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Biden, um conhecedor do Brasil e da América Latina

Biden, um conhecedor do Brasil e da América Latina

Analistas e diplomatas dos dois lados concordam que caberá ao governo brasileiro mostrar abertura ao diálogo e moderação para acessar o novo presidente

Publicado em 7 de novembro de 2020 às 16:45

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O presidente eleito Joe Biden caminha em frente a um painel solar em Plymouth, New Hampshire, nos EUA
O presidente eleito Joe Biden caminha em frente a um painel solar em Plymouth, New Hampshire, nos EUA. (Reuters/Folhapress)

Joe Biden chega à Casa Branca como um conhecedor do Brasil e da América Latina. Há mais de 40 anos na vida pública norte-americana, ele é reconhecido como um político conciliador e dedicado ao relacionamento internacional. Liderou, como vice-presidente, a diplomacia de Barack Obama na América Latina. Presidiu e foi membro do Comitê de Relações Exteriores do Senado dos EUA por 12 anos. E dá nome a um centro de pesquisa na Universidade da Pensilvânia, o Centro Penn Biden para a Diplomacia e o Engajamento Global.

Em 2013, o democrata atuou diretamente na relação com o Brasil. Numa visita a Brasília, Biden ajudou a abrir caminho para uma visita de Estado que Dilma Rousseff faria, a contragosto de próceres petistas, aos Estados Unidos para melhorar o patamar das relações. Dilma, no entanto, abortaria a viagem. O motivo foi a revelação de que comunicações da presidente e da Petrobras haviam sido bisbilhotadas pela Agência de Segurança Nacional (NSA) norte-americana.

Coube a Biden voltar ao Brasil, durante a Copa do Mundo de 2014, para apaziguar a relação. Eles já haviam conversado em Santiago meses antes, na posse da presidente chilena Michelle Bachelet. O pretexto era assistir ao jogo em que os Estados Unidos venceram Gana por 2 a 1 na Arena das Dunas, em Natal (RN).

UM "SEDUTOR", SEGUNDO DILMA

Mas Biden não tinha assim tanto interesse no jogo - ele chegou atrasado ao estádio e perdeu o primeiro gol do atacante Dempsey, antes do primeiro minuto. Logo depois do futebol com a neta e um sobrinho, decolou a Brasília. No dia seguinte, conversou a sós longamente com Dilma. Biden usou da simpatia que conquistou - a presidente disse que ele era "sedutor" - para tentar convencê-la de que Obama ordenou uma "revisão imediata" no programa de vigilância. E que mudaria a abordagem com o Brasil.

Na ocasião, Biden trouxe um presente sob medida para a presidente. O vice de Obama entregou a Dilma um lote de documentos até então secretos dos arquivos dos EUA sobre violações na ditadura militar. Os papéis reforçariam a coleta de provas da Comissão Nacional da Verdade, para irritação de oficiais brasileiros.

Após superar o choque de espionagem, Biden voltaria a Brasília em janeiro de 2015, por ocasião da posse de Dilma no segundo mandato. Numa carta de agradecimento com linguagem diplomática, a presidente registrou que os "laços de amizade e apreço" uniam não só os dois povos, mas "a nós pessoalmente".

Dois anos depois, Biden foi encarregado de receber em Washington o presidente Michel Temer (2016-2018), empossado com o afastamento de Dilma, e dar o sinal de reconhecimento americano a sua legitimidade na presidência. No auge da Operação Lava Jato, Biden criticou escândalos de corrupção no continente e respaldou a transição de poder. Ele afirmou que "o Brasil seguiu sua Constituição para navegar um momento econômico e político difícil".

RELAÇÃO DE REPUBLICANOS E DEMOCRATAS COM O PLANALTO

 O embaixador Paulo Roberto de Almeida, ex-diretor do Instituto Brasileiro de Relações Internacionais (Ipri), estudioso da história da diplomacia e crítico da atual gestão do Itamaraty, destaca que as diferenças entre republicanos e democratas são mais de "aparência" na relação com o Planalto.

Ele observa que houve períodos áureos e baixos nas relações entre os dois partidos. "Os Estados Unidos são um império, buscam segurança em primeiro lugar e abertura em segundo. Mas, para eles, abertura é quando outros países se abrem para os investimentos e o comércio, os produtos americanos", analisa o embaixador, também adversário de gestões petistas no Itamaraty. "Depois eles impõem restrições, espionam a qualquer um, inimigos ou aliados."

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A relação com Brasília sempre passou, nas gestões democratas afeitas ao multilateralismo, pela posição de influência regional do Brasil na América do Sul. Atualmente, Jair Bolsonaro vive em conflito político com a Argentina de Alberto Fernández e a Bolívia, de Luis Arce, ambos de esquerda. De imediato, ele tentará se reconectar aos socialistas bolivianos, ao enviar o chanceler Ernesto Araújo à posse de Arce. Analistas e diplomatas dos dois lados concordam que caberá a Bolsonaro mostrar abertura ao diálogo e moderação para acessar Biden.

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