Nem todo mundo está satisfeito com aquilo que é – e tal inconformismo também atinge os automóveis. Há subcompactos urbanos que se apresentam como off-road, sedãs afirmando serem cupês e até hatches pacatos “travestidos” no estilo “hot rod”. Entre as picapes médias, a tendência atual é se posicionar como um “SUV com caçamba”. Aqueles veículos rústicos similares a pequenos caminhões, usados para transporte de mercadorias, tornaram-se modelos confortáveis e tecnológicos, se espelhando cada vez mais aos utilitários esportivos – que formam o segmento do mercado automotivo com o maior crescimento no Brasil e no mundo.
Na briga das picapes médias, o subsegmento mais movimentado em termos de lançamentos é o das versões mais requintadas, que elegem como alvo preferencial a elite do agronegócio brasileiro – os grandes empresários rurais que buscam um veículo para aguentar os rigores dos “caminhos da roça”, sem abrir mão do conforto. É para esse tipo de consumidor abonado que a Chevrolet desenvolveu a versão “western” High Country de sua picape S10.
Na remodelação de julho do ano passado da linha S10, a versão High Country ganhou diferenciações mais ostensivas para reforçar o aspecto de exclusividade. A grade é escura e traz o nome “Chevrolet” em relevo sobre uma barra central – lembra a da Silverado vendida no mercado norte-americano. O logo da clássica gravatinha dourada deixou de vir centralizado e passou a aparecer lateralizado, à esquerda, sobre uma trama tipo colmeia emoldurada pelos faróis com leds. O para-choque redesenhado, com um aplique central e uma moldura na parte inferior, ajudou a ampliar o ângulo de ataque de 27 para 29 graus. Os faróis auxiliares ganharam uma posição mais elevada.
Foram preservados itens como as rodas de alumínio de 18 polegadas diamantadas, as maçanetas das portas e da tampa da caçamba cromadas, o santoantônio com design exclusivo, a capota marítima e o logotipo da versão na tampa da ampla caçamba com 1.329 litros de capacidade. Internamente, o estilo é reforçado pelos bancos e o volante revestidos em couro marrom, os emblemas “High Country” nas portas dianteiras e alguns detalhes de acabamento cromados.
Em termos de segurança, a S10 High Country traz airbags frontais, laterais e de cortina, alertas de colisão frontal e de saída de faixa, assistente de partida em rampas, alerta de pressão dos pneus e controle de velocidade em declives. Desde a remodelação do ano passado, a versão “top” da S10 incorpora de série o sistema de frenagem autônoma de emergência, que entre 8 km/h a 80 km/h é capaz de parar a picape automaticamente ao identificar uma situação de risco envolvendo um obstáculo à frente.
Entre os equipamentos voltados para o conforto estão o banco do motorista com ajustes elétricos, o acendimento automático dos faróis, o ar-condicionado eletrônico, a coluna de direção com ajuste de altura, a chave tipo canivete, a direção elétrica progressiva, o retrovisor interno eletrocrômico, os espelhos externos com rebatimento elétrico, os sensores de estacionamento dianteiros e traseiros, a partida remota do motor pela chave, os vidros elétricos com sistema “um toque” e o banco traseiro bipartido e rebatível com porta-objetos.
A conexão 4G Wi-Fi nativa é paga (e gera uma mensalidade) e o sistema multimídia MyLink tem tela sensível ao toque de 8 polegadas com navegador GPS integrado e conectividade para Android Auto e Apple CarPlay.
Sob o capô, a Chevrolet S10 High Country traz o mesmo motor 2,8 litros turbodiesel de quatro cilindros adotado nas versões LT e LTZ e no utilitário esportivo Trailblazer, com turbocompressor de geometria variável, intercooler e injeção direta de combustível do tipo “common rail”.
No ano passado, ganhou recalibração e um novo turbo para melhorar a performance, mas manteve os habituais 200 cavalos de potência a 3.600 rpm e 51 kgfm de torque, a partir de 2 mil rpm. Na High Country, atua acoplado a um câmbio automático de 6 marchas com modo manual Active Select (com trocas pela alavanca). A tração pode ser frontal, 4x4 ou 4x4 com reduzida.
A configuração High Country da S10 é oferecida por R$ 244.930 (o preço pode variar de acordo com a cor da carroceria), sem opcionais. A versão deve permanecer como a picape topo de linha da Chevrolet até a chegada da grandalhona Silverado, adiada pela falta global de semicondutores – mesmo problema que levou a fábrica da S10 em São José dos Campos (SP) a passar um longo período em turno único. A normalização do ritmo de produção ajudará a retomar a briga com a Toyota Hilux e a Ford Ranger pela liderança do segmento.
A S10 High Country recebe bem o motorista e os passageiros em seus confortáveis bancos revestidos em couro marrom. O do motorista com ajustes elétricos facilita a tarefa de encontrar a posição de dirigir. Como a picape tem o assoalho traseiro quase plano, quem viaja ali encontra bom espaço para pernas e pés.
O multimídia com tela de 8 polegadas “touchscreen” de alta precisão tem GPS integrado e exibe em alta definição as imagens da câmera de ré. O equipamento também permite conversar por mensagens, escolher rotas e até acessar as “playlists” favoritas usando apenas a voz. A conexão 4G Wi-Fi nativa aprimora a qualidade da conectividade a bordo e possibilita conectar até sete dispositivos simultaneamente.
A câmera frontal e o sistema de sensores são a base de uma série de sistemas de segurança da versão. Caso o motorista saia da faixa da pista sem usar a seta, o veículo emite um alerta. O mesmo acontece quando surgem obstáculos à frente. Se o sistema estimar que a velocidade de aproximação do obstáculo é excessiva e o impacto, iminente, os freios de emergência são acionados independentemente da ação motorista.
O sistema de concierge OnStar oferece auxílio vinte e quatro horas e sete dias por semana. Contudo, dentro da proposta de oferecer os confortos dos SUVs em uma picape, alguns detalhes poderiam ser aprimorados. Parte dos plásticos duros poderia dar lugar a material emborrachado. O volante tem apenas regulagem de altura, mas não de profundidade. O ar-condicionado digital não tem saída para o banco traseiro. E um sensor de ponto cego também seria bem-vindo.
O porte é similar ao de um pequeno caminhão – são quase 5,5 metros de comprimento e 1,85 metro de altura. O peso ultrapassa com folgas as duas toneladas. Entretanto, para quem está dirigindo, a S10 High Country nem parece tão grande nem tão pesada assim. Embora apresente o som e a trepidação característicos dos motores a diesel, o 2.8 turbodiesel de 200 cavalos se harmoniza bem com a caixa automática de 6 velocidades. Juntos, fazem um correto gerenciamento da força necessária para mover a picape. As passagens de marchas são relativamente suaves, sem maiores solavancos. Nas manobras em ritmo mais lento, a direção elétrica facilita a interatividade com as rodas, sem demandar maior força física.
No trânsito urbano, o acerto da suspensão é correto e privilegia o conforto. Pelo porte do veículo, nas frenagens, é prudente reservar um bom espaço para chegar à imobilidade. Nas estradas, a oscilação da carroceria é discreta – resultado dos vinte e cinco anos de evolução da S10, que reduziram um problema recorrente nas picapes médias, principalmente quando estão sem carga.
Em rodovias, quando se atinge velocidades mais elevadas, o câmbio automático sabe aproveitar o torque farto do motor. Há um discreto “delay” na reação do propulsor quando o motorista pressiona o acelerador, mas nada que incomode. O ganho de velocidade é gradual, no entanto, a S10 High Country mantém velocidades de cruzeiro sem aparentar esforço. Quando detectam situações de iminente perda de controle da direção, como em trechos sinuosos percorridos em altas velocidades, os sistemas eletrônicos acionam automaticamente os freios nas rodas adequadas para ajudar a reposicionar o veículo na direção correta.
Embora encarar trilhas não seja uma rotina esperada para uma picape de mais de R$ 250 mil, quando solicitada, a High Country mostra que tem efetiva capacitação para o off-road. Encara trechos esburacados, alagamentos, subidas íngremes ou pisos de baixa aderência com boa desenvoltura graças à tração 4x4, acionável pelo botão giratório no console central.
Em trilhas mais complicadas e com baixíssima aderência, a opção de tração integral reduzida com bloqueio de diferencial ajuda a tirá-la de qualquer encrenca. Junto com os 22,8 centímetros de vão livre do solo, os pneus de uso misto Michelin LTX Force 265/60 R18 também colaboram bastante.
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