As tropas da ditadura bielorrussa usaram spray de pimenta e granadas de efeito moral contra manifestantes que fizeram neste domingo (27) o 50º dia seguido de protestos, em várias cidades do país.
Para driblar a repressão crescente, o movimento antiditadura recorre a trajetos alternativos, pulverização de protestos e uma "guerrilha de graffitis" nas paredes das cidades.
Eles querem a renúncia de Aleksandr Lukachenko, 66, que venceu sua sexta eleição à Presidência em 9 de agosto. O pleito é considerado fraudado pelos opositores e vários países europeus.
O ditador nega irregularidades e voltou a dizer que não vai abrir mão do governo, em seu discurso de posse, nesta quarta (23).
"Não tenho o direito de abandonar os bielorrussos, que me confiaram não só o curso do Estado mas também o seu destino, o futuro dos seus filhos", afirmou.
Ele também agradeceu às forças de segurança por "permanecerem leais ao país num período tão difícil para a Belarus e preservarem o bom senso diante da desorientação da sociedade".
Nos 50 dias de repressão da ditadura às manifestações já houve mais de 12 mil detenções, de acordo com anúncios do Ministério do Interior. Neste final de semana, foram 150 no sábado e "até 200" no domingo.
Ao menos cinco pessoas morreram nos primeiros dias de protesto, e há cerca de 500 casos de tortura documentados por entidades de direitos humanos.
Há também 250 presos políticos, entre eles a flautista Maria Kalesnikava, uma das líderes da principal candidatura de oposição a Lukachenko, e o advogado Maksim Znak, que completou o novo dia de greve de fome, contra as prisões políticas que ele afirma serem ilegais.
Znak, que já perdeu seis quilos, foi incorporado à "guerrilha de graffitis" que protestam contra Lukachenko em muros e paredes de Minsk, outras cidades bielorrussos.
Um dos mais famosos mostra os DJs Kirill Galanov e Vlad Sokolovsky, presos e condenados por tocar a música "Peremen" (mudanças), que se tornou um hino dos opositores, num evento público. Ameaçados de processo criminal, os DJs partiram para a Lituânia no fim de agosto.
A imagem dos dois DJs bielorrussos erguendo o braço em apoio à oposição estampa vários lugares de Minsk e é refeita toda vez que o regime manda funcionários apagá-la. Um deles já foi apagado e refeito mais de dez vezes, segundo moradores de Minsk.
O grafitti dos DJs foi reproduzido como sinal de apoio aos protestos em outras capitais europeias, como Bruxelas e Paris. Neste domingo, o presidente da França, Emmanuel Macron, afirmou que "é óbvio" que Lukachenko deve deixar o cargo.
Em entrevista ao Journal du Dimanche, Macron também se disse "impressionado com a coragem dos manifestantes" na Belarus.
"Eles sabem dos riscos que correm ao se manifestarem todos os fins de semana e, no entanto, estão pressionando o movimento para fazer a democracia ganhar vida nesse país que há tanto tempo está privado dela", afirmou.
No sábado, em discurso à assembleia geral da ONU, o ministro das Relações Exteriores, Vladimir Makei, disse que "países ocidentais querem semear caos e anarquia" na Belarus.
Segundo o ministro bielorrusso, sanções que União Europeia, Reino Unido, EUA e Canadá estudam impôr aos responsáveis por fraude eleitoral e repressão violenta "terão o efeito oposto e são prejudiciais para absolutamente todos".
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