A Espanha é um dos países mais afetados pelo coronavírus atualmente. Ao todo, o país já contabiliza 7.340 mortos e 85.195 testes com resultado positivo para a Covid-19. Apenas nas últimas 24 horas, foram 812 mortos. A reportagem de A Gazeta conversou com um brasileiro, que cresceu em Vitória e há sete meses vive em Madrid. Ele contou sobre a rotina de isolamento, que só teve início após o país decretar situação de emergência, no dia 14 de março, e pediu aos brasileiros: "Fiquem em casa".
Nascido em São Paulo, Marcel Canno, de 37 anos, viveu em Vitória desde os 2 anos de idade. Em agosto de 2019 ele mudou-se coma família para Madrid, capital da Espanha, para atuar como Digital Transformation Lead (Líder de Transformação Digital, em tradução para o português). Ao lado da mulher, a empresária Aline Ruiz, 35, e dos dois filhos, Frederico e Joaquim, de 2 e 4 anos, ele não imaginava que viveria no país uma situação de emergência.
Marcel Canno conta que até o dia 13 de março a maioria das pessoas estava trabalhando normalmente na Espanha, tendo apenas preocupações a mais com a limpeza dos locais. Nesse mesmo dia, começou a aumentar o número de casos de coronavírus, fazendo com que escolas fossem fechadas. Já no dia 14, veio o estado de alarme por parte do Governo.
"No dia 12, surgiu o primeiro caso na empresa onde eu trabalho. As pessoas começaram a ver a coisa acontecer mais de perto, porque até então, quando víamos os casos na Itália, ainda parecia algo distante para nós. Passamos a trabalhar em casa, escolas foram fechadas e no dia 14 a quarentena passou a ser efetiva", conta.
A partir daí, a rotina da família mudou completamente. O país só permite sair de casa por motivos emergências, como ir ao hospital ou comprar alimentação. Mesmo assim, apenas uma pessoa pode sair, evitando acompanhantes. Caso não obedeça, a multa é de 100 a 300 euros. Em caso de reincidência, a multa pode chegar a 30 mil euros.
"Meus filhos e eu não saímos há quase 20 dias. Apenas minha mulher vai ao mercado aos domingos à noite, quando não há aglomerações, comprar comida. E tem que ir sozinha, se for com mais alguém, somos multados. Neste domingo tivemos a notícia de que algumas indústrias não essenciais também serão restringidas e fechadas", explicou.
Ele completou que os supermercados cobram cerca de 40 euros para entregar compras no dia seguinte, fora isso, as entregas só podem ser feitas com um prazo de um mês. Outra mudança é o convívio dentro do próprio condomínio: não é permitido estar nas áreas comuns.
"Aqui se pode muito pouco. Você pode sair ou entrar do condomínio, mas passando direto pelos jardins e áreas comuns. Temos que ser criativos o suficiente para inventar mil atividades paras as crianças. Alguns lugares funcionam com delivery , mas o de supermercado não é uma boa opção pelo alto preço para entrega. Ainda é permitido passear com o animal de estimação na rua, porque em Madrid há uma cultura muito forte do animal doméstico. Mas se você estiver na rua sem qualquer motivo, pode ser recolhido pela polícia. É difícil ver pessoas na rua", contou.
E o que, inicialmente, parecia distante para os moradores da Espanha, tornou-se uma grande preocupação com números alarmantes. Apenas nas últimas 24 horas, a Espanha registrou 812 mortos por coronavírus. Ao saber que no Espírito Santo muitas pessoas ainda insistem em ir para a rua sem nenhum motivo emergencial, Marcel fez um apelo e pediu que as pessoas fiquem em casa o máximo que puderem.
"Eu já li bastante sobre o assunto e realmente não há outra saída a não ser ficar em casa. Minha cunhada já pegou coronavírus em São Paulo quando o vírus ainda estava chegando no Brasil e ela ficou super assustada em saber que a realidade brasileira ainda é mascarada. Eu vi o coronavírus chegar na Espanha muito intensamente de um dia para outro e minha sugestão é: fique em casa. Temos que aguentar esses próximos dois meses. E, se possível, aproveitar para descobrir outras coisas com nossos filhos, nossa família e fazer aquilo que queríamos fazer e nunca tivemos tempo", orientou.
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