A calota polar da Antártica perdeu quase 3 trilhões de toneladas de gelo entre 1992 e 2017, contribuindo com uma elevação de cerca de 7,6 milímetros no nível do mar até o ano passado. A estimativa é de um estudo que combinou dados de 24 levantamentos independentes realizados com ajuda de satélites no período, na mais completa avaliação da variação na massa de gelo da Antártica já feita e que abre edição especial dedicada ao passado, presente e futuro do continente gelado da prestigiada revista científica Nature publicada nesta quarta-feira.
Ainda de acordo com o estudo, o afinamento e colapso de grandes plataformas de gelo da Antártica, principalmente no Oeste do continente, levaram a uma notável aceleração do processo de derretimento da calota polar Sul nos últimos cinco anos. Extensões flutuantes das geleiras continentais, essas plataformas são particularmente vulneráveis ao aumento das temperaturas tanto do oceano quanto do ar da região provocado pelo aquecimento global.
No ano passado, por exemplo, a plataforma Larsen C, a maior das três que existiam no litoral Leste da Península Antártica, desprendeu um gigantesco iceberg com cerca de 5 mil quilômetros quadrados hoje à deriva, e derretendo, no mar. A menor delas, Larsen A, se soltou em 1995 e já derreteu completamente, enquanto a Larsen B teve um colapso parcial do mesmo tipo da C tipo em 2002 e desde então se fragmentou e encolheu rapidamente, devendo desaparecer até o fim desta década.
Já do outro lado da península, localizada no Oeste da Antártica, as plataformas sobre os mares de Amundsen e Bellingshausen também perderam até 18% de sua espessura desde o início dos anos 1990. No total, a área das plataformas de gelo em torno do continente encolheu em cerca de 34 mil quilômetros quadrados desde a década de 1950.
Embora a quebra e derretimento das plataformas de gelo da Antártica não contribuam significativamente para a elevação dos níveis dos oceanos, pois essas massas já estão flutuando na água, seu colapso acelera o deslocamento das geleiras continentais para o litoral, trazendo gelo adicional para o mar que neste caso sim tem grande impacto neste processo.
Assim, o estudo estima que até 2012 a perda de gelo na calota polar Sul se manteve a uma taxa anual de cerca de 76 bilhões de toneladas, com uma contribuição de 0,2 milímetro anual na elevação do nível do mar. A partir de então, no entanto, esta quantidade quase triplicou, atingindo 219 bilhões de toneladas anuais, com uma alta de 0,6 milímetro por ano do nível dos oceanos.
Só no Oeste da Antártica, por exemplo, este ritmo de derretimento subiu de 53 bilhões de toneladas anuais no início dos anos 1990 para uma média de 159 bilhões de toneladas por ano de 2012 a 2017, com a maior parte do gelo vindo das geleiras da Ilha Paine e Thwaites, que perderam sua proteção com retração das plataformas do Mar de Amundsen. Já na Península Antártica, a aceleração foi ainda mais brusca, passando de 7 bilhões de toneladas anuais entre 1992 e 1997 para 33 bilhões de toneladas anuais de 2012 a 2017. Caso todo gelo da Antártica derreta, os cientistas estimam que o nível dos oceanos subiria em cerca de 58 metros, invadindo e inundando vastas extensões do litoral dos países costeiros, justamente as regiões que concentram algumas de suas maiores cidades, como o Rio aqui no Brasil.
- Há muito tempo suspeitávamos que as mudanças no clima da Terra afetariam as calotas polares, e graças aos satélites lançados por nossas agências espaciais agora podemos monitorar sua perda de gelo e a contribuição disso pata o aumento do nível do mar com alta confiabilidade destaca Andrew Shepherd, professor da Universidade de Leeds, no Reino Unido, e um dos líderes do estudo, que contou a contribuição de 84 cientistas de 44 instituições espalhadas pelo planeta. - De acordo com nossas análises, houve um forte aumento na perda de gelo da Antártica na última década, como o continente fazendo o nível do mar subir hoje mais rápido do que em qualquer momento dos últimos 25 anos. Isso deve ser motivo de preocupação para os governos aos quais confiamos a proteção de nossas cidades e comunidades costeiras.
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