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7 vezes em que potências negociaram o futuro de países e territórios sem contar com as populações afetadas

7 vezes em que potências negociaram o futuro de países e territórios sem contar com as populações afetadas

A decisão dos EUA e da Rússia de começar a negociar sobre a Ucrânia sem a participação de Kiev lembra outros eventos históricos do passado, quando potências estrangeiras tomaram decisões sobre o destino de uma nação sem seu envolvimento.

Publicado em 24 de fevereiro de 2025 às 08:45

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Imagem BBC Brasil
Neville Chamberlain, Edouard Daladier, Adolf Hitler, Benito Mussolini e o conde Ciano na Conferência de Munique de 1938. (Getty Images)

Matt Fitzpatrick

A Ucrânia não foi convidada para a reunião-chave entre autoridades dos Estados Unidos e da Rússia na Arábia Saudita na semana passada para decidir como poderia ser a paz no país.

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, afirmou que a Ucrânia "nunca aceitará" qualquer decisão sem sua participação nas negociações para encerrar a guerra com a Rússia.

A decisão de negociar a soberania dos ucranianos sem eles – assim como a tentativa notoriamente desproporcional do presidente dos EUA, Donald Trump, de reivindicar metade da riqueza de minerais raros da Ucrânia como preço pelo contínuo apoio americano – revela muito sobre como Trump vê a Ucrânia e a Europa.

Mas esta não é a primeira vez que grandes potências conspiram para negociar novas fronteiras ou esferas de influência sem a participação das pessoas que vivem nesses territórios.

Essa política de poder autoritária raramente termina bem para os afetados, como mostram estes sete exemplos históricos:

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Representantes dos EUA e Rússia se reuniram em 18 de fevereiro na Arábia Saudita . (Getty Images)

1. A partilha da África

No inverno de 1884-1885, o líder alemão Otto von Bismarck convidou as potências europeias a Berlim para uma conferência onde seria formalizada a divisão de todo o continente africano entre elas.

Nenhum africano esteve presente na conferência, que ficaria conhecida como "A Partilha da África".

Entre outras consequências, a conferência levou à criação do Estado Livre do Congo, sob controle da Bélgica, onde ocorreram terríveis atrocidades coloniais e milhões de pessoas morreram.

A Alemanha também estabeleceu a colônia do Sudoeste Africano (atual Namíbia), onde mais tarde foi perpetrado o primeiro genocídio do século 20 contra povos colonizados.

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Nenhum africano esteve presente na conferência que dividiria a África . (Getty Images)

2. Divisão da Samoa

Não foi apenas a África que foi dividida dessa maneira. Em 1899, a Alemanha e os Estados Unidos realizaram uma conferência e forçaram os samoanos a aceitar um acordo que dividia suas ilhas no Pacífico entre as duas potências.

Isso aconteceu apesar de os samoanos terem expressado seu desejo de autogoverno ou de uma confederação de Estados do Pacífico com o Havaí.

Como "compensação" por não ter obtido Samoa, o Reino Unido recebeu o controle de Tonga, hoje um país independente.

A Samoa Alemã ficou sob domínio da Nova Zelândia após a Primeira Guerra Mundial e permaneceu assim até 1962, quando se tornou independente. Já a Samoa Americana (assim como outras ilhas do Pacífico) continua sendo um território dos Estados Unidos até os dias de hoje.

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Soldados da Nova Zelândia após capturar a Samoa Alemã. (Getty Images)

3. Fim do Império Otomano

Durante o auge da Primeira Guerra Mundial, representantes britânicos e franceses se reuniram para decidir como dividiriam o Império Otomano, com sede na atual Turquia, após o fim do conflito.

Como potência inimiga, os otomanos não foram convidados para as negociações.

O diplomata britânico Mark Sykes e o francês François Georges-Picot redesenharam as fronteiras do Oriente Médio com base nos interesses de seus respectivos países.

Os franceses ficariam com o Líbano e a Síria, enquanto os britânicos assumiriam o controle do Iraque e da Palestina.

O Acordo Sykes-Picot contrariava compromissos assumidos pelo Reino Unido na correspondência Hussein-McMahon, na qual prometia apoiar a independência árabe do domínio turco.

Além disso, o acordo também entrava em conflito com as promessas britânicas feitas na Declaração de Balfour, que apoiava os sionistas na criação de uma pátria judaica na Palestina otomana.

O Acordo Sykes-Picot se tornou a origem de décadas de conflitos e má gestão colonial no Oriente Médio, cujas consequências ainda são sentidas hoje.

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O britânico Mark Sykes e o francês François Georges-Picot redesenharam as fronteiras do Oriente Médio de acordo com os interesses de suas respectivas nações. (Getty Images)

4. O acordo da Tchecoslováquia

Em setembro de 1938, o primeiro-ministro britânico, Neville Chamberlain, e o primeiro-ministro francês, Édouard Daladier, se reuniram com o ditador fascista italiano Benito Mussolini e com o alemão Adolf Hitler para assinar o que ficaria conhecido como o Acordo de Munique.

Os líderes tentaram evitar a propagação da guerra por toda a Europa depois que os nazistas de Hitler fomentaram um levante e começaram a atacar as áreas de fala alemã da então Tchecoslováquia (hoje dividida entre República Tcheca e Eslováquia) conhecidas como os Sudetos. Fizeram isso com o pretexto de proteger as minorias alemãs.

Nenhum tchecoslovaco foi convidado para a reunião.

Muitos ainda consideram a reunião como a "traição de Munique", um exemplo clássico de uma tentativa falha de apaziguar uma potência beligerante com a falsa esperança de evitar a guerra.

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Chamberlain e Hitler em 1938. (Getty Images)

5. Judeus na Europa

Em 1938, 32 países se reuniram em Évian-les-Bains, França, para decidir o que fazer com os refugiados judeus que fugiam da perseguição na Alemanha nazista.

Antes de a conferência começar, Reino Unido e Estados Unidos haviam acordado não pressionar um ao outro para aumentar a cota de judeus que aceitariam em solo americano ou na Palestina britânica.

Embora Golda Meir (a futura líder israelense) tenha participado da conferência como observadora, nem ela nem qualquer outro representante do povo judeu foram autorizados a participar das negociações.

Os participantes em grande parte não conseguiram chegar a um acordo sobre a aceitação de refugiados judeus, com exceção da República Dominicana. E a maioria dos judeus na Alemanha não pôde sair antes que o nazismo desse início ao Holocausto.

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Em 1938, 32 países se reuniram em Évian-les-Bains, França, para decidir o que fazer com os refugiados judeus que fugiam da perseguição na Alemanha nazista. (Getty Images)

6. O pacto entre URSS e Alemanha

Enquanto Hitler planejava sua invasão da Europa Oriental, ficou claro que seu principal obstáculo era a União Soviética. Sua resposta foi assinar um tratado improvável de não agressão com a URSS.

O tratado, que leva o nome de Vyacheslav Molotov e Joachim von Ribbentrop (os ministros de Relações Exteriores soviético e alemão), garantiu que a União Soviética não reagiria quando Hitler invadisse a Polônia.

Ele também dividiu a Europa em esferas nazista e soviética. Isso permitiu que os soviéticos se expandissem para a Romênia e os Estados Bálticos, atacassem a Finlândia e tomassem sua própria parte do território polonês.

Não é de se surpreender que alguns vejam as atuais conversas entre Estados Unidos e Rússia sobre o futuro da Ucrânia como o renascimento desse tipo de diplomacia secreta que dividiu as nações menores da Europa entre as grandes potências na Segunda Guerra Mundial.

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O Pacto Molotov-Ribbentrop, um acordo conhecido como o Tratado de Não Agressão entre a Alemanha e a União Soviética, foi assinado em Moscou no dia 23 de agosto de 1939. (Getty Images)

7. Conferência de Yalta

Com a iminente derrota da Alemanha nazista, o primeiro-ministro britânico Winston Churchill, o ditador soviético Josef Stalin e o presidente dos Estados Unidos Franklin D. Roosevelt se reuniram em 1945 para decidir o destino da Europa pós-guerra.

Essa reunião ficou conhecida como a Conferência de Yalta.

Juntamente com a Conferência de Potsdam, alguns meses depois, Yalta criou a arquitetura política que levaria à divisão da Europa durante a Guerra Fria.

Em Yalta, na península da Crimeia - território ucraniano anexado pela Rússia em 2014 - os "três grandes" decidiram a divisão da Alemanha, enquanto a Stalin também foi oferecida uma esfera de interesse na Europa Oriental.

Isso assumiu a forma de uma série de Estados-tampão controlados politicamente pela URSS na Europa Oriental, um modelo que alguns acreditam que Putin pretende emular hoje.

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O primeiro-ministro britânico Winston Churchill, o ditador soviético Josef Stalin e o presidente dos Estados Unidos Franklin D. Roosevelt se reuniram em 1945 para decidir o destino da Europa pós-guerra. (Getty Images)

*Matt Fitzpatrick é professor de história internacional na Universidade de Flinders, na Austrália.

Este artigo foi publicado no The Conversation. Você pode ler a versão original em inglês aqui.

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