Sem doações do governo americano, mas com uma contribuição da cantora Madonna no último minuto, uma campanha global para financiar vacinas e remédios contra o coronavírus quase bateu em três horas a meta estipulada para o final de maio.
A iniciativa, coordenada pela União Europeia, arrecadou 7,4 bilhões de euros (cerca de R$ 44,6 bilhões) para descobrir, produzir e distribuir vacinas e remédios contra o coronavírus (a meta era chegar a 7,5 bilhões de euros em um mês).
> CORONAVÍRUS | A cobertura completa
As doações foram anunciadas pela internet, por dezenas de chefes de governo e diretores de organizações.
A iniciativa foi costurada com o G20 (grupo das 20 maiores economias do mundo) pela presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.
Médica com mestrado em saúde pública, ela encampou uma proposta feita pelo presidente da Academia Nacional de Medicina dos EUA, Victor Dzau, seu amigo desde que ela morou na Califórnia, no final dos anos 1990.
O objetivo da campanha é acelerar a disponibilidade de vacinas, remédios e testes a todos os países do mundo, evitando que descobertas sejam exploradas por uma única empresa ou de um único governo.
Os produtos seriam um "bem global", nas palavras do presidente francês, Emmanuel Macron.
A França é um dos patrocinadores da iniciativa, ao lado de Alemanha, Japão, Noruega, Canadá, Itália, Arábia Saudita (que preside o G20) e Reino Unido, que tem um dos projetos mais avançados de desenvolvimento de vacina, o da Universidade de Oxford.
"A corrida para descobrir a vacina para derrotar esse vírus não é uma competição entre países, mas o esforço compartilhado mais urgente de nossas vidas", disse o primeiro-ministro britânico Boris Johnson.
Em geral, descobertas da indústria farmacêutica são caras, porque exigem investimentos bilionários em pesquisa e desenvolvimento. Macron afirmou que os desenvolvedores receberão "remuneração justa", mas os produtos precisam chegar aos países a preços acessíveis.
A vantagem para os participantes seria evitar a duplicação de esforços, reduzir o risco da pesquisa e desenvolvimento e, se uma vacina viável for descoberta rapidamente, garantir contratos de larga escala e longa duração.
Para os governos, acelerar soluções para a pandemia reduz os danos econômicos das atuais medidas de restrição de contágio.
Atualmente, há mais de 70 vacinas em desenvolvimento apoiados por consórcios públicos, privados e público-privados, segundo a OMS. Ao menos 3 estão em fase de testes clínicos, mas esse tipo de pesquisa é de alto risco e os resultados são incertos.
Quando uma vacina eficiente e segura estiver disponível, será preciso produzi-la em massa e fazê-la chegar a todos as regiões, inclusive as mais vulneráveis.
Na área de medicamentos, mais de 40 desenvolvedores entraram em contato com a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) para aconselhamento científico, a maioria usando remédios atualmente autorizados para outras doenças. Se os estudos clínicos comprovarem sua eficácia, também terão que ser fabricados e distribuídos em larga escala.
Em relação aos testes, os exames para detectar anticorpos ainda apresentam falhas e não foram validados. O financiamento é necessário também para aquisição e implantação, incluindo equipamentos para analisar os resultados.
A presidente da Comissão Europeia disse que os 7,5 bilhões de euros são suficientes apenas para acelerar a procura pela vacina e pelos remédios, e que para fazê-los chegar a todo o mundo será preciso "cinco vezes isso" (a estimativa é que cerca de 40 bilhões sejam necessários, metade deles para vacinação).
O orçamento inicial foi calculado pelo GPMB (Global Preparedness Monitoring Board), órgão independente de monitoramento de respostas a crises de saúde globais.
Os recursos levantados pela campanha devem ser gerenciados por organizações que já trabalham na distribuição de recursos médicos a países mais pobres, como a Coalizão de Inovações em Preparação para Epidemias (Cepi) e a Aliança para Vacinas (Gavi).
Envolvido em uma guerra comercial e geopolítica com a China e num conflito diplomático com a OMS, que ele acusa de favorecer o país asiático, o presidente americano, Donald Trump, não anunciou nenhuma oferta à campanha global. A China prometeu 45 milhões de euros.
Além de não colaborar no esforço comum, o governo americano planeja elevar a produção de produtos médicos no país para reduzir sua dependência de insumos chineses e está patrocinando uma corrida para chegar primeiro à vacina. Neste domingo, Trump disse à TV Fox News que estava "muito confiante" de que uma vacina seria descoberta no país até o final deste ano.
Mesmo sem Trump, a iniciativa contará com investimentos americanos. A Fundação Gates, maior entidade privada de investimento em saúde pública, anunciou a contribuição de US$ 100 milhões.
Madonna doou US$ 1 milhão, anunciou Von der Leyen ao final do evento. A campanha não recebe recursos de pessoas físicas, mas os incentiva a colaborar diretamente com as instituições envolvidas.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta