Um anúncio marcado para as 12h desta sexta-feira (26) definirá se a província e a cidade de Buenos Aires terão um novo "lockdown" devido ao rápido aumento de casos na região metropolitana da capital do país.
Até a noite desta quinta (25), o presidente Alberto Fernández, o governador da província de Buenos Aires, Axel Kicillof - ambos kirchneristas -, e o chefe de governo da cidade de Buenos Aires, Horacio Rodríguez Larreta - do partido do ex-presidente Mauricio Macri -, ainda não tinham chegado a um acordo.
No começo de maio, a Argentina havia começado a flexibilizar a quarentena obrigatória imposta em 20 de março. Em mais de dez províncias, onde quase não há mais a circulação do vírus, a vida praticamente voltou ao normal, inclusive com a reabertura do comércio, de bares e restaurantes e do turismo interno.
Porém, o que mais preocupa as autoridades é que, dos 49.851 casos reportados até agora no país, de acordo com dados compilados pela Universidade Johns Hopkins, 97% estão na província de Buenos Aires e na cidade de Buenos Aires, que tem status de província.
As cifras de infecções quadruplicaram desde 10 de maio, quando bancos e um maior número de setores do comércio - shoppings seguem fechados, e restaurantes atuam apenas por meio de delivery - tiveram permissão para reabrir.
Essa flexibilização incluiu, ainda, a autorização para que crianças saíssem de casa uma vez por semana, acompanhadas de um adulto e durante uma hora. Atividades físicas ao ar livre também foram liberadas, entre 20h e 8h, para evitar os horários comerciais.
Fernández, isolado na residência de Olivos após ministros e funcionários terem recebido diagnóstico de coronavírus, quer voltar a um estrito "lockdown" por pelo menos 15 dias, a partir de segunda-feira (29).
Só que a decisão envolve também Kicillof, favorável à retomada da quarentena dura, e Larreta, para quem a economia local não resistirá à medida. Ele também argumenta que a população está num nível tão alto de esgotamento que o movimento pode resultar num agravamento das tensões sociais.
Nos últimos fins de semana, houve protestos pelo fim da quarentena. Alguns deles foram organizados por apoiadores da oposição, que vê nas medidas atos autoritários e deu ao governo o apelido de "infectadura".
Outros atos são compostos por trabalhadores informais, que recebem auxílio do governo, muitas vezes insuficiente para cobrir todas as necessidades.
As notícias econômicas não são boas. Cerca de 30% dos restaurantes e bares da cidade já fecharam suas portas para sempre. Outros 40% tentam sobreviver, mas dizem estar prestes a entrar na mesma situação. A queda do comércio chegou a 98%, e a pressão dos lojistas sobre Larreta é grande.
Além disso, o Fundo Monetário Internacional informou na quarta (24) que a Argentina deve ter uma queda de 10% do PIB em 2020. E, para piorar o quadro, as quatro primeiras tentativas de renegociar a dívida externa de US$ 65 bilhões (R$ 348,48 bilhões) com parte dos credores não frutificaram.
Para financiar os gastos de contenção dos efeitos da Covid-19, o governo vem emitindo dinheiro, o que causa mais inflação. Há, também, a proibição, por decreto federal, de demitir, suspender ou reduzir pagamentos de funcionários durante a pandemia, e uma onda de demissões no futuro aparece no horizonte.
Já há consenso, entretanto, em controlar ainda mais a mobilidade urbana. Só poderão usar o transporte público profissionais de saúde e trabalhadores do setor de comércio de alimentos, por exemplo.
E haverá mais impedimentos para que pessoas que vivem na província de Buenos Aires entrem na cidade.
Por outro lado, a escolha de que comércios e indústrias recém-abertos deverão fechar novamente está em discussão desde segunda-feira com a equipe de infectologistas. A decisão deve ser anunciada na sexta.
Larreta insiste em seguir com a abertura comercial, porém com protocolos estritos, e é contra o fim dos passeios com crianças e as saídas para atividades físicas.
Já o presidente quer continuar privilegiando a saúde em detrimento da economia. Mas, nesta semana, seu secretário de Assuntos Estratégicos, Gustavo Béliz, o aconselhou a avaliar as demais variantes, já que sua aprovação popular caiu de 70% para 61%, de acordo com pesquisa do instituto Poliarquía, e, no exterior, já há um clima de desconfiança diante da dificuldade de o país fechar um acordo com credores.
A postura populista ao impor as restrições, segundo Béliz, estaria gerando clima de desconfiança entre investidores. Junto com a projeção desastrosa do PIB pelo FMI, o risco-país aumentou, e agências como Fitch e S&P rebaixaram a nota da Argentina.
Para completar, as ações argentinas nas bolsas também vêm caindo. Todas essas variantes estão sobre a mesa para Fernández, Kicillof e Larreta.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta