Os riscos que um planeta cada vez mais quente será capaz de trazer para os peixes dos oceanos e dos rios são muito maiores do que se imaginava até agora, afirmam pesquisadores alemães. Temperaturas mais elevadas tendem a atingir em cheio os embriões e os adultos na fase da desova, justamente as fases do ciclo de vida mais importantes para as populações desses animais.
Tais riscos são, é claro, proporcionais ao aumento da temperatura global que ocorrer até o fim do século. No pior dos cenários um aquecimento médio igual ou superior a 5 grau Celsius em 2100, 60% das espécies de peixes não teriam mais habitats viáveis para seus embriões e adultos em desova. No melhor (com aquecimento até 2 graus Celsius), esse número cai para 10% das espécies, ainda assim o dobro do que se esperava até agora.
As estimativas acabam de ser publicadas na revista Science por Flemming Dahlke e seus colegas do Centro Helmholtz de Pesquisa Polar e Marinha. Eles compilaram informações sobre a tolerância a variações de temperatura de quase 700 espécies de peixes marinhos e de água doce e cruzaram esses dados com as diferentes possibilidades de mudança climática causada pelo homem em escala local.
Até agora, esse tipo de análise privilegiava apenas as condições ambientais das formas adultas dos peixes, uma abordagem que tem um calcanhar-de-aquiles significativo: a maneira como esses vertebrados reagem a mudanças em seu habitat está muito ligada à fase do ciclo de vida em que estão.
Tanto na fase embrionária quanto na de desova, por razões diferentes, a tolerância dos peixes a grandes mudanças ambientais é bem menor, e isso é especialmente verdade no que diz respeito a variações de temperatura. Embriões ainda não têm sistema respiratório plenamente desenvolvido, enquanto peixes na fase reprodutiva gastam tanta energia que suas demandas respiratórias aumentam muito.
Em ambas as situações, variações na temperatura podem levar a capacidade do organismo dos animais ao limite. "Pode ficar simplesmente quente demais ou frio demais para que os peixes consigam respirar", escreve Jennifer Sunday, do Departamento de Biologia da Universidade McGill (Canadá), que comentou o estudo a pedido da Science.
No estudo, Dahlke e seus colaboradores levaram em conta principalmente a variação de temperatura que cada espécie é capaz de tolerar nas diferentes fases de seu ciclo de vida. Nem sempre informações completas estavam disponíveis para todos os tipos de peixe, o que levou, em alguns casos, a extrapolações dos dados com base no parentesco com espécies mais bem estudadas e em informações menos completas (a tolerância a temperaturas máximas, por exemplo). Os dados vieram tanto de pesquisas em laboratório quanto em ambientes naturais.
A maior sensibilidade de embriões e peixes na desova, de qualquer modo, ficou clara. Enquanto essas fases do ciclo da vida parecem aguentar, no máximo, variações de 8 graus Celsius na temperatura, os adultos parecem aguentar flutuações de mais de 20 graus Celsius. Isso significa, por exemplo, que mudanças na temperatura poderiam não afetar durante anos as populações adultas, embora elas estivessem ficando cada vez mais sem filhotes, de forma silenciosa, com o passar do tempo.
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