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Cessar-fogo em Gaza: as perguntas ainda sem resposta sobre o acordo

Cessar-fogo em Gaza: as perguntas ainda sem resposta sobre o acordo

Israel e Hamas concordaram com um cessar-fogo em Gaza após 15 meses de guerra. Mas ainda há perguntas que permanecem sem resposta neste plano de três fases.

Publicado em 16 de janeiro de 2025 às 05:44

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Imagem BBC Brasil
Pessoas em Gaza (na foto, à esquerda) e Israel (à direita) comemoraram o acordo de cessar-fogo. (Anadolu/Getty Images)

Israel e Hamas chegaram a um acordo de cessar-fogo para encerrar 15 meses de guerra em Gaza, conforme anunciado nesta quarta-feira (15/01).

O primeiro-ministro do Catar, Mohammed bin Abdul Rahman Al Thani, disse que o acordo entraria em vigor no domingo (19/01), desde que seja aprovado pelo gabinete israelense. O Catar mediou o acordo.

A guerra começou quando o grupo armado palestino Hamas atacou Israel em 7 de outubro de 2023, matando cerca de 1,2 mil pessoas e levando 251 reféns para Gaza.

Desde então, Israel iniciou uma ofensiva em Gaza que deixou mais de 46 mil palestinos mortos.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, disse que o acordo "interromperia os combates em Gaza, aumentaria a assistência humanitária muito necessária aos civis palestinos e reuniria os reféns com suas famílias após mais de 15 meses em cativeiro".

Chegar a esse ponto levou meses de negociações indiretas meticulosas, principalmente porque Israel e Hamas desconfiam completamente um do outro.

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Menina palestina observa sua casa destruída após um ataque aéreo israelense contra o campo de refugiados de Al Maghazi; acordo de cessar-fogo prevê volta de pessoas deslocadas a suas casas e bairros. (Mohammed Saber/EPA)

O Hamas queria um fim completo para a guerra antes de libertar os reféns, algo que era inaceitável para Israel.

O cessar-fogo irá efetivamente pausar a guerra enquanto seus termos são executados.

No entanto, não está claro se isso significará que a guerra acabou para sempre.

Um dos principais objetivos da ofensiva israelenses tem sido destruir as capacidades militares e o poder político do Hamas.

Embora Israel tenha atacado o grupo severamente, o Hamas ainda tem alguma capacidade de operar e se reagrupar.

Libertação de reféns e prisioneiros

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Protesto pede retorno de reféns; Israel quer volta de pessoas sequestradas como parte de qualquer acordo de paz. (EPA)

Também não está claro quais reféns estão vivos ou mortos, ou se o Hamas sabe o paradeiro de todos.

Por sua vez, o Hamas exigiu a libertação de alguns prisioneiros que Israel diz que não soltará.

Acredita-se que isso inclua aqueles envolvidos nos ataques de 7 de outubro.

Também não se sabe se Israel concordará em sair da zona-tampão até uma data específica, ou se sua presença lá terá tempo indeterminado.

Qualquer cessar-fogo provavelmente será frágil.

Os acordos entre Israel e o Hamas que interromperam conflitos anteriores foram abalados por escaramuças e acabaram rompidos.

O cronograma e a complexidade do cessar-fogo atual indicam que até mesmo um pequeno incidente pode se transformar em uma grande ameaça à paz.

Como funcionaria o cessar-fogo?

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Menino no campo de refugiados de Khan Yunis, em Gaza; mais de 46 mil pessoas morreram no território palestino, segundo ministério gerido pelo Hamas. (Bashar Taleb/AFP/Getty Images)

Espera-se que o cessar-fogo aconteça em três etapas (confira abaixo cada uma delas).

Embora ambos os lados tenham até agora concordado com ele, o gabinete de segurança e o governo de Israel ainda precisarão aprovar o acordo antes que ele possa ser implementado.

Fase um: soltura de reféns e prisioneiros

Referindo-se ao acordo, o porta-voz do governo israelense David Mencer disse que 33 reféns — que devem ser mulheres, incluindo soldadas, crianças, idosas, doentes e feridas — seriam trocados por prisioneiros palestinos.

Três reféns seriam libertadas imediatamente, disse um funcionário palestino à BBC. O restante da troca ocorreria ao longo de seis semanas.

Durante esta fase, as tropas israelenses começariam a se retirar das áreas povoadas em Gaza — mas não se sabe quanto tempo isso levará.

Israel também permitiria que pessoas que precisaram se deslocar para o sul de Gaza começassem a retornar para o norte.

Quase todos os 2,3 milhões de habitantes de Gaza tiveram que deixar suas casas por causa de ordens de evacuação israelenses, ataques e combates no solo.

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(BBC)

O primeiro-ministro do Catar confirmou que serão intensificadas as entregas de ajuda humanitária para todas as partes de Gaza, bem como a reconstrução de hospitais.

A quantidade exata de ajuda a ser enviada é outro detalhe que ainda precisa ser confirmado.

Uma autoridade palestina disse que negociações detalhadas para o segundo e terceiro estágios do acordo começariam no 16º dia do cessar-fogo.

Se, quando e como as tropas israelenses deixarão o Corredor Filadélfia na fronteira com o Egito ainda precisa ser acordado.

Fase dois: Mais libertações

Os detalhes das fases dois e três serão encaminhados durante a implementação da fase um, disse o primeiro-ministro do Catar.

A fase dois envolve negociar "um fim permanente da guerra", disse o presidente dos EUA, Joe Biden, em uma entrevista coletiva para anunciar o acordo.

Se as negociações durarem mais de seis semanas, o cessar-fogo continuará, disse Biden.

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Homenagens a mortos por militantes do Hamas no festival de música Supernova, em Israel, em 7 de outubro de 2023. (Reuters)

Acredita-se que os reféns homens restantes — soldados e civis — seriam libertados em troca de mais prisioneiros palestinos.

Israel disse que concordou em libertar centenas de prisioneiros palestinos, enquanto uma autoridade palestina falou em mais de 1.000.

Cerca de 190 presos palestinos estão cumprindo penas de 15 anos ou mais.

Uma autoridade israelense disse à BBC que os condenados por assassinato não seriam libertados na Cisjordânia ocupada.

Também haveria uma retirada total das tropas israelenses de Gaza e o início de uma "calma sustentável".

Isso foi definido em propostas anteriores como "uma cessação permanente de operações militares e ofensivas".

Fase três: reconstrução de Gaza

O terceiro e último estágio envolveria a reconstrução de Gaza — algo que pode levar anos.

O presidente Biden disse que, nesta fase, os palestinos que precisaram migrar poderão retornar às suas localidades em todas as áreas de Gaza.

Os restos mortais dos reféns que faleceram também retornarão às suas famílias, disse ele.

Trump pode levar crédito pelo cessar-fogo?

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Em rede social, Trump reivindicou para si crédito pelo acordo de cessar-fogo. (Reuters)

Donald Trump, que tomará posse para seu segundo mandato na Casa Branca em 20 de janeiro, reivindicou nas mídias sociais crédito pelo acordo de cessar-fogo.

Ele disse que o "acordo épico de cessar-fogo só poderia ter acontecido como resultado de nossa vitória histórica em novembro".

Em Doha, o primeiro-ministro do Catar respondeu a perguntas da imprensa após anunciar o acordo.

A primeira foi por que o acordo foi fechado agora e se a pressão do novo presidente dos EUA fez alguma diferença.

"Vimos medidas tomadas recentemente pelos EUA que levaram a este momento", respondeu Mohammed bin Abdul Rahman Al Thani.

Ele acrescentou que a colaboração americana nos últimos dias ultrapassou a questão dos mandatos e revelou um claro compromisso de chegar a um acordo.

Como o acordo vai ser aplicado?

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O primeiro-ministro do Catar, Mohammed bin Abdulrahman, disse que o acordo entraria em vigor no domingo (19/01) — a depender de anuência israelense . (Getty Images)

O gabinete israelense ainda precisa aprovar o acordo em uma votação. No entanto, é esperado que ele o faça, apesar das objeções de alguns membros da direita radical que fazem parte do governo.

Questionado sobre quanta confiança tem de que o acordo progredirá além da fase um, Mohammed bin Abdul Rahman Al Thani disse que os negociadores têm fé, mas tudo depende das partes envolvidas.

"Esperamos que as partes cumpram o acordo", declarou.

Questionado sobre quais mecanismos estão em vigor para garantir que ambos os lados cumpram o que foi negociado, ele disse que três países — EUA, Egito e Catar — monitorariam a implementação do acordo.

Quem vai governar Gaza?

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Manifestantes chamando a atenção para a situação dos reféns israelenses estavam fazendo uma vigília em Tel Aviv quando o acordo foi anunciado. (Reuters)

Quais partidos governarão Gaza após o fim da guerra continua sendo uma das grandes perguntas sem resposta.

A Autoridade Palestina (AP) deve ser o único poder governante em Gaza após a guerra, disse o primeiro-ministro palestino Mohammad Mustafa na quarta-feira (15/01), antes do acordo de cessar-fogo ser anunciado.

Israel se recusa a permitir que o Hamas continue governando o território, mas também rejeita que Gaza seja governada pela AP — que administra partes da Cisjordânia.

E Israel quer manter o controle da segurança em Gaza após o fim do conflito.

No entanto, o país está trabalhando com os EUA e os Emirados Árabes Unidos em um plano para uma administração provisória governar Gaza enquanto a AP é reformada.

A nova gestão assumiria então como governo permanente.

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