Em outubro de 2015, o lançamento da Renault Duster Oroch definiu o que seria um Sport Utility Pick-Up – ou picape originada de um utilitário esportivo. São veículos posicionados entre as picapes compactas, derivadas de hatches – como a nova Fiat Strada, originária do Argo, e a veterana Volkswagen Saveiro, criada a partir do Gol –, e as médias, com chassis em longarinas – Toyota Hilux, Chevrolet S10, Ford Ranger e Nissan Frontier.
Só que, em fevereiro do ano seguinte, a Fiat lançou a Toro, desenvolvida a partir da arquitetura do Jeep Renegade. E a picape da marca italiana transformou-se em um sucesso instantâneo, que a fez tomar conta da categoria. Em dezembro, a disputa ganhou um outro concorrente – a nova Chevrolet Montana, derivada do Tracker.
Para recuperar o fôlego na briga, a Renault lançou em abril deste ano a Oroch 2023. O design externo foi repaginado e, no interior, a picape agrega novidades em tecnologias de conectividade, conforto e segurança.
Mas a grande novidade da picape da Renault é o motor turbo 1.3 TCe Flex, o mesmo apresentado no SUV Captur e depois na versão de topo de linha Iconic do Duster. A novidade está presente somente na versão “top” Outsider da picape, que também retirou o nome “Duster” da frente. Já as duas versões iniciais preservam o conhecido 1.6 SCe aspirado, com 120 cavalos de potência e 16,2 kgfm de torque.
Produzido na Espanha, o 1.3 turbo TCe é um motor global da marca francesa, que equipa modelos da alta gama em vários países. Desenvolvido pela Aliança Renault-Nissan-Mitsubishi em parceria com a Daimler, esse conjunto motriz é adotado também no Mercedes-Benz GLB 200 vendido no Brasil (em uma versão que roda apenas com gasolina).
O desenvolvimento da versão bicombustível ficou a cargo da equipe de engenheiros do Renault Tecnologia Américas (RTA), que fica no Complexo Ayrton Senna, em São José dos Pinhais (PR). O motor tem 170 cavalos de potência a 5.500 rotações por minuto e 27,5 kgfm de torque de 1.600 e 3.750 rpm.
Traz como características – segundo a marca francesa – um alto torque em baixas rotações e baixo consumo de combustível. O propulsor tem um turbocompressor com pressão máxima de 1.4 bar, cabeçote em formato delta, duplo eixo do comando de válvulas no cabeçote, bronzinas de polímero metálicas e injeção direta de combustível.
Na Oroch Outsider, o motor é combinado com o câmbio automático CVT X-Tronic de 8 marchas – é possível se fazer a troca manual na alavanca de câmbio, bastando posicionar a manopla à esquerda para o motorista assumir o controle.
Outra tecnologia aplicada para a redução do consumo de combustível é o sistema start&stop, que desliga o automóvel automaticamente em semáforos ou em outras paradas prolongadas.
Com essa combinação, de acordo com a Renault, a Oroch Outsider tem uma aceleração de zero a 100 km/h em 9,8 segundos e velocidade final de 189 km/h. Conforme o Inmetro, a picape “top”, com gasolina, tem consumo na estrada de 11 km/l e na cidade de 10,5 km/l. Com etanol, é de 7,8 km/l e de 7,4 km/l, respectivamente.
A linha Oroch 2023 é equipada com controle de estabilidade e de tração, assistente de partida em rampas (HSA), sistema anti-capotamento, freios ABS com BAS (Brake Assist System) – mantém a pressão máxima de frenagem em situações de emergência, potencializando o uso do ABS e reduzindo o espaço para parar o veículo.
A caçamba leva 683 litros – bem menor em comparação à concorrente Toro, que carrega até 820 litros. Desde as configurações mais básicas, a Oroch traz direção eletro-hidráulica com regulagem de altura, travas e vidros dianteiros elétricos, protetor de caçamba, alarme e airbag duplo, computador de bordo, sensor de ré, barras de teto funcionais e apoio de braço para o motorista.
E a “top” Outsider agrega grade frontal com detalhes cromados, alargadores de para-lama, santantônio, capota marítima, faróis de milha auxiliares, grade no vidro traseiro, bancos com revestimento premium e rodas de liga leve de 16 polegadas em preto diamantado.
A Outsider tem preço sugerido de R$ 145.700 – bem acima das versões com motor 1.6 aspirado, a Pro (R$ 113.600) e a Intense (R$ 119.500). No entanto, o preço inicial vale somente para a cor Vermelho Vivo. A Branco Glacier aumenta a conta em R$ 800 e as restantes Cinza Lune (a do modelo testado), Prata Étoile, Vermelho Fogo e Preto Nacré somam R$ 2 mil à fatura.
Por dentro da Oroch 2023, ao contrário da discreta reestilização externa, a evolução foi notável. O dashboard é uma peça nova, em plástico rígido, com elementos do novo Duster, como as saídas de ar, os comandos de ar-condicionado e linha de botões de comandos.
Já o painel de instrumentos veio do Captur. A Outsider tem novos painel, laterais de porta e acabamento de bancos. O painel investe em um design mais horizontal, saídas de ar retangulares e acabamento em prata fosco e botões de comandos posicionados ao centro.
A Outsider traz acabamentos internos na cor laranja no painel e nas costuras dos bancos, que têm revestimento premium Titane Riviera. A posição de dirigir é alta, mas a falta de regulagem de profundidade da coluna de direção dificulta achar uma boa posição. O túnel central é baixo, permitindo até que um passageiro de estatura mediana fique confortável no meio do banco traseiro.
Quem “rouba a cena” no interior da Oroch Outsider é a central multimídia com tela de 8 polegadas do tipo flutuante EasyLink. Ela tem posição elevada e há sistema de espelhamento sem fios com conectividade para smartphones por meio de Android Auto e Apple CarPlay.
Os retrovisores com regulagem elétrica e sensores de manobra em ré são de série, assim como o ar-condicionado digital automático, a câmera de ré, os sensores crepuscular e de chuva e a iluminação Follow Me Home, que mantém os faróis acesos por períodos configuráveis de 30 a 120 segundos para aumentar a segurança quando o motorista sai do veículo.
Mais airbags reforçariam a segurança, já que a Oroch oferece apenas o duplo obrigatório, mesmo nessa versão mais cara.
A Oroch Outsider tem como destaque seu motor 1.3 turbo flex, mesmo conjunto do Captur e da versão “top” do Duster. Com injeção direta de combustível e combinado ao câmbio CVT com simulação de 8 marchas, é um conjunto que já causava boa impressão no Captur e, particularmente, no Duster, que é mais leve.
Com essa combinação a Oroch Outsider 2023 oferece aceleração de zero a 100 km/h em 9,8 segundos e velocidade máxima de 189 km/h. Trata-se de um dos melhores conjuntos de motor e câmbio oferecidos em carros feitos no Brasil.
O bom torque em baixas do 1.3T é eficientemente aproveitado pelo câmbio, já a partir dos 2 mil giros. Basta superar essa rotação para a transferência de torque e potência às rodas aumentar progressivamente.
Com o bom casamento do câmbio com o motor, a picape é bem esperta. É um motor suave e que oferta torque abundante em todas as faixas de rotação. Com força de sobra, até o modo “Eco” oferece um desempenho instigante.
Com uma elástica curva de torque, a picape oferece força máxima em diferentes faixas de rotação, favorecendo ultrapassagens seguras, mesmo estando carregada. A caixa CVT X-Tronic tem funcionamento silencioso e preciso. Para trocas de marchas em modo manual, a única opção é pela própria alavanca de câmbio.
O comportamento dinâmico é marcado por passeios confortáveis, graças ao ajuste macio de suspensão. Há bom equilíbrio tanto em retas quanto em curvas.
A Oroch utiliza um sistema de suspensão com base no que era adotado no Duster 4x4, com multilink na traseira. É um dos seus pontos fortes em estabilidade e conforto. Nem nos pisos mais maltratados dá final de curso.
Em curvas de alta, com a caçamba vazia, ela não sai de traseira e sempre se mantém “na mão”. Quando é acelerada com força, a picape não foge do traçado. Um ponto que mereceria evolução fica por conta da direção eletrohidráulica, mais rígida que as elétricas e um tanto pesada.
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