O presidente dos EUA, Donald Trump, e seu rival democrata, Joe Biden, subiram o tom da campanha eleitoral americana. Ambos tentam dar uma resposta à violência que tomou conta dos protestos contra o racismo em algumas cidades americanas, culpando um ao outro pelo caos e pela morte de três manifestantes.
Nesta segunda, 31, em discurso em Pittsburgh, Biden condenou os saques e a destruição de propriedades durante os protestos, mas acusou Trump de incitar a violência. "O presidente há muito tempo abdicou de qualquer liderança moral", disse o democrata. "Ele não consegue parar a violência, porque por anos ele a incentivou."
O discurso marcou um rompimento com o tom moderado adotado por Biden na convenção democrata, quando ele nem sequer falou o nome do presidente. Ontem Trump foi citado 32 vezes. Em uma delas, o democrata se dirigiu diretamente a ele. "Trump, você quer falar sobre o medo? Você sabe do que as pessoas têm medo na América? Elas têm medo de pegar Covid, têm medo de ficar doentes e morrer. E isso por sua culpa."
Biden parece ter cedido à pressão de setores do partido que pediam para que ele fosse mais agressivo. A resposta dos dois candidatos à violência registrada nos protestos antirracismo, especialmente em Estados-chave, como Wisconsin, virou prioridade das duas campanhas.
Por isso, apesar dos apelos das autoridades estaduais e municipais, Trump confirmou que vai hoje a Kenosha, no Estado de Wisconsin, onde um policial disparou sete vezes à queima-roupa pelas costas contra o negro Jacob Blake, na semana passada - ele sobreviveu, mas está paralisado da cintura para baixo. "Eu não sei o que o presidente pretende fazer aqui. Não precisamos disso agora", afirmou Mandela Barnes, vice-governador de Wisconsin.
Os tiros em Blake desataram uma nova onda de protestos contra a violência policial em várias partes do país. Em Portland, onde um militante foi morto no sábado, as manifestações ocorrem há 95 dias seguidos, desde a morte do negro George Floyd, asfixiado por um policial branco, em maio, na cidade de Minneapolis.
Em uma dessas manifestações, em Kenosha, no dia 25, o jovem Kyle Rittenhouse, de 17 anos, apoiador de Trump, descarregou seu fuzil AR-15 e matou dois manifestantes que protestavam contra o racismo. A violência foi imediatamente condenada por vários líderes políticos, mas muitos republicanos saíram em defesa do atirador, transformado em "herói" por ter defendido a cidade da ação de "anarquistas".
O próprio Trump vem evitando criticar Rittenhouse. Ontem, na Casa Branca, o presidente novamente rejeitou condenar o adolescente e justificou a reação do atirador, sugerindo que ele teria agido em legítima defesa. "Ele (Rittenhouse) estava tentado se livrar deles (manifestantes). Ele caiu e foi violentamente atacado", disse Trump.
No fim de semana, houve mais uma morte, quando uma caravana de 600 carros com simpatizantes de Trump de chegou a Portland para demonstrar apoio ao presidente. Eles entraram em confronto com moradores e ativistas do Black Lives Matter, grupo que luta contra o racismo nos EUA. Na confusão, Aaron Jay Danielson, um militante de extrema direita, morreu baleado.
Desde então, Trump prestou uma homenagem a Danielson no Twitter e vem postando mensagens que parecem incentivar mais violência - entre elas um vídeo em que seus apoiadores atiram contra manifestantes em Portland usando armas de tinta e spray de pimenta.
Atrás nas pesquisas, a estratégia do presidente e dos republicanos é retratar Biden como um defensor dos grupos radicais de esquerda e um candidato fraco em matéria de segurança pública. "Acabei de assistir ao que Biden tinha a dizer", afirmou o presidente. "Ele está acusando a polícia bem mais do que os baderneiros, anarquistas, agitadores e vândalos, que ele jamais poderia culpar para não perder o apoio da esquerda radical."
Ontem, Biden, de 77 anos, que sempre foi um político moderado, reagiu. "Deixe-me perguntar uma coisa a vocês: eu pareço um socialista radical com uma queda por arruaceiros?", perguntou. "Eu quero um país seguro, livre do crime, livre dos saques, livre da violência racial e livre de mais quatro anos de Donald Trump."
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