No Brasil, o segmento de utilitários esportivos médios é um dos que mais cresceu nos últimos anos. Tal expansão foi puxada pelo Jeep Compass, que vende mais do que o dobro de todos os concorrentes somados – incluindo modelos como o Volkswagen Tiguan Allspace, o Chevrolet Equinox, o Caoa Chery Tiggo 7 e o Kia Sportage.
Todos são veículos bem equipados e com alto valor agregado, que oferecem às montadoras margens de lucros mais atraentes em comparação às obtidas com a venda de compactos, segmento no qual o preço final é um valor mais preponderante. Como a pandemia da Covid-19 tornou a recuperação da lucratividade uma questão de sobrevivência para o setor automotivo, a Ford resolveu finalmente entrar nessa briga e, em agosto, trouxe da China o Territory.
O novo SUV médio da marca do oval azul desembarcou em duas versões: a SEL e a “top” Titanium. Ambas usam um motor turbinado 1.5 EcoBoost a gasolina que gera 150 cavalos e torque de 22,9 kgfm. A transmissão automática CVT tem 8 marchas simuladas e opção de trocas manuais.
O Territory foi desenvolvido em parceria com a Jiangling Motors Corporation (JMC) e é produzido na fábrica chinesa de Xiaolan. A inspiração dos designers no visual do Land Rover Evoque é indisfarçável. As similaridades com o modelo inglês se evidenciam na silhueta, na qual se destacam o entre-eixos longo, a traseira curta e o perfil dinâmico, com coluna traseira pintada de preto para dar um aspecto “flutuante” ao teto com caimento na parte posterior, à moda dos cupês.
Já os detalhes remetem ao atual design de SUVs da Ford, como a característica grade dianteira trapezoidal, os faróis, as luzes diurnas e as lanternas de leds, que reforçam a assinatura luminosa da marca norte-americana. As caixas de rodas protuberantes e os apliques na parte inferior dos para-choques explicitam a robustez, e o nome “Territory” é ostentado em grandes letras cromadas na tampa traseira. Por fora, a versão Titanium se diferencia pelo teto pintado de preto, pelas rodas de liga leve de 18 polegadas com pneus 235/50 R18, pelas maçanetas cromadas e pelos retrovisores com rebatimento elétrico.
Com 1,93 metro de largura (sem espelhos), comprimento de 4,58 metros e distância de entre-eixos de 2,71 metros – a maior da categoria de SUVs médios no Brasil –, o Territory pretende ser generoso em espaços para os passageiros. A versão Titanium tem interior claro, parcialmente em tecido que imita couro. Apliques de textura amadeirada buscam reforçar o requinte.
A central multimídia Sync Touch tem tela de 10,1 polegadas. O carregador sem fio para celular no console permite dois modos automáticos de carregamento. O aplicativo FordPass possibilita usar o smartphone para trancar e destravar portas, dar partida acionando o ar-condicionado, checar a pressão dos pneus e o nível de combustível e localizar o veículo remotamente.
Em termos de segurança, o SUV médio da Ford traz de série seis airbags, controle eletrônico de estabilidade e tração AdvanceTrac, assistente de partida em rampa, sensor de monitoramento de pressão dos pneus e freios a disco nas quatro rodas com ABS e EBD. A versão Titanium agrega câmera de 360 graus com visualização panorâmica, que viabiliza acompanhar tudo em torno do veículo para aumentar a segurança.
O piloto automático adaptativo com stop&go, que seleciona a velocidade e quatro níveis de distância do veículo à frente, também é de série na versão. Alertas de colisão frontal com frenagem automática, de saída de faixa e de ponto cego, estacionamento automático e faróis com acendimento automático são outros equipamentos do modelo.
O Territory Titanium é oferecido por R$ 197.900, qualquer que seja a cor. Não há opcionais. Já a versão SEL sai por R$ 179.900, exatos R$ 18 mil a menos que a topo de linha. De agosto a novembro, o SUV médio da Ford emplacou 1.223 unidades, média de 306 vendas a cada mês. Ainda está longe dos 4.182 emplacamentos mensais obtidos este ano pelo Compass e dos 714 alcançados pelo Tiguan Allspace, mas aproxima-se das 429 comercializações mensais do Equinox, já ultrapassando as 201 do Tiggo 7 e as 136 do Sportage.
A investida da Ford no segmento dos SUVs médios promete ficar mais séria em 2021 com a chegada ao Brasil do Bronco Sport, importado do México para se posicionar entre o compacto EcoSport Storm e o Territory SEL.
A versão Titanium do Territory tem uma missão determinada pelo marketing da Ford – impressionar o consumidor brasileiro e fazê-lo esquecer dos eventuais preconceitos contra os automóveis “made in China”. De fato, nada dentro do Territory “top” deixa a desejar em relação aos concorrentes do segmento. Os revestimentos suaves ao toque e com aparente qualidade predominam e o encaixe das peças é preciso.
O volante tem ajuste de altura e profundidade, o banco do motorista traz ajustes elétricos, os dianteiros oferecem opção de aquecimento e resfriamento, o teto solar e as janelas se fecham automaticamente junto ao travamento das portas, as luzes internas têm graduação de brilho e sete opções de cores, os vidros têm acionamento por um toque, o carregamento de bateria de smartphone é por indução e o som tem oito alto-falantes.
Também são de série na Titanium o painel de instrumentos totalmente digital, com tela colorida de 10 polegadas que pode ser personalizada em três temas. A central multimídia Sync Touch tem tela de 10,1 polegadas e conexão sem fio com Apple CarPlay. As câmeras de visão em 360 graus, acionadas automaticamente quando o veículo roda em baixa velocidade, apresentam ótima resolução e total visualização em torno da carroceria. O porta-malas, com capacidade para 388 litros, não é dos maiores da categoria de utilitários esportivos médios.
Para “acordar” o motor turbinado 1.5 EcoBoost a gasolina do Territory é preciso primeiro encontrar o botão de partida. Inusitadamente, ele fica à esquerda do motorista – como nos Porsche. Com intercooler, injeção direta de combustível e comando de válvulas variável acionado por corrente, é mais focado na eficiência energética do que na esportividade – entrega potência de 150 cavalos e um torque máximo de 22,9 kgfm na faixa de 1.500 a 4 mil rpm.
Tal torque basta para conferir um desempenho decente ao conjunto, mas os 1.632 quilos de peso em ordem de marcha inibem uma performance mais esportiva. Nos baixos giros, há um sutil atraso no enchimento do turbo – o chamado “turbo lag”. A transmissão automática CVT, com relação continuamente variável, tem 8 marchas simuladas e opção de trocas manuais. As mudanças sequenciais e o modo “Sport” são opções para melhorar as respostas do conjunto.
A Ford afirma que seus engenheiros promoveram aprimoramentos no Territory destinado ao mercado brasileiro, como a troca de buchas da suspensão e os amortecedores e pneus. O resultado foi positivo, e o SUV chinês mostra bom equilíbrio em trechos sinuosos.
O ajuste de suspensão privilegia o conforto, uma característica comum nos veículos chineses. Assim, o conjunto suspensivo oferece boa absorção de impactos e imperfeições do asfalto. Em curvas, a rolagem da carroceria é correta, compatível com o centro de gravidade elevado. A direção assistida eletricamente é leve em manobras e tem peso correto em velocidade de cruzeiro. Se no asfalto o comportamento agrada, arriscar nas trilhas pode não ser muito recomendável, pois o Territory não tem opção de 4x4 – a tração é apenas dianteira.
É um modelo mais indicado para quem aprecia passeios confortáveis em boas estradas do que para quem gosta de acelerar demais ou encarar trilhas. Um inegável trunfo do Territory é o silêncio a bordo. Ruídos de motor, rodas e vento ficam distantes do interior do SUV.
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