A rodada de negociações entre Rússia e Ucrânia, realizada nesta segunda-feira (28), em Gomel, na Belarus, acabou com o resultado esperado: sem avanços claros. Os representantes dos dois países concordaram em voltar a suas capitais para discutir pontos da conversa e devem marcar uma segunda rodada de reuniões, informou a agência estatal russa RIA, citando um funcionário do governo ucraniano.
Representantes dos dois países desembarcaram na cidade belarussa, próximo à fronteira ucraniana, no início da tarde no horário local, manhã no Brasil, com objetivos claros de um lado, mas sem uma agenda anunciada do outro.
Kiev buscava um cessar-fogo e a retirada das tropas russas, enquanto Moscou se limitou a dizer que esperava chegar a um acordo, sem dar mais detalhes. O Kremlin tem em mente que a Ucrânia não deve integrar a Otan, a aliança militar ocidental, e, por tabela, a União Europeia — a neutralidade da Ucrânia é o ponto principal das demandas feitas por Putin, enquanto reunia quase 200 mil soldados em torno do vizinho.
Antes mesmo das negociações, o presidente Volodimir Zelenski pediu acesso imediato ao bloco europeu sob um procedimento especial nesta segunda, o que o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, garantiu que seria debatido, apesar de haver divergências entre os 27 membros do bloco sobre o assunto. O ingresso pode alimentar ainda mais as tensões.
Essa primeira rodada de conversa já ocorreu sob certa resistência. Zelenski inicialmente havia rejeitado o convite do Kremlin para uma negociação, que poderia ser vista como uma rendição. Há hipóteses que apontam que Vladimir Putin queira derrubar o ucraniano e desmembrar parte do país.
Em um pronunciamento, Zelenski disse que seria possível conversar na Belarus se os russos não tivessem usado a ditadura aliada como uma das bases para seu ataque — justamente contra Kiev, a menos de 200 km da fronteira sul belarussa.
Neste domingo (27), porém, o mandatário cedeu e topou a rodada nesta segunda -para os russos, que já estavam em Gomel, a conversa teria ocorrido no próprio domingo. O chanceler ucraniano, Dmitro Kuleba, tentou inclusive mostrar a força de Kiev afirmando que Moscou havia aceitado o encontro sem precondições, o que seria resultado da resistência imposta pelo país aos invasores.
Militares ucranianos chegaram a dizer nesta segunda que a ofensiva russa diminuiu o ritmo, mas a madrugada foi de mais explosões em diferentes partes do país.
Em Kharkiv, os combates seguem após um domingo de disputas entre os países. Segundo o Ministério da Defesa britânico, a segunda maior cidade do país continua sob controle ucraniano.
Também houve explosões em Kiev, mas o governo ucraniano afirma que a capital apresenta uma situação tranquila há algumas horas, cenário diferente daquele visto nos últimos dias, quando a ofensiva russa cercou a cidade. Ainda assim, o Reino Unido diz que forças de Moscou permanecem a 30 km ao norte e são contidas pelos militares ucranianos que defendem Hostomel.
Os combates continuam ainda em Chernihiv, no norte da Ucrânia, onde um prédio residencial foi atingido por um míssil, o que causou um incêndio. Na região, o aeroporto de Jitomir também foi alvo durante a madrugada, segundo as forças de Kiev. O lançamento teria sido feito da Belarus, apesar de o país ter dito mais cedo que não permitiria ataques a partir do seu território.
O Ministério da Defesa da Rússia afirmou, por sua vez, ter tomado as cidades de Berdianski e Enerhodar, além da usina nuclear de Zaporijchia, segundo a agência de notícias Interfax. As autoridades locais ucranianas relataram ainda combates em Mariupol, mas Kiev nega ter perdido o controle da usina nuclear.
Além do diálogo entre russos e ucranianos, outra conversa aguardada para esta segunda é a do presidente americano, Joe Biden, com aliados dos EUA para "coordenar uma resposta unida", segundo a Casa Branca divulgou na noite de domingo. O governo democrata não deu detalhes sobre quem participaria do diálogo, previsto para as 11h15 em Washington (13h15 em Brasília), mesmo horário em que a Assembleia Geral da ONU debate uma resolução para condenar a invasão russa.
Uma medida do tipo já foi vetada por Moscou no Conselho de Segurança. Assim, na prática, a resolução serviu apenas para que os países mostrassem seu descontentamento com a iniciativa do líder russo, Vladimir Putin, sem gerar ações imediatas. O Ocidente tem adotado diversas medidas para reagir a Moscou, com sanções que incluem a proibição do uso do espaço aéreo por aeronaves do país e a desconexão de bancos russos do sistema internacional de transferências financeiras.
Neste domingo, o G7 ameaçou a Rússia com novas medidas, e o Reino Unido já divulgou sanções contra o Banco Central russo. As críticas aumentaram após Putin colocar suas forças nucleares em alerta — o governo britânico, no entanto, não viu grandes mudanças na postura nuclear russa. Nesta segunda, o chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borell, disse que o bloco não iria se engajar em uma escalada devido à atitude do mandatário russo.
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