Em meio a metas não cumpridas e ajustes técnicos nas estratégias de teste e rastreamento, Boris Johnson, primeiro-ministro do Reino Unido, vai anunciar neste domingo (10) o relaxamento progressivo das regras de confinamento impostas em 23 de março.
A saída do lockdown deve começar por atividades ao ar livre e normas mais claras para permitir a volta de funcionários a empresas. O relaxamento deve ser ampliado ao longo do mês de maio, enquanto o governo tenta colocar de pé seu projeto de testar todos os suspeitos de ter Covid-19 (doença causada pelo coronavírus) e rastrear e isolar os contatos.
Considerada essencial para permitir um relaxamento com menos risco de um repique nos casos do novo coronavírus, a estratégia tem patinado por falhas técnicas, baixa qualidade dos testes e falta de treinamento.
Boris havia anunciado que faria 25 mil testes por dia em meados de abril e 100 mil no final do mês; nesta terça, 84.806 exames foram realizados.
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Nesta quarta (6), a meta não cumprida foi dobrada por Johnson, que prometeu chegar a 200 mil testes diários até o fim de maio.
Na primeira audiência no Parlamento depois da escolha do líder do Partido Trabalhista, Keir Starmer, o premiê conservador foi cobrado devido à propagação do vírus em asilos . "É algo de que me arrependo amargamente, e trabalhamos muito há semanas para diminuí-la", disse ele.
No Reino Unido, como em ao menos outros sete países europeus, idosos que moram em instituições representam parcela significativa dos mortos na pandemia.
Starmer também questionou Boris sobre o fato de o Reino Unido ter superado nesta terça (5) a Itália em número de mortos, registrando o maior total entre os países europeus: 29.427 mortes, contra 29.315 na Itália. "Como diabos chegamos a isso?", perguntou o líder do principal partido de oposição.
O premiê afirmou que as estatísticas são "assustadoras", mas que é impossível fazer comparações precisas -países têm adotados critérios diferentes no registro de casos e mortes. Em relação à população, o Reino Unido ocupa o quarto lugar na Europa, com 43,3 mortes por 100 mil habitantes (atrás de Bélgica, Espanha e Itália).
Boris Johnson foi um dos líderes europeus que mais resistiram a adotar medidas de confinamento. No dia 13 de março, 31 países da Europa já haviam suspendido as aulas, mas o premiê britânico disse não ver justificativa para isso.
Três dias depois, veio a recomendação de que maiores de 70 anos ficassem em casa por quatro meses; eventos públicos foram proibidos e os britânicos foram orientados a trabalhar de casa sempre que possível.
A essa altura, a estratégia de apelar ao bom-senso e defender a liberdade individual já fazia água, e Boris começou a elevar o tom do discurso depois da divulgação de um estudo prevendo até 250 mil mortes se o Reino Unido não apertasse as restrições.
Em pronunciamento, o primeiro-ministro avisou que, se as pessoas continuassem a lotar as ruas, seria preciso adotar medidas mais drásticas.
Os apelos foram inúteis, o que levou o governo a fechar pubs, restaurantes, clubes e casas noturnas no dia 20 e a suspender aulas e decretar quarentena no dia 23, 53 dias depois do aparecimento do primeiro caso do novo coronavírus no país.
Três dias depois, Boris começou a sentir sintomas de Covid-19 e, em 27 de março, anunciou, em uma rede social, que havia tido teste positivo para o novo coronavírus e se isolaria por sete dias, tornando-se o primeiro chefe de governo de um dos principais países do mundo a contrair a doença.
Com sintomas persistentes, foi internado no dia 5 de abril e ficou três noites na UTI (Unidade de Terapia Intensiva), onde recebeu oxigênio. Deixou o hospital no dia 12 e voltou ao trabalho na noite do domingo, 26 de abril.
Após mais de 40 dias de confinamento, o Reino Unido registra nesta semana uma taxa de contágio de 0,84, o que significa que cada 100 pessoas infectadas transmitem o vírus a outras 84, reduzindo a velocidade de crescimento da epidemia.
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