).
Para carros equipados com computador de bordo, é fácil descobrir. Esses modelos indicam automaticamente a quantidade de quilômetros percorridos por cada litro. Mas se o veículo não conta com essa ferramenta, então é preciso pegar a calculadora.
O método é simples: encha o tanque do veículo e anote o número do hodômetro total, ou resete o equipamento. Após rodar a quantidade desejada, complete o tanque e divida a quilometragem percorrida pela quantidade de litros abastecida.
“O ideal é realizar essa medição a partir do segundo abastecimento e esperar que a bomba desarme automaticamente. Além disso, é importante que o motorista tenha as condições de alinhamento e calibragem do pneu em dia”, aconselha Anderson.
Antonio de Padua Rodrigues, diretor técnico da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), destaca ainda a importância de fazer uma pesquisa entre os valores dos postos de revenda. “É importante o consumidor notar que os preços variam, pois esses estabelecimentos têm a formação livre em todos os elos da cadeia, ou seja, na produção, na distribuição e na revenda”, comenta Antônio.
O instrutor do curso de mecânica automotiva do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai/ES) Everaldo Colodeti explica que realmente é preciso calcular antes de abastecer. De acordo com ele, o etanol tem maior poder calorífico, ou seja, libera mais energia para fazer o mesmo trabalho que a gasolina. “É por isso que, quando vemos a ficha técnica de um veículo, a potência e o torque do motor movido a etanol é sempre maior”, destaca o instrutor.
O etanol também chama atenção de quem procura sustentabilidade. O professor do departamento de Química da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) Josimar Ribeiro explica que diferente da gasolina, combustível fóssil proveniente do petróleo, o etanol é um material biológico que obedece ciclos de renovação.
Entretanto, ele ressalta que para alguns estudiosos esse processo não acontece com tanta eficiência assim. “Na colheita da cana-de-açúcar tem a queima da plantação, o que gera uma questão ambiental. Há muito uso de pesticidas na produção e a mão-de-obra não é tão qualificada”, detalha.
Dessa forma, de acordo com o especialista, para quem procura sustentabilidade, uma alternativa são os carros elétricos. Apesar do custo no Brasil ainda ser alto, Josimar afirma que nos Estados Unidos e na Europa a substituição dos carros a combustão já é uma realidade próxima.
Na avaliação da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), esse cenário faz parte do passado do setor sucroenergético do país. “Atualmente, 98% da colheita da cana-de-açúcar no país é feita sem queima e de forma mecanizada. Isso fez com que aumentássemos significativamente a sustentabilidade do etanol, angariando reconhecimentos internacionais. O etanol de cana brasileiro é o biocombustível que mais reduz a emissão de CO2, segundo as diretrizes governamentais dos EUA (RFS) e da União Europeia (RED). Também é reconhecido como parâmetro de sustentabilidade pela Agência Internacional de Energia (IEA)", informou, em nota.
De acordo com a Unica, dados da ANP contabilizam que a emissão de CO2eq do cultivo da cana-de-açúcar até a queima do combustível no veículo atinge, em uma usina típica brasileira, 450 kg por metro cúbico (1000 litros), enquanto o volume de emissão equivalente para a gasolina totaliza 2,8 toneladas por m³. "Ou seja, uma redução de 83%, podendo ultrapassar essa marca em produtores mais eficientes. Com a mecanização, o perfil da mão-de-obra do setor mudou drasticamente, houve a requalificação de 400 mil trabalhadores para assumirem outras funções dentro e fora do setor”, acrescenta a entidade do setor.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta