O aviso de que a América Latina havia se tornado o novo epicentro global da pandemia do novo coronavírus prenunciou o que se tornaria realidade dias depois, quando em 31 de maio, o Brasil se tornou o país onde a doença mais cresce.
O país lidera a média semanal de novos casos da Covid-19 desde que ultrapassou, em maio, os Estados Unidos, que ainda é o país com maior número de casos acumulados, mais de 2 milhões.
Na época, os EUA aparentavam uma desaceleração, mas nos últimos dias voltou a registrar aumento e vem se aproximando do Brasil, como mostra o levantamento considerando o consolidado de novos casos a cada sete dias. Os dados são da Agência da União Europeia para Controle e Prevenção de Doenças, que reúne números de todo o planeta.
"São dois países com péssima direção. O que o governo Trump fez lá e o governo Bolsonaro fez aqui, só podia terminar nisso mesmo. São países que foram negacionistas", diz Paulo Lotufo, epidemiologista da Faculdade de Medicina da USP.
Segundo o médico, pelo panorama atual, não há algo que indique que o cenário mudará para os dois países. Pelo contrário. No caso estadunidense, por exemplo, há uma forte tendência de crescimento, "não é só uma voltinha".
A distância dos dois países mais atingidos pela pandemia para os demais é grande. Segundo os registros mais recentes, o Brasil tem média de 31,1 mil novos casos, os Estados Unidos 28,3 mil e a Índia, em terceiro lugar, 13,8 mil.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o panorama do Brasil, que ultrapassou um milhão de casos no total e tem mais de 50 mil mortos, pode ser ainda pior.
Segundo a entidade, a taxa de resultados positivos pela quantidade de testes feitos para a doença (31%) é alta, o que pode indicar que a epidemia está subestimada. "Nos países que aplicam grande número de testes, a porcentagem de positivos fica perto de 5%", afirmou o diretor-executivo Michael Ryan.
"Eu estou vendo o seguinte: em termos de casos novos, os Estados Unidos rapidamente vão voltar a ultrapassar o Brasil, [uma vez que] lá a população é maior", analisa.
Segundo Lotufo, da USP, um dos grandes equívocos está em se considerar a estabilidade como vitória, uma vez que é necessária uma queda no número de novos casos para que se possa começar a afrouxar a quarentena.
Ele dá o exemplo de São Paulo. O estado registrou pela primeira vez um decréscimo no número de novos casos semanais em meio à reabertura econômica. No entanto, a diferença foi apenas de três registros. Nesta terça-feira (23), por outro lado, voltou a anunciar um recorde de mortes.
Desde 11 de junho, o governador João Doria (PSDB), após ameaçar lockdown, passou a permitir, gradualmente, o afrouxamento da quarentena em diversas regiões do estado, inclusive na capital. Recentemente, precisou reverter a autorização para lugares.
Nos Estados Unidos, 12 estados tiveram recorde de casos da Covid-19. Isso aconteceu após o país adotar medidas de relaxamento nas restrições. A Casa Branca já se prepara para uma segunda onda do vírus.
Enquanto assessores e oficiais do Estado admitem temor com as notícias, o presidente Donald Trump afirma, apesar dos números, o vírus "irá embora" do país em breve.
"Eu posso dizer é que a Rússia está realmente em descenso, a Índia está em ascensão, o Chile também em ascensão, mas não deve ir muito longe porque a população é pequena. Mas a Índia tem grandes chances de passar Brasil e Estados Unidos", entende Lotufo.
A Índia está em terceiro lugar no levantamento desde 6 de junho, mas tem mais de 1,3 bilhão de habitantes, enquanto Brasil e Eua tem 209 milhões e 328 milhões, respectivamente. Chile e Rússia vem na sequência, nessa órdem.
Epicentro do coronavírus após a China, a Europa tem tentando, sempre alerta, realizar o processo de afrouxamento de suas quarentenas.
A Alemanha, confinou seu distrito mais populoso (Gütersloh, no estado da Renânia do Norte-Vestfália) após registrar uma explosão de casos de coronavírus. Mais de 1.500 dos 7.000 funcionários de um frigorífico na região tiveram teste positivo para a Covid-19. Todos os funcionários foram colocados em isolamento.
Lisboa, em Portugal (um dos países em estágio mais avançado da desquarentena), deu um passo atrás no processo de reabertura. Na cidade, o limite para reuniões de pessoas foi novamente reduzido para no máximo 10. No resto do país, continua valendo a regra mais leve, que permite reuniões de 20 pessoas.
Além disso, lojas, cafés e bares terão que fechar às 20h em toda a região metropolitana da capital portuguesa. Segundo o premiê, António Costa, o objetivo da medida é coibir festas e outras aglomerações que colocam em risco a saúde pública.
Já a Espanha deixou o estado de emergência no último domingo (21) e começou a reabrir suas fronteiras externas.
O país agora está aberto para membros de todas as nações da União Europeia, exceto de Portugal, no que deve representar uma volta importante da indústria do turismo espanhola, responsável por mais de 12% da economia.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta