No primeiro debate televisivo entre Donald Trump e Kamala Harris, candidatos à presidência dos Estados Unidos, o ex-presidente voltou a rejeitar, sem apresentar provas, o resultado das eleições de 2020, enquanto Harris buscou defender o legado do governo de Joe Biden na política externa e migratória.
O debate entre o ex-presidente e a atual vice-presidente, produzido pelo canal ABC News, ocorreu na noite desta terça-feira (10/09) em um estúdio no National Constitution Center, na Filadélfia.
Perguntado sobre a eleição de 2020, em que foi derrotado pelo atual presidente democrata Joe Biden, Trump voltou a insistir que teria na verdade vencido a disputa, embora não tenha apresentado evidências disso.
O republicano disse que haveria "muitas provas" de que ele venceu.
"Nossas eleições são ruins, e muitos desses imigrantes ilegais que estão chegando, eles [oposição] estão tentando fazê-los votar", alegou o ex-presidente.
Trump também foi questionado pelo moderador sobre o 6 de janeiro de 2021, quando uma multidão de apoiadores de Donald Trump invadiu o Capitólio dos EUA.
"Eu não tive nada a ver com isso, apenas me pediram [os apoiadores] para fazer um discurso", disse o ex-presidente, defendendo que sua fala na ocasião não fez nenhum apelo à violência.
Já Harris foi pressionada por Trump em diversos momentos sobre o legado do governo Biden, afirmando que este fez pouco para limitar a entrada de imigrantes ao país e que os Estados Unidos "estão morrendo".
Ao falar da imigração, inclusive, o ex-presidente fez uma alegação não comprovada de que imigrantes estariam comendo animais de estimação em Springfield, Ohio. Autoridades de Springfield disseram à BBC Verify (programa de checagem da BBC) que não há "qualquer relato confiável" de que isso tenha realmente acontecido.
Referindo-se à guerra em Gaza, Trump afirmou que, se Harris vencer, Israel "não vai existir em dois anos", alegando que a democrata "odeia Israel". A vice-presidente respondeu que sempre defendeu Israel, mas pediu o fim da guerra e a solução de dois Estados para "reconstruir Gaza".
O republicano também acusou o governo Biden de não conseguir evitar a guerra da Ucrânia, afirmando que a vice-presidente não foi capaz de promover o diálogo entre o país e a Rússia antes da invasão.
Trump disse querer que a guerra acabe, e garantiu ter boa relação tanto com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, quanto o russo, Vladimir Putin. Para ele, os EUA estão gastando muito com a guerra.
"Você não está concorrendo contra Biden, você está concorrendo contra mim", respondeu Harris, que defendeu ter um relacionamento forte com o presidente da Ucrânia.
"Nossos aliados da Otan [Organização do Tratado do Atlântico Norte] estão muito gratos por você não ser mais presidente", disse Harris a Trump. "Caso contrário, Putin estaria sentado em Kiev com os olhos no resto da Europa."
Trump foi confrontado sobre sua gestão da pandemia de covid-19, quando era presidente, e sobre falas recentes colocando em questão a identificação racial de Kamala Harris.
Em julho, o republicano afirmou que só recentemente a democrata teria começado a se identificar como uma mulher negra.
"Não me importa o que ela seja", respondeu Trump no debate.
Já Harris, ao ser questionada sobre o controle de armas nos EUA, afirmou que ela e seu vice, Tim Walz, são "proprietários de armas" e que seu governo não tiraria "as armas de ninguém".
Ao falar de economia, o primeiro assunto do debate, Harris prometeu diminuir o custo da moradia e ajudar jovens famílias e pequenos negócios. Já Trump prometeu impor tarifas a outros países que, segundo ele, "finalmente" pagariam aos EUA "o que fizemos pelo mundo".
Em particular, ele mencionou a China, dizendo que o governo americano recebeu "bilhões" do país asiático com tarifas que permaneceram em vigor, mesmo depois que ele deixou o cargo.
Outro assunto que tomou parte significativa do início do debate foi o aborto, tema trazido pelos moderadores.
Trump acusou os democratas de serem "radicais" quanto ao assunto. O republicano defendeu que, em sua gestão, ajudou a trazer essa decisão aos estados e afirmou acreditar em exceções para casos de estupro e incesto.
Já Harris apontou que Trump nomeou três dos juízes da Suprema Corte que anularam o direito nacional ao aborto, há dois anos.
De acordo com ela, por conta da política de Trump, vários estados aprovaram leis que não trazem exceções para estupro e incesto.
Para muitos americanos, essa foi a primeira oportunidade real de ver a candidata democrata em um palco com visibilidade nacional.
Este foi o primeiro debate presidencial de Harris, e o sétimo de Trump desde que ele concorreu pela primeira vez, em 2016.
Não houve presença do público, e os candidatos não puderam conversar com suas equipes e nem levar anotações escritas previamente.
As pesquisas eleitorais mostram uma disputa bastante acirrada entre os candidatos, principalmente nos sete estados-pêndulo em que a preferência partidária é menos definida do que em outras partes do país.
Os mais recentes dados compilados pelo site 538 sugerem que menos de um ponto percentual separa Kamala Harris e Donald Trump em cinco dos estados: Arizona, Geórgia, Nevada, Carolina do Norte e Pensilvânia.
A vice-presidente está atualmente dois pontos percentuais à frente em Michigan e três em Wisconsin.
Mas cada pesquisa tem uma margem de erro, o que significa que os números podem ser maiores ou menores na realidade. Portanto, é difícil firmar a preferência de fato nesses Estados.
Harris e Trump nunca haviam se encontrado pessoalmente ou falado diretamente um com o outro. Ao se encontrar no estúdio da ABC na Filadélfia, no início do debate, os dois apertaram as mãos.
Na verdade, a única vez em que eles dividiram o mesmo recinto foi quando Harris, como senadora pela Califórnia, assistiu aos discursos sobre o Estado da União de Trump no Capitólio, quando ele era presidente.
Foi um debate com Trump em 27 de junho que catapultou a pressão para que Joe Biden desistisse de ser o candidato democrata à presidência, buscando a reeleição.
O desempenho do presidente colocou em questão suas condições de saúde para assumir um eventual novo mandato.
Em 21 de julho, Biden anunciou sua desistência da candidatura e logo demonstrou apoio ao nome de Harris, que foi confirmada dias depois.
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