A polícia da Alemanha informou nesta quarta-feira (15) que descobriu uma conspiração de grupos antivacina para assassinar o primeiro-ministro do estado da Saxônia, no leste do país. O planejamento do crime acendeu um novo alerta às autoridades alemãs diante dos protestos cada vez mais violentos contra as restrições sanitárias e os planos de vacinação obrigatória.
De acordo com a polícia, os militantes contrários à imunização se articularam em um grupo no aplicativo Telegram com mais de cem membros. As mensagens na plataforma indicam que os membros possuíam bestas e armas de fogo que poderiam ser utilizadas no assassinato do premiê Michael Kretschmer.
A polícia estadual informou ainda que a investigação se concentrou em cinco membros principais do grupo no Telegram. Houve mandados de busca em vários endereços nas cidades de Dresden e Heidenau, onde, de acordo com as autoridades, "a suspeita inicial foi confirmada".
Não ficou claro se algum dos investigados foi detido, mas o comunicado da polícia descreve as ações do grupo como "a preparação de atos violentos que ameaçam o Estado".
A Saxônia está entre os estados da Alemanha com as maiores taxas de infecção por coronavírus e com os menores índices de vacinação. A região também é reduto do partido da ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD) --uma pesquisa do Instituto Forsa apontou que metade dos não vacinados votou na AfD nas últimas eleições.
Nas últimas semanas, os protestos contra as restrições impostas aos não vacinados e contra a vacinação obrigatória para determinados grupos (a imunização será exigida dos profissionais da saúde a partir de 16 de março) têm se tornado mais violentos. Houve um aumento, por exemplo, das manifestações que envolvem algum tipo de ataque a médicos, políticos e jornalistas.
O primeiro-ministro da Alemanha, Olaf Scholz, que assumiu o cargo na semana passada, fez um discurso duro no Parlamento nesta quarta e disse que seu governo não vai aceitar protestos violentos contra as medidas de prevenção.
"Não toleraremos uma pequena minoria de extremistas desinibidos tentando impor sua vontade a toda a nossa sociedade", disse Scholz.
Segundo a emissora alemã ARD, mais de uma dúzia de políticos, meios de comunicação e instituições públicas receberam pedaços de carne embrulhados e cartas com promessas de "resistência sangrenta" contra as medidas.
Em setembro, um centro de vacinação na Saxônia foi alvo de um incêndio criminoso. No mês passado, um grupo de manifestantes se reuniu em frente à casa do ministro do Interior do mesmo estado portando tochas acesas, o que foi visto como uma ameaça pouco velada de violência. Ato semelhante ocorreu no início deste mês em frente à residência do ministro da Saúde.
Para Scholz, "o que existe atualmente na Alemanha é a negação da realidade, as teorias de conspiração absurdas, a desinformação deliberada e o extremismo violento". Em resposta, o premiê prometeu utilizar "todos os recursos do Estado democrático de Direito".
"Sejamos claros: uma pequena minoria em nosso país se afastou de nossa sociedade, de nossa democracia, de nossa comunidade e de nosso Estado, e não apenas da ciência, da racionalidade e da razão", afirmou o sucessor de Angela Merkel.
A operação desta quarta foi o desdobramento de uma investigação iniciada a partir de uma reportagem da emissora pública ZDF. O veículo revelou o conteúdo das mensagens do grupo no Telegram, cujos membros se declaram "unidos por sua oposição à vacina, ao Estado e à política de saúde atual", segundo o Ministério Público.
As mensagens de áudio no grupo antivacina defendiam a oposição às medidas em vigor, "com armas se necessário" e citavam líderes políticos, em particular o premiê Kretschmer. Em entrevista ao jornal Bild, um especialista em segurança do SPD, o partido de Scholz, divulgou um levantamento que aponta que ao menos 15 mil alemães estariam dispostos a recorrer à violência contra as medidas sanitárias.
A Alemanha anunciou no último dia 2 um lockdown parcial no país, que enfrenta alta no número de casos de Covid-19 e registrou recordes de mortes diárias neste mês. As novas regras determinam que aqueles que não receberam as doses do imunizante serão impedidos de acessar quase todos os estabelecimentos, exceto supermercados e farmácias, locais considerados essenciais.
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