Em uma eleição legislativa com pouca margem para surpresa, já que a maior parte da oposição boicotou o processo, o que chamou atenção neste domingo (6), na Venezuela foi a alta abstenção, uma mistura de desânimo e protesto silencioso contra o governo de Nicolás Maduro. Em Caracas, as filas para colocar gasolina eram maiores que a de eleitores nos centros de votação, o que abriu caminho para que o chavismo retomasse o controle do Parlamento.
Durante todo o dia, os centros eleitorais de todo o país ficaram vazios. Maduro, que tem alta rejeição, transferiu o domicílio eleitoral para Forte Tiúna, em vez de votar em um bairro popular de Caracas, como aconteceu em anos anteriores. "A quantas anda a fraude de Maduro", tuitou o líder opositor Juan Guaidó, postando uma imagem de uma seção eleitoral vazia. "Fracasso."
Observadores ligados à oposição afirmaram que o comparecimento ficou abaixo de 10%. No início da noite, a ausência de eleitores fez o governo atrasar em uma hora o fechamento das urnas. "Decidimos manter as os centros de votação abertos em razão das filas", justificou Leonardo Morales, vice-presidente do Conselho Nacional Eleitoral (CNE).
O governo exaltou a votação como a "festa eleitoral" que marca uma virada na política venezuelana. A Assembleia Nacional vinha sendo controlada pela oposição, que surpreendeu o chavismo, em 2015, ao eleger a maioria dos deputados. Para não conviver com um Legislativo antagonista, Maduro criou uma Assembleia Constituinte, dominada pelo Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) - que deverá ser extinta assim que os novos deputados assumirem, no dia 5 de janeiro.
"Tivemos paciência e sabedoria para esperar o dia de tirar das nossas costas esta Assembleia Nacional nefasta, que trouxe a praga das sanções e do sofrimento", disse Maduro, após votar em Forte Tiúna.
Com o controle do Parlamento, Maduro ganha poder internacional para captar investimentos e tentar tirar o país da crise. O economista Victor Álvarez, ex-ministro de Indústrias do governo de Hugo Chávez, acredita que a nova Assembleia "muda o marco legal". "É o primeiro passo para que as novas leis aprovadas tenham reconhecimento internacional", afirmou.
Álvarez avalia que "um Estado sem os recursos da estatal petrolífera PDVSA e sem fundos para levantar a produção e reativar a economia deve se abrir a investimentos privados". De acordo com ele, a participação privada poderia incentivar privatizações na Bacia do Orinoco e em empresas que exploram outros recursos naturais, como ferro, ouro e diamantes.
O analista Dimitris Pantoulas acredita que a eleição de hoje encerrou ciclos importantes. "Um deles foi a derrota do chavismo, em 2015. O outro é o de Juan Guaidó, quando a oposição tinha legitimidade e reconhecimento internacional", afirmou. Apesar da desconfiança de EUA e Europa, segundo Pantoulas, "Maduro passa a ter muito mais poder" com a legalidade da nova Assembleia.
"A dinastia de Maduro, com seu filho Nicolasito (Nicolás Maduro Guerra) e a mulher Cília Flores, reforça a figura presidencial. Com isso, os EUA têm de negociar diretamente com ele, e não através de terceiros. É provável que a relação com Washington, nos próximos anos, seja mais horizontal", disse.
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