Quase seis meses após indicar o ex-prefeito Marcelo Crivella para a embaixada do Brasil na África do Sul, o governo Jair Bolsonaro retirou oficialmente o pedido de designação junto às autoridades sul-africanas.
A indicação de Crivella - bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus - dependia do aval do governo da África do Sul, o que não ocorreu. O chamado pedido de agrément, consulta formal em que o Brasil pediu autorização de Pretória para nomear Crivella embaixador, foi ignorado pelo governo liderado por Cyril Ramaphosa.
Na linguagem diplomática, um agrément que fica sem resposta significa que o escolhido não foi aceito pelo país anfitrião.
Diante disso, o Brasil comunicou a chancelaria sul-africana que decidiu retirar o pedido de agrément. De acordo com interlocutores, não foi enviado pedido de agrément para um novo embaixador.
A escolha de Crivella para chefiar a missão diplomática na África do Sul foi costurada como um agrado de Bolsonaro à Igreja Universal. O grupo religioso vinha se queixando do pouco empenho do governo Bolsonaro na defesa dos interesses da Universal em países africanos, principalmente em Angola.
A Universal angolana vive um racha. Religiosos locais se rebelaram e passaram a acusar lideranças brasileiras de crimes financeiros.
De acordo com interlocutores, a resistência da África do Sul em dar luz verde para Crivella tem relação com a situação em Angola e Moçambique. As autoridades dos dois países fizerem chegar a Pretória o receio que o ex-prefeito do Rio transformasse a missão diplomática num posto avançado da Universal no território africano.
Ao longo dos últimos meses, foram feitas tentativas diplomáticas de convencer os sul-africanos a aceitar Crivella. Sem sucesso.
Em 7 de outubro, numa chamada telefônica mantida fora da agenda, Bolsonaro fez um apelo direto a Ramaphosa pela aceitação de Crivella.
O líder sul-africano deu uma resposta evasiva e disse que a decisão sobre Crivella caberia ao seu ministério das Relações Internacionais e Cooperação.
O posicionamento de Ramaphosa foi lido no Itamaraty como o mais forte sinal de que o nome de Crivella enfrentava fortes objeções.
Com a designação bloqueada, a embaixada do Brasil na África do Sul pode permanecer sob o comando de um encarregado de negócios. Isso porque o embaixador Sérgio Danese, que comanda o posto, foi designado como novo chefe da missão diplomática do Brasil em Lima (Peru).
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta