O agricultor Francisco José García de Zúñiga olha desolado para os campos repletos de oliveiras em sua fazenda na região de Andaluzia, sul da Espanha. É época de colheita, e o barulho das máquinas usadas para sacudir as árvores liberando as suculentas azeitonas pode ser ouvido à distância.
"Esta parece ser mais um safra ruim que vamos colher, e digo isso sendo otimista”, ele comenta. “Tivemos dois anos seguidos de seca, 2022 e 2023, dois anos de pouca colheita."
A fazenda de Garcia fica na província de Jaén, no coração da produção de azeite no país e onde se localiza também a cooperativa Nuestra Señora del Pilar, um dos maiores centros de produção de azeite do mundo.
A Espanha é o maior produtor mundial de azeite, respondendo por cerca de 70% de todo azeite consumido pelos países da União Europeia e por 45% do consumo mundial.
A falta de chuva que tem ocorrido nesta e em outras províncias espanholas produtoras de azeitonas, tem portanto um enorme impacto no volume da produção e em consequência no preço do azeite no mercado mundial.
"Quando a Espanha tem problemas a oferta global é diretamente afetada", diz García. "Se cai o estoque global porque a Espanha está produzindo menos e a demanda continua a mesma, o preço do azeite sobe, não tem como ser diferente. É a lei da oferta e procura.”
Só este ano, os preços do azeite na Espanha subiram mais de 70%, isso sobre uma base de 2022 que já tinha sido inflacionada por elevadas altas em relação a 2021.
Uma garrafa de um litro de azeite extra virgem está custando em torno de R$ 50 em um supermercado espanhol considerado barateiro.
Apesar da magnitude da sua capacidade de produção, na safra 2022-2023, a cooperativa Nuestra Señora del Pilar processou apenas 24 milhões de quilos de azeitonas, um dos menores volumes registrados até hoje.
Este ano, a cooperativa espera uma leve melhora na produção com o total processado atingindo entre 30 e 35 milhões de quilos, o que ainda é bem abaixo da média.
Centenas de produtores da província de Jaén processam suas azeitonas na cooperativa.
Segundo o presidente da cooperativa, Cristóbal Gallego Martínez, o grande aumento no preço do combustível, eletricidade e de fertilizantes verificado nos últimos dois anos tem contribuído para a elevação do preço do azeite.
Mas, ele acrescenta, o maior responsável pela atual disparada de preços do produto é a falta de chuva.
"Nosso clima aqui é mediterrâneo, que se caracteriza por períodos de estiagem intercalados com outros de chuvas de intensidade forte e média. Agora, estamos passando pelo período de estiagem, mas a seca atual tem se estendido muito mais do que o normal”, diz ele.
Neste cenário de mudanças climáticas, o senso comum de que uma colheita ruim é sempre seguida por uma boa colheita já não prevalece, e os fazendeiros já não podem incluir estas previsões em seus planos.
Segundo dados do recente relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) para o meio ambiente, as temperaturas médias em países do Mediterrâneo estão subindo 20% mais rapidamente do que a média global.
O calor excessivo tem forçado províncias do sul da Espanha, incluindo a região da Andaluzia, a adotar medidas rigorosas para maior controle da utilização de água.
Gallego Martínez acrescenta que tanto os períodos de seca como os de chuva têm sido mais intensos e ele espera que o governo implemente medidas para compensar as distorções no clima com, por exemplo, investir em sistemas de irrigação.
Tradicionalmente com uma grande demanda por azeite, o mercado espanhol é diretamente sensível às alterações de preços como a alta que tem ocorrido agora pela queda substancial na produção.
De acordo com números do governo espanhol, as vendas no mercado interno de azeite caíram 10% no ano passado, com os consumidores trocando o produto por óleos mais baratos, como o óleo de girassol.
A elevação de preços do azeite na Espanha tem repercutido no mercado europeu. A Espanha exporta 65% do azeite que produz, mas as vendas ao exterior têm sido diretamente afetadas pela diminuição da produção.
Responsável por quase metade de todas as exportações de azeite do mundo, a Espanha acaba tendo papel decisivo no estabelecimento dos preços no mercado internacional.
Se em alguns países o preço do azeite de oliva ainda não disparou é porque ainda estão sendo comercializados estoques de lotes importados meses antes da grande elevação do preço do azeite espanhol.
Apesar de o Brasil ser um grande consumidor de azeite, a produção local atende a apenas 1% da demanda interna. O país é o terceiro maior importador de azeite do mundo, atrás apenas de Estados Unidos e União Europeia.
Em consequência, o preço do azeite no mercado brasileiro é sensível às oscilações externas e já vinha sendo afetado pela diminuição das exportações mundiais.
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