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As 160 crianças resgatadas da seita judaica Lev Tahor, acusada de tráfico de pessoas e abuso sexual na Guatemala

As 160 crianças resgatadas da seita judaica Lev Tahor, acusada de tráfico de pessoas e abuso sexual na Guatemala

A operação foi realizada após diversas denúncias de menores de idade que conseguiram fugir do local.

Publicado em 23 de dezembro de 2024 às 09:44

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Imagem BBC Brasil
Integrantes da comunidade judaica Lev Tahor nas instalações da Procuradoria-Geral da República da Guatemala. (Reuters)

Autoridades da Guatemala resgataram 160 crianças de uma propriedade pertencente à seita Lev Tahor, um grupo judeu ultraortodoxo acusado de violência sexual contra menores de idade, segundo informações do Ministério do Interior e do Ministério Público.

"A operação permitiu o resgate de 160 menores supostamente vítimas de abusos cometidos por um membro da seita Lev Tahor", disse o ministro do Interior da Guatemala, Francisco Jiménez, após uma busca em imóvel localizado no município de Oratório, Santa Rosa, a cerca de 60 quilômetros do capital, onde a seita foi criada em 2016.

A operação foi realizada após o recebimento de diversas denúncias. Em uma queixa apresentada em 11 de novembro, um membro do Lev Tahor foi acusado de "crimes de tráfico de seres humanos sob a forma de gravidez forçada, abuso infantil e violação", disse o procurador Dimas Jiménez numa conferência de imprensa.

A denúncia foi apresentada por quatro menores de idade que conseguiram fugir do local e descreveram as condições em que se encontravam, segundo a agência de notícias EFE.

A operação contou com a participação de funcionários da instituição Ouvidoria de Direitos Humanos (PGN), agentes da Polícia Nacional Civil (PNC), funcionários da Cruz Vermelha e bombeiros voluntários.

Durante a operação, as autoridades confirmaram que foram localizados "ossos em caixas".

"Não poderemos fornecer mais informações até termos os resultados finais", informaram, em relação à conclusão da investigação.

A operação também contou com o apoio do Departamento de Segurança Interna dos Estados Unidos (DHS), segundo a agência de notícias AFP.

Imagem BBC Brasil
Policiais vigiam o prédio da Procuradoria-Geral da Guatemala depois que os promotores afirmam que as autoridades guatemaltecas resgataram várias crianças. (Reuters)

Esta não é a primeira vez que as autoridades tomam medidas contra a comunidade Lev Tahor. E a polêmica em torno deste grupo religioso sediado na Guatemala e no México vai muito além de suas roupas e normas ultraconservadoras.

Na Guatemala, em 8 de outubro, foi aberto um processo contra o grupo e, em agosto de 2024, houve a tentativa de realizar uma batida no local, mas sem sucesso.

No México, um juiz federal ordenou a prisão de vários líderes do grupo — cuja comunidade está localizado a cerca de 17 quilômetros ao norte da cidade de Tapachula — por suspeita de envolvimento em abuso infantil, após investigação da Procuradoria-Geral Adjunta Especializada em Investigação do Crime Organizado.

Judaísmo ortodoxo

A seita Lev Tahor, cujo nome em hebraico significa "coração puro", foi fundada em Jerusalém na década de 1980 pelo rabino Shlomo Helbrans.

O grupo, que passou dos Estados Unidos e Canadá ao México e Guatemala, tem algumas centenas de membros — entre 250 e 500, segundo estimativas.

O grupo chegou à Guatemala em 2013 e, após diversas batidas policiais e do Ministério Público em suas instalações, mudou-se para a cidade de Oratório em 2016.

As autoridades acreditam que o grupo da Guatemala é formado por 50 famílias, principalmente da Guatemala, dos Estados Unidos e do Canadá.

O grupo pratica muitos dos costumes do hassidismo, uma corrente ortodoxa e mística do judaísmo, mas na sua aplicação são ainda mais rígidos.

Em relação às vestimentas, as mulheres devem estar cobertas com roupas pretas da cabeça aos pés, apenas com o rosto visível, enquanto os homens se vestem de preto, cobrem a cabeça com chapéus e nunca raspam a barba.

A alimentação é baseada em uma dieta que segue as leis da Kashrut, o conjunto de regras bíblicas que estabelecem quais alimentos são adequados (kosher) para os praticantes do judaísmo comerem.

Porém, nisso eles também seguem uma versão mais extrema. A maior parte de suas refeições são caseiras, com a utilização de ingredientes naturais e não processados.

Não comem galinhas, nem ovos de galinha, por charam que estes foram manipulados geneticamente. Eles consomem, entretanto, gansos e seus ovos. Também não comem arroz, cebolinha ou vegetais com folhas, por temor de que tenham insetos.

Imagem BBC Brasil
No grupo, as mulheres devem estar cobertas com roupas pretas da cabeça aos pés, deixando apenas o rosto visível. (Getty Images)

No caso de outros vegetais e frutas, sempre retiram a casca antes de consumir, inclusive do tomate.

Quanto às bebidas, só bebem leite de vaca que eles próprios ordenham e fazem seu próprio vinho.

As crianças, por sua vez, não podem comer doces comprados em lojas. Seus doces, portanto, devem se limitar ao consumo de chocolate caseiro ou de frutas, nozes e sementes.

Sua relação com a tecnologia também é extremamente limitada, pois evitam o uso de aparelhos eletrônicos, incluindo televisão e computadores.

Apesar de ser um grupo religioso judaico, sua posição política é contrária ao sionismo, devido ao receio de que a fé judaica seja substituída pelo nacionalismo secular no Estado de Israel.

Após a operação, a comunidade judaica na Guatemala emitiu um comunicado no qual se desassociava da seita e dava o seu "apoio" às autoridades locais nas suas operações.

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