Pelo menos 72 pessoas morreram e dezenas continuam desaparecidas devido às graves inundações que afetaram a região de Valência, na costa leste de Espanha.
Em oito horas, o equivalente a um ano de chuva caiu em algumas áreas, causando grandes inundações que devastaram cidades inteiras.
Valência foi a cidade mais atingida, com imagens mostrando veículos empilhados e bairros destruídos.
Houve críticas ao governo regional de Valência por ter eliminado a Unidade de Emergência de Valência (UVE) ao assumir em 2023.
Por sua vez, o governo regional defendeu sua gestão da crise, dizendo que “os especialistas falam de uma situação absolutamente sem precedentes”.
O ministro dos Transportes da Espanha disse que a linha de trens de alta velocidade entre a cidade e Madri está significativamente danificada.
Dada a dimensão da tragédia, considerada uma das catástrofes naturais mais graves da história recente de Espanha, foram declarados três dias de luto no país europeu.
Devido às fortes chuvas, as mais fortes em quase um século, segundo as autoridades, muitas pessoas passaram a noite nos seus carros à espera de serem resgatadas.
O governo central informou que os comboios e voos foram gravemente afetados, com cancelamentos generalizados.
Além disso, mil soldados foram destacados para ajudar nas operações de resgate.
As chuvas também deixaram cerca de 140 mil pessoas sem energia e causaram o fechamento de muitas estradas.
Equipes estão trabalhando em buscar de desaparecidos, cujo número ainda é incerto, segundo o governo.
O presidente do governo de Espanha, Pedro Sánchez, disse na quarta-feira (30/10) que a situação ainda não está resolvida.
“Ainda não podemos dar como encerrado este episódio devastador. Peço aos que ali vivem que tomem precauções extremas”, disse.
Ele também observou que “não abandonará” as vítimas afetadas pelas enchentes e que os vilarejos e cidades afetadas serão reconstruídos.
"Para aqueles que ainda estão procurando por seus entes queridos, toda a Espanha chora com vocês", afirmou Sánchez.
Por sua vez, a presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, expressou a sua solidariedade para com todas as pessoas afetadas e disse estar grata aos primeiros socorros “que estão a fazer todo o possível para ajudar as pessoas necessitadas”.
O rei Felipe 6º da Espanha falou que houve um enorme impacto na infraestrutura e alertou que algumas áreas estão inacessíveis.
"Junto com a rainha, gostaríamos de transmitir nossas condolências a todas as famílias afetadas que perderam entes queridos e que, em alguns casos, ainda não sabem o que aconteceu com alguns de seus parentes", ele disse à mídia espanhola em uma curta entrevista coletiva.
Vídeos publicados em redes sociais durante a madrugada mostraram inundações gerando caos em algumas áreas, derrubando pontes e arrastando carros pelas ruas.
A situação foi gravada pelo compartilhamento de informações falsas circulando na internet, segundo autoridades locais.
Consuelo Tarazon, prefeita de Horno de Alcedo, uma cidade nos arredores de Valência, disse à BBC que a cidade foi "inundada em minutos".
"As correntes eram tão rápidas — e chamamos os serviços de emergência que começaram a resgatar algumas pessoas que tinham água até o pescoço", ela diz chamando isso de "uma catástrofe total".
Ela diz que a área ainda está inundada, mas que as autoridades responderam bem à crise.
"Estou sofrendo de muita ansiedade no momento. Foi uma noite muito, muito difícil", ela acrescentou.
As chuvas, acompanhadas de fortes ventos e tornados, foram causadas por um fenômeno meteorológico conhecido como Depressão Isolada de Alto Nível (Dana) que afetou uma grande área do sul e leste do território espanhol.
O fenômeno acontece quando o ar frio desce sobre as águas quentes do Mar Mediterrâneo.
Em alguns lugares, caíram até 445,4 litros de chuva por metro quadrado.
O fenômeno Dana é bastante comum nesta região e ocorre com mais frequência durante o outono, a atual estação do ano no Hemisfério Norte.
Um estudo sugere que cerca de dez a vinte eventos Dana ocorrem todos os anos no Mediterrâneo Ocidental e nas proximidades da Península Ibérica.
Mas nem todos são tão graves como o que a Espanha está enfrentando.
A agência meteorológica estatal da Espanha, a Aemet, prevê que as chuvas torrenciais diminuirão a partir de quarta-feira, mas áreas da região costeira permanecerão sob alerta meteorológico.
A tempestade está indo para o norte, e os alertas já estão em vigor para o nordeste da Catalunha.
O Meteocat, o serviço meteorológico catalão, emitiu o alerta de clima severo com previsão de chuva de granizo, rajadas de vento e tornados ou trombas d'água.
O nível de perigo está no seu mais alto nível, diz ele - classificação seis de seis.
Eventos de chuva significativos anteriores impactaram Valência no passado.
Em outubro de 1982, cerca de 550 mm de chuva caíram em alguns locais em 24 horas, levando ao rompimento da barragem de Tous, na província de Valência, que matou 8 pessoas nas inundações subsequentes.
No início de novembro de 1987, a região de La Safor registou 817 mm de precipitação — um recorde de 24 horas para Espanha.
E, mais recentemente, em meados de setembro de 2019, as regiões de Valência, Múrcia e Almería registraram inundações significativas após terem caído cerca de 500 mm de chuva durante alguns dias.
A Aemet acredita que o que ocorreu nos últimos dias está no mesmo nível dos acontecimentos de 1982 e 1987.
No entanto, a intensidade de tais eventos parece estar aumentando devido às alterações climáticas e ao aumento das temperaturas globais.
Estudos haviam sugerido que eventos de Dana no outono também poderiam se tornar mais intensos.
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