Dois jornalistas foram esfaqueados nesta sexta-feira (25) enquanto faziam uma pausa no trabalho, perto do antigo escritório do jornal satírico Charlie Hebdo, em Paris, alvo de um ataque terrorista em 2015.
De acordo com o primeiro-ministro da França, Jean Castex, as vítimas estão fora de perigo. Inicialmente, o premiê informou que havia quatro feridos, mas o número foi corrigido posteriormente pela polícia.
Dois suspeitos, um paquistanês e um algeriano, foram detidos pela polícia. O caso está sendo investigado por uma unidade antiterrorismo, embora as circunstâncias do crime ainda não estejam claras.
Uma operação mobilizou os agentes, que instalaram um cordão de segurança ao redor do antigo prédio do jornal após um pacote suspeito ter sido achado. Mais tarde, a polícia descartou a hipótese de explosivos.
Autoridades pediram à população que a área fosse evitada, e o metrô de Paris fechou linhas na região. O vice-prefeito da cidade, Emmanuel Gregoire, escreveu em uma rede social que a polícia estava caçando um indivíduo "potencialmente perigoso".
"Eu estava no meu escritório. Ouvi gritos na rua. Olhei pela janela e vi uma mulher que estava deitada no chão e levou uma pancada no rosto com o que possivelmente era um facão", disse uma testemunha à rádio Europe 1. "Eu vi um segundo vizinho no chão e fui ajudar."
O ministro do Interior, Gérald Darmanin, disse à rede de televisão France 2 que o ataque é "claramente um ato de terrorismo islâmico". "É a rua onde ficava o Charlie Hebdo, é o modo de operar dos terroristas islâmicos. Está claro, sem dúvida alguma, que é um novo ataque sangrento contra nosso país."
Testemunhas ouvidas pela agência de notícias Reuters disseram que o ataque parece ter sido aleatório e que um dos suspeitos, portando uma "grande faca de açougueiro", atingiu uma das vítimas em frente a um mural que serve como memorial às vítimas do atentado ao Charlie Hebdo.
Em 7 de janeiro de 2015, um ataque ao jornal deixou 12 mortos, incluindo alguns dos chargistas mais célebres da França. Depois disso, a Redação se mudou, e os novos endereços são mantidos em sigilo.
As vítimas, de acordo com os relatos, trabalham em uma agência de notícias localizada na mesma rua e estavam fazendo uma pausa para fumar. A região, para o premiê francês, é um "lugar simbólico".
Nas redes sociais, Castex expressou solidariedade às pessoas atacadas e a seus familiares e colegas de trabalho. Ele também agradeceu aos profissionais de saúde que socorreram os dois jornalistas e às forças de segurança pela intervenção "com frieza, coragem e profissionalismo".
"O governo está determinado a combater o terrorismo com todos os seus meios", disse ele a jornalistas no local do ataque, junto com o ministro do Interior e a prefeita de Paris, Anne Hidalgo.
Hidalgo, no Twitter, classificou o crime como um "vil ataque terrorista" cujo alvo, segundo ela, é a liberdade de expressão. "Devemos permanecer vigilantes e mobilizados para defender este pilar da nossa República e proteger os nossos cidadãos", escreveu a prefeita.
Desde o início deste mês, 14 pessoas estão sendo julgadas em um tribunal de Paris pelo suposto apoio dado aos autores do ataque ao Charlie Hebdo, mortos pela polícia após o atentado.
Na véspera do julgamento, o jornal satírico republicou as caricaturas do profeta Maomé que transformaram o semanário em alvo de jihadistas.
"Nunca descansaremos. Nunca renunciaremos", justificou Laurent Riss Sourisseau, diretor do jornal. "O ódio que nos atingiu continua presente, desde 2015. Ele teve tempo de se transformar, de mudar de aspecto para passar despercebido e continuar, sem ruído, sua cruzada impiedosa."
A representação de profetas é proibida pela corrente sunita do Islã, e ridicularizar ou insultar Maomé é tradicionalmente visto como passível de pena de morte.
Nos últimos anos, a França foi alvo de uma sequência de ataques orquestrados por fundamentalistas islâmicos. Além do atentado ao Charlie Hebdo, atiradores mataram 130 pessoas em novembro de 2015 na casa de shows Bataclan e em outros locais nos arredores de Paris.
Em julho de 2016, um militante islâmico avançou com um caminhão sobre uma multidão que comemorava o Dia da Bastilha, em Nice, e matou 86 pessoas.
Os atentados serviram de combustível para o recrudescimento do discurso anti-Islã para parte dos franceses mais conservadores. Nas redes sociais, usuários compartilham fotos vazadas dos suspeitos pelo ataque acompanhadas de uma série de ofensas xenofóbicas.
Sem mencionar diretamente os ataques desta quinta, a deputada Marine Le Pen, líder da ultradireita francesa, disse que "a covardia política", no âmbito das normas sobre imigração na França, não é mais aceitável. "Quantas vítimas teríamos evitado controlando estritamente nossa política de imigração, expulsando sistematicamente os clandestinos, perseguindo o islamismo?", escreveu ela.
7.jan.2015
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