Em entrevista coletiva no dia 8 de julho, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden disse ter certeza de que a saída das forças americanas do Afeganistão não teria momentos de desespero como ocorreu no Vietnã, em 1975. À época, helicópteros pousaram no topo da embaixada americana para resgatar funcionários da representação diplomática.
Para o presidente americano, pouco mais de um mês antes de o Talibã retomar o poder no país, o grupo radical "não é o Exército do Vietnã do Norte e nem é comparável em termos de capacidade". "Em nenhuma circunstância você verá pessoas sendo retiradas do telhado da embaixada dos EUA no Afeganistão."
Neste fim de semana, no entanto, a embaixada dos EUA em Cabul foi fechada e passou a operar numa área do aeroporto da cidade protegida por militares americanos. Agora, o terminal aéreo vive cenas de caos, com afegãos tentando embarcar em voos para o exterior. Imagens mostram a pista tomada por multidões, e algumas pessoas chegaram a subir na parte externa de aeronaves prestes a decolar.
As declarações de Biden na entrevista coletiva de julho foram repetidas diversas vezes em canais de TV americanos neste domingo (15), dia em que o Talibã chegou enfim à capital, Cabul. Agora, o democrata é criticado pelas previsões erradas e por ter submergido neste momento, já que ainda não falou publicamente sobre a vitória do grupo radical.
O presidente, que havia planejado tirar alguns dias de férias, manteve algumas atividades. No domingo, a Casa Branca divulgou uma imagem de Biden participando de uma reunião virtual sobre o Afeganistão a partir de Camp David, casa de campo presidencial a cerca de 100 km de Washington. Segundo a CNN, ele permaneceria no local até quarta (18), mas os planos devem mudar. Agora, o democrata voltará para a Casa Branca nesta segunda e se pronunciará sobre a situação às 16h45, no horário de Brasília.
Biden defende que os EUA foram ao Afeganistão para capturar os terroristas responsáveis pelos ataques de 11 de setembro de 2001, e não para resolver os problemas locais. "Permanecer significaria que os soldados americanos teriam baixas. Homens e mulheres americanos no meio de uma guerra civil. E teríamos corrido o risco de ter de enviar mais soldados de volta ao Afeganistão para defender as tropas remanescentes", disse no mês passado. "Eu me oponho a ter forças permanentes no Afeganistão. Nenhuma nação jamais unificou o Afeganistão. Impérios foram lá e não fizeram isso", acrescentou.
No sábado (14), pouco antes da queda definitiva do governo afegão, reafirmou a posição ao dizer que "mais um ou cinco anos de presença militar dos EUA não fariam diferença se os militares afegãos não puderem conter seu próprio país". Apesar das promessas de apoio americano, o presidente Ashraf Ghani achou melhor deixar o país, sob a justificativa de que quer evitar um banho de sangue.
No domingo, Biden foi criticado por republicanos e ex-dirigentes militares durante a gestão de Barack Obama. Ryan Crocker, ex-embaixador no Afeganistão, disse que a saída demonstrou uma "total falta de coordenação e planejamento pós-retirada". David Petraeus, ex-diretor da CIA, classificou a situação de catastrófica e um enorme revés para a segurança nacional. "Se você tivesse mantido o status quo, com 2.500 ou 3.500 militares em solo conduzindo operações contra o terrorismo, esta catástrofe não teria que acontecer", disse Liz Cheney, deputada republicana de Wyoming, à TV ABC.
A saída das forças americanas do Afeganistão havia sido acordada pelo governo anterior, de Donald Trump. Em setembro de 2020, o republicano iniciou uma negociação com o Talibã, apontando para a retirada das tropas americanas do Afeganistão em 2021, quase 20 anos após o começo da guerra.
Biden deu sequência às tratativas e, em 14 de abril, anunciou que colocaria fim à operação no Afeganistão até a simbólica data de 11 de setembro de 2021. Em seguida, antecipou o prazo para 31 de agosto, o que encorajou o Talibã a avançar rapidamente. A retirada dos militares tem apoio da maioria dos americanos, segundo pesquisa divulgada pelo site The Hill: 73% dos entrevistados apoiam a saída das tropas do território afegão, enquanto 27% se dizem contrários à medida.
O levantamento, realizado no início de julho, reforça o suprapartidarismo do tema: 81% dos democratas são favoráveis ao retorno dos militares, e 61% dos republicanos defendem a mesma posição. Entre os eleitores que se dizem independentes, 77% apoiam a ordem de acabar com a mais longa guerra dos EUA.
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