No segundo dia de julgamento do impeachment de Donald Trump, nesta quarta-feira (10), a acusação iniciou formalmente seus argumentos para tentar provar que o ex-presidente é responsável pela invasão do Capitólio, em 6 de janeiro, num deliberado e violento ataque que teria sido gestado por meses.
Diante do Senado dos EUA, parlamentares democratas - espécie de promotores do processo - apostaram em evidências inéditas, com áudios e vídeos registrados pelas câmeras de segurança do Congresso, e documentos que mostram que os invasores só puderam marchar até Capitólio após o aval de Trump.
O esforço da acusação foi criar uma espécie de linha do tempo para sustentar que o republicano incitou por vários meses a violência de seus apoiadores e facilitou o acesso da multidão ao caminho que culminou no mais brutal ataque ao Congresso americano em 200 anos, numa ação que deixou cinco mortos.
Uma das integrantes da acusação, a deputada democrata Stacey Plaskett foi a responsável por exibir aos senadores a reprodução da licença para os protestos do dia 6 de janeiro que, inicialmente, não permitiam o deslocamento dos manifestantes. "A permissão dizia, sem espaço para dúvidas, que não seria permitido marchar", disse Plaskett diante das telas de TV que mostravam a documentação.
"Só depois que Trump e sua equipe se envolveram no planejamento é que a marcha até o Capitólio aconteceu, em uma direta contravenção à permissão original. Isso não foi coincidência", completou
Com depoimentos fortes, os democratas afirmaram que Trump renunciou a seu papel de comandante-chefe dos EUA e se tornou "incitador-chefe de uma insurreição perigosa".
"As evidências mostrarão que ele [Trump] claramente incitou a insurreição de 6 de janeiro", disse o deputado democrata Jamie Raskin, líder da acusação. "Isso vai mostrar que Donald Trump renunciou ao seu papel de comandante-chefe e se tornou o incitador-chefe de uma insurreição perigosa".
Entre os vídeos inéditos registrados pelo sistema de segurança do Congresso, os senadores assistiram ao exato momento em que o ex-vice-presidente Mike Pence é retirado do plenário e levado para um local seguro junto com sua família. No pavimento inferior, invasores gritavam palavras de ordem contra Pence e ameaçavam matá-lo --o republicano presidia a sessão que certificava a vitória de Joe Biden e se recusou a chancelar qualquer outro resultado, mesmo sob pressão de Trump.
Em outras imagens, um policial do Capitólio identificado como Eugene Goodman é visto correndo, quando passa pelo senador republicano Mitt Romney. Em fração de segundos, consegue evitar que o parlamentar cruze com os invasores, encaminhando-o para o lado oposto do corredor.
Os democratas dizem que a invasão ao Capitólio era previsível para quem estivesse atento à postura de Trump --não só no comício horas antes do ataque, quando ele pediu que a multidão "lutasse como nunca"-- mas muito antes disso.
Por meses, disseram os acusadores, o republicano "cultivou a violência", com discursos e ações que alimentavam mentiras e estimulavam o ódio entre seus eleitores, sob a ideia fantasiosa de que a eleição que levou Biden à Casa Branca havia sido roubada.
Nesta quarta, segundo o jornal The New York Times, procuradores na Geórgia abriram uma investigação criminal contra Trump por sua tentativa de reverter o resultado das eleições no estado. O pedido inclui evidências relacionadas ao telefonema do ex-presidente para o secretário de Estado, Brad Raffensperger, para pressioná-lo a "encontrar" mais votos para mudar o resultado final do pleito.
A estratégia da acusação nesta quarta foi dividir seus argumentos em três partes --provocação, ataque e dano. Na avaliação do deputado Joe Neguse, as falsas alegações de fraude eleitoral ecoadas por Trump "foram a batida do tambor usada para inspirar, instigar, incendiar e irritar" seus apoiadores.
A sessão teve início ao meio-dia (14 horas de Brasília), um dia depois de o Senado decidir, por 56 a 44 votos, que julgar Trump mesmo fora do cargo é constitucional, ao contrário do que alegava a defesa do republicano. A acusação tem um prazo de até 16 horas para apresentar seus argumentos formais contra Trump e, depois, a defesa do ex-presidente terá o mesmo tempo para expor sua tese. Até às 20h, a sessão de quarta ainda não havia terminado. A previsão é que, no início da próxima semana, o julgamento chegue a um veredito, que deve ser de absolvição para Trump.
Isso porque, para que haja condenação, seriam necessários 67 votos dos 100 senadores. Hoje o Senado americano é dividido em 50 votos para os democratas e 50 para os republicanos e, na terça, somente 6 republicanos votaram pela constitucionalidade do julgamento, num indicativo de que 17 dissidentes republicanos para a condenação é um cenário bastante improvável.
Os advogados de Trump devem manter a linha de que o discurso do ex-presidente está protegido pela Primeira Emenda da Constituição dos EUA, que versa sobre liberdade de expressão, e que ele não pode ser responsabilizado pelas ações "de um pequeno grupo criminoso".
A apresentação da defesa na terça, ainda sobre a constitucionalidade do julgamento, foi bastante criticada por analistas, e reportagem do New York Times afirmou que Trump havia ficado irritado com a performance considerada genérica demais, o que foi desmentido pelos seus advogados. O fato é que, neste caso, o desempenho de cada um dos lados será um registro histórico, mas não terá impacto de fato em um resultado que já é dado como certo.
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