O avanço da Rússia sobre o território da Ucrânia estagnou nesta quinta (10), dia em que a guerra entra na terceira semana, mas os bombardeios em áreas estratégicas do país não cessaram. Tropas russas seguem pressionando Mikolaiv, cidade-chave para acessar Odessa, importante território na costa do mar Negro, e Mariupol, área portuária palco de um ataque a uma maternidade na quarta (9).
Enquanto o governo ucraniano renova as tentativas de abrir corredores humanitários para a retirada de civis - calcula-se que mais de 35 mil tenham sido retirados na véspera, mesmo sem um cessar-fogo completo -, ocorreu a primeira reunião entre os principais diplomatas dos países desde que a invasão russa teve início.
Serguei Lavrov, chanceler russo, e seu homólogo ucraniano, Dmitro Kuleba, encontram-se em Antália, na Turquia, país-membro da Otan (aliança militar ocidental) que ofereceu-se para sediar negociações.
Após três rodadas de conversas frustradas entre delegações dos dois países na Belarus, o encontro entre os principais diplomatas do conflito, como indicavam declarações prévias, não culminou em acordos para o fim da guerra, tampouco para a mitigação do conflito.
Kuleba, que levou para a mesa da reunião mais um pedido de cessar-fogo e de respeito aos corredores humanitários, disse posteriormente que não houve progresso. Lavrov, por sua vez, voltou a atacar o Ocidente e a reivindicar as demandas de desmilitarização da Ucrânia e distanciamento do país da Otan, cartas que Moscou coloca na mesa reiteradamente em
O encontro entre os diplomatas ocorreu um dia após Kiev acusar Moscou de bombardear uma maternidade e hospital infantil em Mariupol - o Kremilin nega o ataque e o descreve como fake news. Pelo menos três pessoas, entre elas uma criança, foram mortas no local, segundo informou à rede britânica BBC o vice-prefeito da cidade. Outros 17 ficaram feridos, incluindo gestantes.
Ainda que não tenha assumido o controle de Mariupol, a defesa russa alega que suas tropas tomaram vários bairros da cidade, informação que não pôde ser confirmada de forma independente. A pasta diz, ainda, que o saldo de destruição deixado em território ucraniano inclui mais de 2.900 instalações de infraestrutura militar.
A Ucrânia retomou os esforços de retirada de civis nesta quinta, com o anúncio da abertura de sete corredores humanitários. Moradores já teriam começado a deixar a cidade de Sumi, no nordeste, de acordo com autoridades locais. Foi de lá que a maior parte dos 35 mil ucranianos que conseguiram ser retirados na quarta partiu, além da capital, Kiev, e de Energodar, em cifras menores.
Organizações internacionais seguem denunciando o agravamento da crise humanitária. O Comitê Internacional da Cruz Vermelha anunciou que enviou mais equipes para a Ucrânia após descrever o cenário como "cada vez mais terrível e desesperador". A organização também enviou uma equipe de descontaminação do território, para ajudar os civis a limparem a artilharia de guerra não detonada.
Também nesta quinta, a diplomacia russa anunciou que está deixando o Conselho da Europa, órgão voltado para a promoção dos direitos humanos e que reúne 47 países-membros. O país já havia sido advertido na instância, que suspendeu a participação russa após o início da guerra. Como justificativa, a chancelaria acusou países-membros de serem hostis com Moscou.
O número de refugiados da guerra ultrapassa 2,4 milhões, de acordo com estimativas das Nações Unidas, que projeta que outros 4 milhões devem deixar a Ucrânia nos próximos seis meses. A maior fatia tem como destino a Polônia, onde já entraram pelo menos 1,43 milhão de pessoas, segundo a última contagem da guarda da fronteira.
Dos 2,4 milhões, pelo menos 1 milhão é formado por crianças, de acordo com o Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância). E muitas das vítimas do conflito também são crianças. Pelo menos 37 teriam morrido até aqui, e outras 50 estariam feridas. Ao todo, o saldo de mortos ultrapassava 516, de acordo com estimativas reconhecidamente subestimadas de quarta.
Em outra frente diplomática, a vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, viaja à Polônia nesta quinta para conversar com o premiê Mateusz Morawiecki e o presidente Andrzej Duda. O ponto central da conversa deve girar em torno de divergências entre os países sobre como armar a Ucrânia para combater a invasão russa.
Na véspera, os EUA rejeitaram a oferta feita pela Polônia de transferir sua frota de caças MiG-29 para uma base americana na Alemanha e, daí, para reforçar a Força Aérea da Ucrânia, pedido que havia sido feito pelo presidente ucraniano, Volodimir Zelenski.
Kamala também deve debater com as autoridades polonesas maneiras para que os membros da Otan implementem sanções econômicas coordenadas a Moscou. Ela deve, ainda, encontrar-se com refugiados que estão no país e debater um pacote de assistência humanitária e de segurança à Ucrânia e à vizinhança.
Líderes do Congresso americano chegaram a um acordo bipartidário na quarta para alocar US$ 13,6 bilhões (R$ 68 bilhões) em ajuda emergencial para a Ucrânia.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta