É costume dizer que "uma imagem vale mais que mil palavras". Mas nem sempre o que as imagens mostram é real – nem mesmo entre as fotografias que, aparentemente, retratam a realidade.
Hoje em dia, isso não é tão surpreendente. Afinal, retocar fotografias agora é um costume generalizado e as imagens podem ser manipuladas em questão de minutos.
Mas, antigamente, esta não era uma tarefa fácil. E, mesmo assim, fotografias falsas vêm circulando desde a invenção da tecnologia, no século 19.
Dentre as inúmeras imagens falsificadas nos últimos dois séculos, apresentamos sete das que atingiram mais notoriedade.
Na corrida para aprimorar o processo fotográfico na década de 1830, os franceses Hippolyte Bayard (1801-1887) e Louis Daguerre (1787-1851) se envolveram em uma intensa disputa pelo título de "pai da fotografia".
Quando Daguerre apresentou o primeiro processo fotográfico prático – o daguerreótipo, em 1839 – Bayard respondeu criando uma foto que mostra um homem supostamente afogado que havia se suicidado. Mas, na verdade, é um autorretrato.
A imagem era acompanhada pela seguinte legenda: "O cadáver que aqui veem é o do Sr. Bayard, inventor do processo que acaba de ser demonstrado. Que eu saiba, este engenhoso e infatigável pesquisador vem aperfeiçoando sua descoberta há cerca de três anos".
"O governo, que foi tão generoso com o sr. Daguerre, disse que não pode fazer nada pelo sr. Bayard e o pobre desgraçado se atirou na água, desesperado.”
“Oh, os caprichos da vida humana! Ele está há vários dias no necrotério e ninguém foi reconhecer ou reclamá-lo.”
É claro que Bayard estava vivo. Tudo se tratava de uma montagem artística para chamar a atenção.
Bayard conseguiu ser reconhecido pelo seu trabalho, mas permaneceu à sombra dos outros pioneiros da fotografia – o próprio Daguerre e o inglês William Henry Fox Talbot (1800-1877).
Atualmente, Bayard é mais conhecido como o criador da primeira fotografia falsa.
Em 1861, o americano William Mumler (1832-1884) tirou um autorretrato e, no fundo, apareceu a sombra de uma mulher. Ele considerou sua foto como um erro, mas seus amigos afirmaram que era a primeira foto de um fantasma.
Mumler decidiu então capitalizar o "erro", transformando-se no "otógrafo dos fantasmas". Ele afirmava que conseguia reunir pela última vez, pelo menos pela câmera fotográfica, as pessoas enlutadas e seus entes queridos falecidos - muitos devido à Guerra Civil Americana.
Sua reputação como o homem que podia fotografar fantasmas se espalhou. E, apesar do ceticismo de alguns e das acusações de fraude, muitas pessoas se dispuseram a pagar pelos seus serviços.
Outros fotógrafos tentaram recriar o processo e produzir suas próprias "fotografias espirituais", sem sucesso. Eles só conseguiam atingir aquele resultado usando dois negativos e imprimindo uma única imagem – um processo diferente do inventado por Mumler.
Apesar dos esforços de muitos pesquisadores, ninguém conseguiu descobrir exatamente como Mumler criava suas "aparições".
Uma possível explicação era que ele havia encontrado novas formas de controlar as reações químicas responsáveis pelas fotografias na época.
Duas décadas depois de surpreender os especialistas, o "processo de Mumler", como ficou conhecido, revolucionou a capacidade de reproduzir imagens, permitindo imprimi-las diretamente no papel dos jornais.
Por isso, o processo colaborou para que as fotografias se tornassem onipresentes e também passassem a ser provas da real ocorrência dos fatos. O que é uma grande ironia, a menos que você acredite em fantasmas que possam ser fotografados.
O fotógrafo americano Alfred Stanley Johnson, Jr. (1863-1932) especializou-se em cartões-postais fantasiosos para exaltar a fartura da produção agrícola do Estado de Wisconsin.
Ele criava imagens de produtos e animais de grandes dimensões, acrescentando legendas indicando que aquelas colheitas abundantes vinham de comunidades locais.
Os postais fantasiosos surgiram no início do século 20, quando as pessoas perceberam que imagens fisicamente manipuladas pelos fotógrafos poderiam criar ou fortalecer mitos utópicos sobre uma cidade ou região.
As comunidades rurais, principalmente, produziam essas imagens, esperando que elas servissem para atrair novos habitantes e estimular a prosperidade das localidades.
Os postais fantasiosos de Johnson reafirmaram o mito americano da abundância, que contrariava com frequência a realidade.
Sim, o naturalista, explorador, caçador, escritor, militar e 26º presidente dos Estados Unidos Theodore Roosevelt (1858-1919) aparece na imagem cruzando um rio, montado em um alce gigante.
É uma cena esperada, vinda de Roosevelt. Muitas das suas aventuras na vida real parecem obras de ficção.
Ele sobreviveu a uma tentativa de assassinato, quase morreu explorando a floresta amazônica e tornou-se o primeiro presidente a dirigir um automóvel e a voar de avião. Mas, que se saiba, Roosevelt nunca montou em um alce.
A imagem foi criada pela empresa de fotografias Underwood & Underwood, como parte de uma montagem intitulada "A Corrida pela Casa Branca" – um tríptico humorístico publicado pelo jornal The New York Tribune em 1912.
Nele, três dos quatro candidatos à presidência montavam os animais que identificavam seus partidos.
Roosevelt era candidato pelo recém-criado Partido Progressista, apelidado de Bull Moose ("alce macho"), depois de se gabar por se sentir "forte como um alce".
Em dezembro de 1920, o criador de Sherlock Holmes, Arthur Conan Doyle (1859-1930) acabou dando crédito, sem saber, a um dos maiores enganos do século 20, quando publicou as famosas fotografias das fadas de Cottingley.
A história começou no jardim de uma casa da aldeia de Cottingley, perto de Leeds, na Inglaterra. As fotografias foram tiradas pelas primas Elsie Wright (1901-1988) e Frances Griffiths (1907-1986). Na época, elas tinham apenas 16 e 9 anos de idade, respectivamente.
Com o aval do famoso escritor, a obra das meninas espalhou-se pelo mundo.
Para saber como a mente criadora do superdetetive foi enganada por duas jovens armadas apenas com recortes de papel e alfinetes, é preciso analisar as dores causadas pela Primeira Guerra Mundial. Conan Doyle havia perdido seu filho na guerra e sentia fortes remorsos por tê-lo incentivado a ir para a frente de batalha.
Como muitas outras pessoas no pós-guerra, ele se interessou pela teosofia, um movimento que estudava o mundo espiritual, buscando dimensões alternativas onde a vida pudesse existir.
E, se as fadas existissem e fosse possível fotografar o sobrenatural, este seria um argumento a favor do espiritismo: os entes queridos não teriam partido para sempre com a morte.
Uma revista encomendou ao escritor um artigo sobre o mundo das fadas. Foi quando ele viu as fotos.
Aos olhos atuais, as figuras das fadas são claramente bidimensionais e as fotos, de forma geral, são excessivamente posadas. Mas, se considerarmos a época em que foram tiradas e o fato de terem sido elaboradas por crianças, são imagens de boa qualidade.
Conan Doyle pediu a especialistas em fotografia que examinassem as imagens para definir se eram verdadeiras. E escreveu que, "depois de analisar cuidadosamente todas as possíveis fontes de erro, foi construído um caso prima facie sólido" sobre a sua autenticidade.
O debate sobre as fotos prolongou-se por décadas após a morte do escritor, até 1983, quando Frances e Elsie confessaram que as fotografias haviam sido falsificadas.
Desde o primeiro relato de São Columba no ano 565, sobre um monstro observado sob as águas do Lago Ness, na Escócia, prosseguem até hoje as buscas por Nessie, como é carinhosamente conhecido.
Surgiram ao longo dos anos diversas imagens supostamente comprovando a existência do monstro. Uma delas foi tirada pelo médico Robert Kenneth Wilson (1899-1969) e publicada no jornal britânico Daily Mail em 1934.
Ela é conhecida como a "fotografia do cirurgião", pois o coronel Wilson, que ofereceu a imagem ao jornal, negou-se a associar seu nome a ela. Na verdade, a imagem é de um submarino de brinquedo com uma cabeça esculpida de madeira, idealizada pelo artista Chris Spurling (1904-1993).
Spurling confessou, décadas depois, que a conspiração foi tramada pelo seu sogro, o caçador Marmaduke Wetherell (1883-1939).
O Daily Mail havia contratado Wetherell para encontrar o monstro e foi humilhado em público pelo jornal, depois de apresentar rastros de hipopótamo como prova da existência de Nessie.
O caçador supostamente elaborou a trama para vingar-se da publicação.
Quando o cidadão suíço Billy Meier afirmou, na década de 1970, que tinha provas de que mantinha contato com extraterrestres do aglomerado estelar das Plêiades desde os cinco anos de idade, poucas pessoas acreditaram.
Em 1976, decidido a comprovar sua história, Meier produziu fotografias que pretendiam mostrar óvnis voando sobre os campos suíços.
Suas fotos foram amplamente descartadas como falsificações, mas foram publicadas em um livro de 1979 pelo ex-piloto da Força Aérea Americana Wendelle C. Stevens.
Stevens garantiu que as imagens não haviam sofrido manipulação. Mas outros ufólogos mostraram-se céticos a respeito.
As imagens viriam a ganhar nova vida quando foram incluídas no material publicitário da série de TV americana Arquivo X. Uma delas foi usada como imagem de fundo do cartaz com os dizeres "quero acreditar", exibido no escritório do personagem Fox Mulder, agente especial do FBI, interpretado pelo ator David Duchovny.
Parte do conteúdo desta reportagem foi extraída do artigo “Fake news: 8 of the most notorious photograph hoaxes, from fairies to UFOs” (“Fake news: 8 dos mais conhecidos boatos fotográficos, de fadas até óvnis”, em tradução livre), de Charlotte Hodgman, editora da revista BBC History Revealed.
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